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Assins & Assados

Assins & Assados

27
Nov19

Paisagem Gastronómica - outras formas de viver a pastelaria

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Conheci a Ana Raminhos no final de Setembro, num almoço em que ela participou, na altura conversámos sobre o interesse dela em criar e servir pastelaria em contextos diferentes dos habituais (restaurantes, pastelarias, salas de chá...), contextos em que permitissem uma interação mais profunda com os consumidores, e lhe permitissem associar uma componente conceptual. Tenho muita curiosidade relativamente a este tipo de aproximações, e pedi-lhe na altura que me dissesse quando fizesse alguma coisa.

 

Há umas semanas a Ana disse-me que ia participar com o Laboratório Gastronómico: Paisagem Gastronómica, em que colocaria a Pastelaria em Performance, na Trienal de Arquitectura de Lisboa. Descreveu da seguinte forma a sua intervenção:

 

PAISAGEM NATURAL é um laboratório gastronómico que explora as relações que se estabelecem entre a agricultura, a produção alimentar e as cidades. Propõe uma reflexão sobre a paisagem urbana contemporânea e a sua reconexão com a natureza e a biodiversidade, numa experiência sensorial performática que se materializa no acto de comer. Estimula a descoberta de texturas, formas e composições rítmicas através de contrastes gustativos. A imaginação e a criatividade são aqui aplicadas à pastelaria para explorar as relações entre a matéria orgânica, o corpo e o ambiente como partes integrantes de um ecossistema.
À semelhança da arquitectura, a dimensão tanto poética como racional da pastelaria expressam-se através da sua própria construção, incorporando uma forma de beleza natural.

 

Estavam previstas várias sessões de cerca de 1h 30m, e um dia fui participar. Um espaço vazio, onde era evidente a passagem do tempo e algum abandono do espaço. Nele a Ana Raminhos montou algumas superfícies para dispor as suas criações. Ao entrar podíamos movimentar-nos pelo espaço, observar as diversas superfícies.

 

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Assumi-as como finalizadas, mas estava enganada, tudo era mais complexo do que parecia à primeira vista... Silenciosamente a Ana Raminhos foi-se deslocando pela sala e finalizando as suas criações:

 

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Em cada superfície tudo ia adquirindo formas, cores e aromas diferentes. Como ruído de fundo ouvia-se uma sorveteira, os participantes mantinham-se em silêncio. A certa altura a Ana deu-nos a entender que a fase seguinte exigia a nossa intervenção, exigia que participássemos comendo as suas criações.

 

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Começámos, quase a medo, a interagir com o que estava nas várias superfícies. Descobrir e saborear o que a Ana nos oferecia deixou-nos menos intimidados e mais soltos, e as conversas começaram a surgir com a Ana, ou entre nós. Lembrei-me da Festa de Babette e de como as interações foram evoluindo ao longo do jantar.  A Ana falou-nos do conceito subjacente, explicou cada uma das suas criações, fez-nos adivinhar e fez-nos descobrir. 

 

Ao descobrir a beterraba muito presente e o seu sabor terroso e cor forte, o matcha, o seu exotismo, o chocolate, as especiarias e as algas... fui sentindo uma relação com as pessoas que vivem nas cidades, nesta cidade em que vivo, cada vez mais diversas... em que o que antes era estranho, exterior, deixa de o ser e se transforma em parte integrante do quotidiano, tornando-o mais rico.

 

No meio de tudo isto foi muito interessante descobrir o gelado de cevada com molho de beterraba e vinho do Porto. Há dias duas das minha alunas referiam a cevada que bebiam em crianças, em vez do café, e as sensações que essas memórias lhes causavam, lembrei-me disso. Também da cevada, que nunca provei, mas que a minha Mãe por vezes bebia quando eu era criança. Foi interessante descobri-la desta forma, apropriar-me das memórias de outros.

 

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Perto do gelado de cevada estava um placa com a sobremesa das nozes e da beterraba. A Ana referiu que em todas as sessões que fez, nunca alguém tocou nessa. Dá que pensar sobre o que leva a que nos apropriamos das coisas.

