The Fat Duck - Afternoon: If you go down to the woods today… (and we did)
Afternoon: If you go down to the woods today… (and we did)
Terminada a manhã na praia fomos até à floresta, e lá esperavam-nos coisas fantásticas. Primeiro que tudo era preciso entrar no espírito, e a floresta foi colocada sobre a nossa mesa e foi-se libertando uma neblina com aromas da floresta.
A nossa floresta não tinha animais, mas nalgumas das que chegaram a outras mesas havia pequenos animais de madeira, na mesa ao lado tinha uns cavalos, que acredito que estivessem relacionados com a personalização da experiência com base na resposta ao questionário.
Relativamente à neblina, produzida com gelo seco, não terá em mim o impacto que pode ter em quem nunca viu ou fez. Mas apesar de bem familiarizada com gelo seco, ainda consigo sentir algum encantamento com estas neblinas misteriosas e aromáticas. Acredito que podem ter, de várias formas, um papel importante na perceção dos pratos.
Chegou também o vinho que acompanharia o prato que se seguia.
Gvino Saperavi - Lagvinari 2011
Não conhecia nada sobre os vinhos da Geórgia, ao provar aquele comentei, "isto é tão diferente do que alguma vez bebi". Quanto mais bebia, mais gostava. Um vinho com notas terrosas e de especiarias, assim como alguma fruta (ameixas, cerejas...). Um vinho de um vermelho muito escuro, quase opaco. Fui descobrindo isto enquanto o bebia e pensando que nunca tinha bebido um vinho que melhor ligasse com o prato que nos serviram.
Damping through the boroughgroves
Mushroom, beet and blackberry, scented with fig leaves, meadowsweet, melilot, oakmoss and black truffle
Um prato muito complexo, como todos os pratos do The Fat Duck, um prato com tantos componentes que era difícil apreender tudo, com uma grande variedade de aromas, sabores e texturas, em que se destacavam os sabores terrosos e o gosto umami. Os diferentes componentes ligavam na perfeição e transmitiam a essência da floresta. Não faltavam também alguns insectos, afinal estávamos na floresta...
Olhando para alguns detalhes tive curiosidade de ir descobrir mais sobre os componentes, e do que encontrei teria, entre outras coisas: cogumelos (vejo morquelas e boletus), trufa negra, beterraba em pickles, géis de beterraba, de consommé de cogumelos e de amora, um crocante de amido de batata com um pó de cogumelos a simular uma casca de árvore, cogumelos e beterraba pulverizados, de alguma forma lá estavam as folhas de figueira e o musgo de carvalho e também uma variedade de ervas que não sei se já alguma vez tinha comido (melilot e meadsweet), assim como as larvas de tenébrios.
Acabei o prato, e voltei ao que restava do vinho. É agora hora de voltar também a ele.
Não são consensuais as opiniões sobre a origem do vinho, mas provavelmente foi na Geórgia que se produziram os primeiros vinhos. Foram lá encontrados resíduos de vinho em jarros de barro que datam de 6000 aC, o que significa que a história do vinho naquele país pode ter mais de 8000 anos. Também a palavra gvino, a palavra georgiana para vinho, é considerada por historiadores e linguistas precursora das palavras vinho, vino, vin, wein e wine.
O vinho que bebemos é produzido na região de Kakheti (na parte oriental de Geórgia) por Eko Glonti, um médico, com interesse por arte, história, literatura e música. Um médico que se tornou produtor de vinhos, sendo estes monovarietais e distintamente georgianos. A casta usada na produção deste vinho, Saperavi (palavra que significa corante), produz vinhos encorpados e com uma cor entre o vermelho escuro e o preto. Um vinho que me encantou e que, mais do que isso, me levou a descobrir tudo isto.
Dizia o nosso itinerário que o prato seguinte era aquele que principalmente me tinha motivado a ir ao The Fat Duck. Na véspera a minha filha perguntava-me: "E se não te derem esse prato?". Teria que comer o que me dessem em substituição, que seria seguramente bom. Mas deram, e amanhã conto como foi...