Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Assins & Assados

Assins & Assados

21
Jan25

Cozinha Egípcia no Masrawy Café & Restaurant

smile.jpg

 

laranja.jpg

 

Durante alguns meses passei várias vezes à porta do Masrawy Café & Restaurant, um restaurante egípcio que tinha aberto numa zona onde vou frequentemente. Parei até algumas vezes para ler um cartaz na porta que falava de um dos pratos que serviam, o Koshari. Dizia que era considerado o prato nacional do Egipto, servido em praticamente todos os restaurantes, casas e até como comida de rua. Contudo, tinha as suas raízes na Índia, e o nome até derivava da palavra hindu khichri, que designa um prato de arroz e lentilhas. Confesso que a descrição do prato, não o tornava particularmente atraente - uma mistura de massa, arroz, lentilhas, grão-de-bico, cebola e molho de tomate. Mas se era tão popular, algum interesse deveria ter. Porém, estava a ser difícil entusiasmar os meus potenciais acompanhantes para lá ir. Até que um dia eu disse: "É Hoje!".

Entrámos num espaço com uma cozinha à vista, alguns elementos de decoração típicos do país, e várias frases escritas na parede, a maioria em árabe, mas uma dela mandava-nos sorrir. Foi isso que fiz, e o sorriso foi sendo cada vez mais rasgado à medida que ia comendo pratos que me surpreenderam, e até com ingredientes que desconhecia.

Começaram por trazer um cesto de pães baldy deliciosos, e Taamaya, referido como o falafel egípcio, servido com molho de tahini e torshi (uns coloridos e deliciosos pickles de vegetais). Já comi muita vezes falafel, alguns muito bons, outros nem tanto, mas este era diferente. Sabia a favas. Foi uma surpresa! Fui para ali sem saber absolutamente nada de comida egípcia (o que por vezes até pode ser um vantagem), e no Egipto o falafel é feito com favas secas em vez de grão, como é habitual noutro países. Gostei tanto que foi uma da principais razões para já ter voltado ao restaurante.

 

Tamiya.jpg

 

De seguida veio o Foul Madames, favas guisadas, com um molho de tahini, azeite, limão, salada e pickles.

 

Foul Madames.jpg

 

Chegou então o prato mais surpreendente da refeição - o Molekheya. A descrição do prato dizia: folhas de malva cozinhadas lentamente num caldo de legumes e polvilhadas com alho assado e coentros picado, servido com arroz.

Estava à espera de um vegetal em folhas, elas estavam lá, mas muito moídas. Era um caldo muito viscoso, servido com arroz de aletria e os omnipresentes pickles. O prato tinha características completamente inesperadas. Deixou-me confusa. Provei e era muito saboroso, comemo-lo com agrado.

 

Molekheya.jpg

 

A planta usada (Corchorus olitorius) é conhecida pelo mesmo nome do prato no Egipto. É, de facto, a juta usada para têxteis, em que a parte comestível são as folhas, ricas em nutrientes e a que são atribuídas propriedades medicinais. Podem ser usadas frescas ou secas, acredito que teriam sido usadas folhas secas. 

Há muitos anos, na Cozinhomania, fui a uma aula de comida libanesa, em que fizeram o arroz que acompanhava este prato. De vez em quando faço-o. A aletria em pedacinhos é primeiro salteada no óleo até ficar torrada, o que lhe vai dar um sabor tostado interessante, depois adiciona-se a água e o arroz. Fica bonito e bom. 

Finalmente veio o Koshari, arroz, dois tipos de massas (uma aletria e macarrão), lentilhas, grão, cebola frita bem dourada, e um saboroso molho de tomate com especiarias. Ao lado, uma molheira com mais molho de tomate e mais dois molhos um picante e outro, o Daqua, um molho ácido, com vinagre e limão, e com alho e cominhos. Esta mistura de componentes temperada com os molhos resultava num prato muito saboroso.

 

Koshary.jpg

 

Uma refeição muito agradável, uma refeição de descoberta de novos sabores e combinações, uma viagem à mesa muito rica. 

Um dia em que se tem oportunidade de comer algo desconhecido e pouco comum é sempre um bom dia! 

 

10
Jan25

Alimentos azuis não são comuns e ainda menos um arroz completamente azul

menu evro.jpg

 

verde escuro.jpg

 

Há umas semanas passei à porta de um pequeno café no centro da cidade que tem comida da Malásia e, ao olhar para o menu na montra, um prato chamou-me a atenção - o Nasi Kerabu. Alimentos azuis não são comuns e ainda menos um arroz completamente azul. Tinha mesmo que provar, apesar de suspeitar que o sabor não fosse muito diferente de um arroz cozido, pois era corado com flores de ervilha-borboleta. Usava-as nas aulas para ilustrar as alterações de cor das antocianinas com o pH. Por vezes púnhamos num bule de chá verde algumas flores para lhe dar uma cor azul, que mudava para rosa quando no copo se adicionava uma rodela de limão. O sabor era discreto. De qualquer forma, arroz azul nunca tinha comido e tinha que experimentar.