 

No final, quando as pessoas começaram a sair, foi interessante observar as várias superfície, ver a "pegada" que tínhamos deixado. Também é assim nas cidades, é assim a vida, é assim viver.

 

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Ah! o ruído da sorveteira manteve-se até ao final. Antes de sairmos a Ana Raminhos convidou-nos a provar o gelado de chocolate com chá preto Lapsang Souchong, com o seu sabor forte e fumado. Uma nova descoberta para muitos, uma nova combinação para todos, e um sabor persistente que nos foi acompanhando algum tempo.

 

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Tantas formas e tão interessantes de viver a pastelaria, a cozinha, os alimentos...

 

 

26
Nov19

A secreta Blue Box

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Na sala onde decorreram este ano as apresentações do Congresso Nacional dos Cozinheiros havia, ao fundo, uma enorme caixa azul completamente fechada - a Blue Box. Era um mistério o que ali se passaria. A entrada era condicionada, e até confesso que estive para desistir (quando me disseram que tinha que ir pedir a entrada num outro espaço). Felizmente não desisti, pois tive oportunidade de participar numa experiência muito original, num modelo diferente dos habituais em eventos como aquele em que estava, o que fez com que fosse marcante.

 

A Blue Box foi uma proposta de Carlos Fernandes (Bela Vista Hotel, Portimão), um pasteleiro com um trabalho original, que sentindo a injustiça da falta de visibilidade e valorização do trabalho dos pasteleiros, decidiu representar essas situações por uma caixa fechada. Ao passar a porta, entrava-se numa experiência imersiva, num mundo mágico. O exterior de linhas retas e que não transmitia qualquer pista, dava lugar a um interior em que as paredes estavam completamente revestidas de microvegetais e flores.

 

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Uma luz negra criava um ambiente em que inicialmente, até os olhos se habituarem, nos deixava um pouco desorientados, e permitia uma descoberta por fases (as fotos com flash que permitiram uma visão diferente, só as tirei no final, depois de viver a experiência completa). Os sons no interior, sons da natureza, de pássaros, de água... ajudavam a criar um ambiente de magia.  

 

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Sem qualquer pista do que se ia passar, começávamos a ver surgir alguns jovens que se apresentavam como pasteleiros e ali nos davam a conhecer o seu trabalho através da prova de algumas das suas criações, que nos pediam que descobríssemos no cenário ou que nos ofereciam. Eles eram:  Diogo Lopes (Ritz Lisboa), Sara Soares (Penha Longa Resort, Sintra), Gabriel Campino (Tivoli Lisboa) e Filipe Martins (Kubidoce, Olhão).

 

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Combinações de sabores e texturas originais, apresentações de doces tradicionais num contexto diferente... As opções eram diversas, em comum serem muito interessantes e despertarem uma atenção redobrada pelo ambiente em que eram apresentadas.

 

Uma excelente ideia! Cheia de simbolismo, e que espero que contribua não só para chamar a atenção para o trabalho dos pasteleiros, mas também para fazer pensar um pouco na necessidade de inovar nestes eventos para além dos modelos de apresentação comuns.

 

 

20
Out19

Sem natas... Sem leite... Sem ovos... Mas com muito sabor!

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Os pastéis de nata da Pastelaria Batalha na Praça Luís de Camões têm fama, já foram até considerados os terceiros melhores de Lisboa no concurso O Melhor Pastel de Nata, organizado durante o Peixe em Lisboa

 

Há cerca de dois meses vi várias notícias de que tinham lançado um pastel de nata vegano.  Fiquei curiosa, e recentemente fui lá.  O aspeto é muito parecido com a versão tradicional. Lado a lado há uma pequena diferença, os tradicionais são mais brilhantes:

 

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Chegou a hora de o provar... A massa era excelente! Não esperava outra coisa, deverá ser a mesma dos pastéis tradicionais. O recheio agradável, saboroso e cremoso. Muito parecido com o de um pastel de nata tradicional. Sorte para os veganos e as pessoas com alergias ao leite ou aos ovos, que agora podem comer um bom pastel de nata também.

