Um expositor de rebuçados que originou uma viagem no tempo
Ao entrar na Casa do Pão de Ló de Alfeizerão vi um lindíssimo e antigo expositor com rebuçados, no topo dizia Heller. Vê-lo foi o início de uma rápida viagem no tempo.
Quando era miúda aos domingos o ritual era frequentemente o mesmo. Ia com os meus pais e irmãos à missa do meio dia e meio. A minha Mãe tinha 6 crianças e um espírito muito prático, por isso almoçávamos antes. Com tanta gente significava que almoçávamos pelas 11 e meia.
Depois da missa descíamos a rua e íamos visitar a minha Avó que vivia na mesma rua, entre a nossa casa e a igreja.
A minha Avó, que já tinha ido à missa das 7 e meia ou 8 da manhã, estava nessa altura a almoçar. O almoço era invariavelmente, pelo que me lembro, bifes com arroz de manteiga e batatas fritas. Nós já tínhamos almoçado há duas horas e ficávamos a olhar para a travessa, e sobretudo para as batatas, e com uma vontade enorme de comer. Mas éramos 6, 12 olhos a cobiçar o almoço da minha Avó... uma prova a cada um era a travessa inteira, de modo que ficávamos só olhando e esperando pelo que se seguia.
Na prateleira mais baixa de um dos móveis da casa de jantar havia uma caixa de bolachas sortidas, acho que a marca era Heller (ou Elba, não sei precisar, mas descobri que a fábrica era a mesma, e eventualmente variaria entre Elba e Heller), depois de almoçar a minha Avó dizia a um de nós para ir buscar a caixa. Depois abria-a e cada um tinha direito a escolher uma bolacha, só uma. E os 12 olhos ficavam a olhar, a avaliar... com receio de não fazer a melhor escolha. E lá tirávamos uma delas, só no domingo seguinte haveria outra.
Outras vezes a minha Avó dava-nos 5 tostões (0,0025 euros) para irmos comprar um cartucho de amendoins à loja do Sr. Moreira, que trazíamos e comíamos todos à volta da mesa. Uma vez estava particularmente generosa e deu-nos dinheiro para 3...
Na altura nunca discuti com os meus irmãos estas visitas à minha Avó, agora por vezes algum de nós resolve contá-las aos miúdos e conversamos sobre elas e as memórias são as mesmas. O suplício de ver a travessa do almoço e não lhe poder tocar, e a caixa de bolachas e a difícil escolha, marcaram-nos mesmo.
Mas a viagem iniciada ao ver o expositor do rebuçados não ficou por aqui... Em criança as guloseimas estavam bem menos disponíveis do que actualmente. De vez em quando, muito raramente, os meus Pais compravam-nos uma embalagem de geleias da Heller para partilharmos entre os 6. Gostava tanto! Ainda se encontram por aí, com a marca Elba, e de vez em quando compro-as para reviver aquele prazer de infância. Estão tão boas como sempre foram.