Pesquisei sobre o prato, o Nasi Kerabu data do século XV e é originário das zonas costeiras do nordeste da Malásia, onde é comido habitualmente ao pequeno almoço, mas agora é consumido em todo o país. Pode-se encontrar ainda em Singapura e no sul da Tailândia, junto à fronteira com a Malásia, onde há uma grande comunidade de malaios e o prato é considerado não só uma especialidade culinária, mas também um dos símbolos informais de identidade étnica e ligação à Malásia. Tudo isto tornava este raro prato azul ainda mais interessante.

Há dias fui experimentá-lo, entrei, havia apenas uma mesa ocupada com uma grande família, possivelmente de malaios, estudei atentamente o menu, apesar de saber o que ia comer, e finalmente pedi o Nasi Kerabu. Pedi conselho sobre que tipo de frango deveria escolher e sugeriram-me o frango frito, por ser menos picante. Assim foi.

 

evro2.jpg

 

Provei logo o arroz, não notei uma diferença de sabor significativa relativamente a um arroz cozido, mas era azul e isso dava-lhe outra personalidade, e fazia-me olhá-lo com outro interesse. Sobre ele um molho espesso, um pouco picante, e extremamente saboroso. O nome Nasi Kerabu significa arroz com salada, por isso esta é indispensável no prato, e lá estava uma rodela de pepino e uma salada de couve branca e outros vegetais (a componente menos interessante do prato). Ao lado uns deliciosos crackers de camarão, com um sabor forte, e o coco salteado. Também o tradicional ovo, quando o parti para comer achei estranho ter casca, a textura e o sabor também não eram os de um ovo cozido. Vi posteriormente que o Nasi Kerabu é normalmente acompanhado por meio ovo salgado, colocado no prato com a casca, e que tem uma consistência ligeiramente gelatinosa. Finalmente o frango frito, delicioso, crocante, suculento e cheio de sabor. Valeu a pena fazer esta viagem à mesa e experimentar um novo prato.

Mas azul não é uma cor normal em alimentos, apesar de ser usualmente a cor preferida em muitos outros contextos. Fui pesquisar e encontrei o artigo What is so unappealing about blue food and drink? de Charles Spence. Nele é dito que os alimentos azuis são raros, sobretudo muito mais raros do que os de outras cores, e que talvez por isso sejam percebidos com artificiais. Com base nisso, durante décadas foi considerado que nunca vingariam no mercado. No entanto, em anos recentes têm surgido alguns produtos azuis, sobretudo bebidas. Nesta época da comida instagramável, o papel desta cor é sobretudo chamar a atenção pela sua raridade. Curiosamente, o que não acontece com outras cores, é normalmente referida a origem natural do corante (como acontece neste menu) - habitualmente a ervilha-borboleta ou a espirulina. Refere ainda que, talvez por razões evolucionárias (é a cor do bolor), há produtos em que a cor azul causa uma maior aversão. Normalmente aqueles produtos em que a cor desempenha um papel importante na avaliação da qualidade e frescura, como por exemplo o peixe e a carne. Também é raríssima a utilização desta cor em pratos de chefes, mesmo dos mais vanguardistas, eventualmente devido a ser associada a algo artificial. Onde acabou por ser mais usada foi em bebidas alcoólicas e cocktails, a que não estão associados aspetos nutricionais, mas têm uma componente lúdica.

No artigo são ainda referidos vinhos corados de azul lançados em 2016 em Espanha e Itália dirigidos aos millenials. Também em Portugal foi lançado pela Bacalhôa, e penso que ainda está no mercado, um vinho corado de azul, o Casal Mendes Blue. Há uns anos comprei uma garrafa para provar com os meus alunos, dicutirmos a percepção antes e depois de verem a cor. No final poucos disseram que o comprariam, e estes só o fariam para reuniões sociais. A razão que deram para o adquirir era o facto de que, dado ser tão inusitado, iria provocar alguma interação entre os convidados. Mas no caso do vinho, em que a sua apreciação envolve também a da sua cor, e em que diferenças subtis de cor têm significado, pergunto-me se terá algum interesse corá-lo, gostava de saber qual a motivação para o comercializar e se o vinho teve algum sucesso no mercado. 

Tendo em conta tudo isto, pergunto-me porque razão o Nasi  Kerabu surgiu com um arroz corado de azul? Possivelmente para tornar o prato único, especial e mais atraente. Penso que é esta também a razão que leva a que alguns arrozes pilau indianos tenham alguns bagos corados com cores fortes, ou até a serem ornamentados com folha de ouro.

Mais sobre mim

Seguir

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Comentários recentes

  • Paulina Mata

    Saí anónima... mas fui mesmo eu quem respondeu.

  • Anónimo

    Ui!!!! Que pergunta difícil! Não sei responder... ...

  • Anónimo

    De início parabenizo a descrição elegante e delica...

  • Luis Filipe Costa Piteira

    Já paguei, sozinho, esse preço e mais em restauran...

  • Anónimo

    Obrigado pela gentileza da resposta. Boa Páscoa.