 

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Uma boa iniciativa da Pastelaria Batalha, que a executou com grande qualidade!  Parabéns.

 

Pastelaria Batalha - R. Horta Seca 1, Lisboa

 

 

23
Ago18

Paredes de Mação que promovem saberes e sabores

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Em algumas paredes de Mação estão a começar a surgir receitas de pratos tradicionais do concelho. Esta, de que apenas vi a foto, parece-me muito bonita.

 

Muito interessante, pois é um trabalho para uma dissertação de mestrado sobre tradições alimentares e sua valorização, em que a arte urbana é usada como um dos meios de divulgação e valorização.  

 

Uma excelente iniciativa! Para mim, tem ainda um sabor acrescido por Mação ser o concelho onde nasci e cresci.

 

 

31
Mar18

A Catedral e o seu Café

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Em 1918 foi criada a Diocese de Coventry. A igreja paroquial de St Michael's, da Igreja Anglicana, que tinha sido contruída no final do século XIV e início do século XV, foi o local escolhido para instalar a Catedral. Não durou muito tempo esta catedral, já que em 14 de novembro de 1940, durante a II Guerra, foi bombardeada e destruída. Pensou-se em a reconstruir, mas finalmente foi decidido deixar as ruínas e transformá-las num espaço público que recordasse e fizesse refletir sobre o que se passou. Foi construída ao lado uma nova catedral, de facto os dois espaços estão ligados (1ª e 2ª fotos). Esta nova catedral tem uma arquitetura muito moderna, que foi um pouco polémica, tendo sido terminada e consagrada em 1962.

 

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A zona em que as catedrais estão localizadas, no centro de Coventry, é bastante interessante e agradável e gosto muito de ir às ruínas da catedral antiga, é um espaço muito impressionante.

 

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Uma coisa que acho interessante aqui no UK,  é que muitas igrejas e catedrais têm cafés/restaurantes nas suas intalações. Por vezes mesmo dentro do espaço da catedral, como acontece na de Liverpool. No caso da catedral de Coventry, é no edifício novo da catedral, mas um espaço próprio, com entrada pelo exterior. Há inclusivamente informação sobre este espaço à porta da catedral.

 

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Este espaço, o Rising Café, é explorado por uma instituição de apoio social, Betel UK, para integração de pessoas com problemas de drogas ou alcoolismo, sem abrigo ou que sairam da prisão. 100% dos lucros são usados para financiar o trabalho da instituição, e o café é ainda um local de formação profissional e trabalho para integrar essas pessoas. É um espaço bastante agradável e que está sempre cheio.

 

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Servem, chás e bolos, mas também sandes, tapas e alguns pratos. Costumo lá ir de vez em quando, ou para o almoço ou para um chá.

 

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Mas aquilo que acho mais engraçado são os "Afternoon Tea", havendo vários à escolha. É variado e mais do que suficiente para brunch e, para nós que não temos este tipo de coisas, é muito engraçado ver chegar aquele conjunto de pratos.

 

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The Winston

Roast beef and mustard 3-tier sandwich with onion chutney. Complete with options of fresh bread, either multi-seed or white and served with mini Yorkshire puddings, filled with pigs in blanket and dipping gravy. Mini apple crumble and custard, gingerbread and a Meringue kiss.

 

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Classic Afternoon Tea

A selection of sandwiches including tuna and cucumber, cheese and ham, corned beef and tomatoes Served with a scone and a selection of home baked desserts.

 

Uma boa iniciativa, um espaço simpático e uma comida agradável, por isso está sempre cheio. Da última vez que lá estive contei 12 pessoas a aguardar mesa...

 

 

 

 

13
Fev18

Como é que eu vivi sem isto até hoje? As coincidências que me abriram a porta para o mundo do chocolate.

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Há duas semanas no suplemento sobre comida do The Guardian  que sai ao sábado - Feast - li uma secção que se chama How I Eat, em que há uma pessoa que diz o que geralmente come ao pequeno almoço, almoço, jantar e em snacks. Lia aquilo e só pensava "Mas porque carga de água foram escolher para isto uma pessoa que obviamente não gosta de comer?". No final, já na parte dos snacks, referiu, com algum entusiasmo, uns chocolates que andava a comer. Eram quatro e vinham na última caixa que tinha recebido da Cocoa Runners. Apesar de ser a única parte interessante do que disse, não voltei a pensar nisso. Uma semana depois comprei a National Geographic Food, que tinha um artigo sobre chocolate. No final do artigo sugeriam cinco sites a visitar. O primeiro de todos era dos Cocoa Runners e dizia "Members' club selling bean-to-bar chocolate from around the world, plus smart gifts and tasting courses." Imediatamente me lembrei do senhor que odiava comer, mas pertencia a este club. Fui ver do que se tratava.

 

No site falavam do que está a mudar no mundo do chocolate, a que chamavam a revolução do chocolate. Falavam de pequenos fabricantes que adquirem cacau a pequenos produtores, e que transformam as favas do cacau em tabletes numa escala pequena, falavam dos altos padrões de qualidade e da diversidade dos chocolates que produziam. Diziam que adquirir estes chocolates não era fácil, e por isso eles iniciaram o projeto Cocoa Runners. Sendo a missão deles descobrir e tornar acessível. Assim, correm o mundo para conhecer quem produz o cacau e fabrica as tabletes. Dizem que desde 2013 já provaram mais de 6000 tabletes diferentes e dessas escolheram as melhores. Que neste momento têm para venda 800 diferentes de mais de 80 fabricantes. Fui à página dos fabricantes, 94, não conhecia quase nenhum. Aliás, que tenha consciência disso, só comi chocolates de 4 deles.

 

Conclusão, era mesmo disto que eu estava a precisar na minha vida! Chocolates de qualidade, diferentes, e quem mos mostrasse com algum critério. Tudo isto à distância de um click e, claro, do número do cartão de crédito. Mas a despesa nem era grande, por 18.95 libras por mês recebia em casa 4 tabletes criteriosamente escolhidas, com informação sobre os produtores, os fabricantes e notas de prova. Mais, prometiam que não repetiam as tabletes, que desde que começaram já mandaram nas caixas mensais mais de 250 chocolates diferentes. Fiz logo a minha subscrição, e 3 dias depois o carteiro enfiava pela caixa do correio esta caixa com 4 tabletes (1 de chocolate de leite e 3 de chocolate preto).

 

O chocolate de leite, de cacau de Madagascar, produzido por um dos dois únicos fabricantes de chocolate em Madagascar, a Menakao; do Peru, um cacau albino que esteve quase extinto e está a ser recuperado, para a tablete produzida pela Original Beans, uma empresa holandesa; cacau da Jamaica foi transformado numa deliciosa tablete em Inglaterra pela Pump Street Chocolate, finalmente cacau da República Dominicana foi transformado pela empresa catalã Blanxart. Todos completamente diferentes, uns frutados, outro com notas de caramelo, rum e passas, e ainda outro com notas de frutos secos. Maravilhoso!

 

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Como é que eu vivi sem isto até agora? Espero ansiosamente que o carteiro traga a próxima!

 

 

12
Fev18

Um menu vegan num restaurante de fine dining

 

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Nos últimos anos tenho comido muitas refeições vegan. A minha filha mais nova é vegan há cerca de 3 anos e, quando estou com ela,  a maior parte das vezes, como também refeições vegan. Para podermos partilhar, porque acho mais simpático e para abrir horizontes (e tem aberto mesmo). Já me aconteceu não ter pedido um prato vegan, e depois de provar o dela ter concluído que tinha feito mal. Foram refeições em casa e em restaurantes, uns de comida mais rápida e menos elaborada, outros em restaurantes de cadeias, que por aqui têm sempre pratos vegan, outros em restaurantes independentes de comida vegan, vegetariana, ou apenas oferecendo alguns pratos vegan. Faltava-me comer uma refeição vegan num restaurante de fine dining. Nem todos oferecem um menu equivalente ao menu normal, em número de pratos e qualidade, mas a minha filha sabia que o restaurante Adam's, no centro de Birmingham, e com uma estrela Michelin, o fazia. Mais que isso, tinha ouvido muito boas referências. 

 

Fazem os menus vegan, mas apenas se solicitado antes (embora tenha verificado que há pratos que fazem  parte dos menus servidos habitualmente). Assim, quando da marcação (na véspera) dissemos que pretendíamos uma refeição vegan. A (boa) experiência começou aí. Quem fez a marcação deu os parabéns pela escolha sensata, e pelo facto de com essa opção alimentar estarmos a contribuir para salvar o nosso planeta. Disse ainda que não tinha conseguido fazer essa opção, mas andava a reduzir o consumo de carne a 1 ou 2 vezes por semana, mas que o principal problema dele era a manteiga porque adorava cozinha francesa. Ou seja, um atendimento muito simpático, personalizado, em que fizeram sentir que não era um pedido inconveniente para eles, mas que tinham todo o gosto em se adaptar aos nossos requisitos alimentares. (Uns dias antes tinha ouvido relatar uma situação ocorrida num outro restaurante com uma estrela Michelin em que disseram que não faziam, mas tiveram a infeliz ideia de dizer às pessoas que se queriam comer lá, tinham a opção de deixar de serem vegans por um dia).

 

Entrámos numa sala muito confortável e agradável, com um bom espaço entre as mesas. Depois de nos sentarmos trouxeram-nos a carta e havia duas escolhas, um menu com 8 pratos e um menu com 3 pratos. Não nos tinham perguntado nada sobre isso e portanto estavam preparados para nos servir qualquer dos tipos de menus que ofereciam habitualmente. Os preços também eram os mesmos dos menus não vegan. Escolhemos o menu de 3 pratos (£ 39,5), mas nesse havia duas opções para cada prato. Perguntámos se podíamos escolher os dois menus diferentes, e portanto os 6 pratos. Disseram-nos que não havia qualquer problema nisso, e assim foi. Ou seja, provámos 6 dos pratos oferecidos no menu de 8 pratos.

 

Antes dos pratos, chegaram-nos os amuse-bouche: couve-flor (um dos géis era de coentros), biscoitos de noz recheados com creme de aipo-nabo, crackers de arroz com um creme tipo maionese (corados de negro) e um cone com fondant de tomate e puré de abóbora. Sabores e texturas muito variados, todos muito bons.

 

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 Foi depois o momento de dois excelentes pães. 

 

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Seguiram-se então os pratos, para começar:

 

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 Celeriac, parsley, pine

 

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 King oyster, mushroom ketchup, shiitake tea

 

O primeiro muito bom. O segundo excelente. Com aquele ar simples era de uma riqueza de texturas e sabores muito grande. O chá de shiitake (no copo atrás do prato) com uma grande intensidade de sabor, fazia toda a diferença. Um prato que não vou nunca esquecer. Que gostaria de comer muito mais vezes. 

 

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 Purple sprouting broccoli, sourdough

 

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 Salt baked salsify, parsley root, shiitake

 

Dois pratos também muito bons, ricos em sabores e texturas como os anteriores. Mas, considerando a estrutura habitual de um menu, em que há entrada, seguida de prato principal, as expectativas eram outras - de algo mais "substancial" com a estrutura de um prato principal. Também penso que deveria haver um crescendo no menu. Para mim, depois daquele prato de cogumelos era difícil... Trocando a ordem dos pratos ficaria mais feliz. Não era preciso serem outros, apenas trocar a ordem, principalmente o dos brócolos com o dos cogumelos.

 

Chegou em seguida uma pré sobremesa: 

 

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Inspirada no arroz doce com manga tailandês, manga fresca, um gelado de manga, uma espuma de coco e caril verde, por cima arroz (quase pareciam uns insectos, até me assustei e pensei, "mas não tínhamos pedido vegan?")

 

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 Dark chocolate, passion fruit, mango

 

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 Comice pear, toasted hay, praliné

 

Muito boas as sobremesas, e também a pré sobremesa, seria ainda melhor se não tivesse havido a repetição do gelado de manga na pré sobremesa e na sobremesa. Para terminar uns bombons. E à saída deram-nos ainda uma caixinha com outros bombons para trazermos.

 

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Um óptimo almoço, que acompanhámos com um vinho branco inglês a copo - Sixteen Ridges, Bacchus, 2015. 

Falta falar do serviço, que foi excelente, sempre muito atento e simpático. Mas teve uma curiosidade extra. A certa altura a minha filha diz, "acho que o empregado é português, pelo sotaque pareceu-me". Quando escolhi o vinho conversei um pouco com o sommelier (que não era português) sobre os vinhos ingleses. No final ele disse "sei que são portuguesas, ontem estive a provar vinhos portugueses da Quinta do Crasto". Ainda suspeitámos mais fortemente que o empregado que tinha estado antes na nossa mesa era português. Perguntámos, e era mesmo. Fez o curso em Portugal, numa escola do norte, e quando acabou havia uma oportunidade de trabalho em Inglaterra. Veio, para ganhar experiência durante uns meses, está cá há seis anos, os últimos quatro no Adam's. Passado um pouco apareceu para nos trazer outros pratos com outra colega e disse, "desta vez vêm os dois portugueses". Falei com ela que me disse que tinha trabalhado em alguns restaurantes em Lisboa, e depois decidiu vir ganhar alguma experiência para Inglaterra. Está no Adam's há seis meses, falou-me do bom ambiente de trabalho, ambos gostam muito de viver em Birmingham. 

 

Uma óptima experiência, fiquei a saber que os menus vegan são feitos quando pedidos na marcação e variam, que se lá voltar provavelmente não vou comer nenhum daqueles pratos. Era muito bom que cada vez mais restaurantes deste nível fizessem o mesmo. Gostei muito da comida, gostei do ambiente, e fiquei com vontade de voltar para outras experiências.

 

 

 1ª Foto DAQUI

05
Jan18

Síria - o pão e muito mais sabores... no Mezze

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Li uma vez, não sei onde, que nos emigrantes, nas gerações que já nascem fora do país, se perde mais rapidamente a língua do que os hábitos alimentares e as memórias dos sabores. Não sei se é verdade, mas sei que o que comemos, as memórias gastronómicas são parte intrínseca da nossa identidade. 

 

Compreendo perfeitamente a resposta de Alaa Alhariri, uma estudante síria de arquitectura, quando Francisca Gorjão Henriques e Rita Melo lhe perguntaram de que é  que tinha mais saudades - do pão. Esta resposta foi como que uma alavanca para o projecto Pão a Pão - Associação para a Integração de Refugiados do Médio Oriente, que esteve na base da criação do restaurante Mezze. Recorrendo a uma campanha de crowdfunding, e depois de um período de formação, o Mezze abriu em Setembro no Mercado de Arroios.

 

Jantei lá em Outubro, e estive lá mais recentemente para um workshop de cozinha síria, seguida de um jantar em que nos sentámos todos à mesa, partilhámos a refeição que tínhamos preparado e conversámos. Uma óptima experiência! É sempre bom aprender a criar novos sabores, conhecer novos pratos e técnicas. Mas foi sobretudo bom pois as pessoas que ali estavam, a partilhar as suas experiências e a mostrar a sua cozinha, eram quase conhecidos pois já tinha lido sobre eles, as caras eram bem familiares. 

 

A Fátima, o Rafat, o Yasser, a Alaa, e o orgulho e entusiasmo com que nos mostraram a sua cozinha, e o apoio constante da Francisca Gorjão Henriques tornaram a experiência inesquecível. 

 

Começámos, como não podia deixar de ser, pelo pão e o Yasser, um exímio padeiro, demonstrou-nos como se fazia o pão sírio.

 

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Tudo o resto esteve a cargo da Fátima, com o apoio de todos. O Rafat e a Alaa, ambos falando um português excelente, traduziam e explicavam.

 

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No final sobre a mesa tínhamos:  khubz (pão sírio), hummus (pasta de grão), tabbouleh (salada de salsa), baba ganoush (puré de beringela), mandi (arroz fumado com pimentos), meshawi (espetadas de frango), tudo acompanhado de sumo de tamarindo. E para concluir a refeição harissa (bolo de sêmola de trigo) com café sírio (com cardamomo e as borras do café).

 

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Tudo muito bom, mas se pudesse destacar uma só coisa, seria o arroz. Óptimo, como tudo o resto, mas sobretudo por ter aprendido a técnica usada para o fumar que nunca tinha visto. Quase no final faz-se uma pequena cova no meio cobre-se com papel de alumínio (que forma como que uma pequena taça), dentro deita-se uma brasa incandescente, por cima dela um pequeno fio de azeite e tapa-se o tacho. O fumo que se liberta vai fumar o arroz. No final retira-se tudo, mistura-se o arroz e serve-se. E o sabor é espantoso! E a técnica fascinante! Nunca deixa de me espantar o engenho e criatividade para transformar alimentos e criar sabores tão característicos da cultura de cada povo.

 

 

Mezze - Mercado de Arroios, Rua Ângela Pinto, 12, Lisboa

 

1ª Foto DAQUI

 

01
Jul17

Cerejas com Origem

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O fruto que mais associo à sua região de origem é a Cereja do Fundão, grandes, carnudas e doces, procuro-as todos os anos , pela sua imagem de qualidade.

 

Penso que tal é resultado das iniciativas desenvolvidas nesta região, com o apoio da Câmara Municipal do Fundão, de forma a promoverem a cereja e a transformarem-na num motor de desenvolvimento económico. De facto este produto já movimenta 20 milhões de euros por ano e que dá emprego a cerca de 1500 pessoas, o que é fundamental para a sustentabilidade económica da região.

 

Associados à cereja, quer sejam as cerejeiras em flor ou a apanha da cereja, são organizados programas turísticos e a Festa da Cereja. Tem havido também um investimento na forma de conservar cerejas para poderem ser consumidas todo o ano (embora o consumo de cerejas frescas esteja limitados à sua época). Têm sido criados produtos com cerejas, como é o caso dos pastéis de cereja desenvolvidos em colaboração coma a Escola de Hotelaria do Fundão.

 

A par de tudo isto, na época da cereja, é ainda organizada a Rota Gastronómica da Cereja, sendo convidados restaurantes de chefes de renome e bares para que criem menus e cocktails com cerejas do Fundão. Este ano, de 16 de Junho a 2 de Julho, decorreu a V Rota Gastronómica da Cereja do Fundão, com restaurantes e bares de Lisboa, do Porto e do Algarve.

 

Fui convidada para um jantar com representantes da Câmara Municipal do Fundão que decorreu no restaurante Panorama do Hotel Sheraton em Lisboa. Todos os pratos do menu continham cerejas:

 

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 Crocante de Cereja, Iogurte com Cardamomo e Creme de Cereja

 

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 Ostra, Neve de Cereja e Coco, Salada de Aipo, Água de Ostras

 

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 Leite Creme de Fois Gras, com Puré de Cereja e Jus de Coentros

 

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 Supremo de Pato com Beterraba, Cerejas do Fundão Assadas no carvão, Pele de Cavala Estaladiça e Jus de Rosas

 

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 Cerejas do Fundão com Sorvete de Maçã

 

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Mousse de Cereja do Fundão com Gelado de Cerefólio e Mel e Crocante de Parmesão

 

Uma variedade de interessantes propostas do Chef Miguel Paulino, em que as cerejas surgem em contextos pouco habituais mas que resultaram muito bem.

 

O jantar foi também acompanhado por vinhos D.O.C. Beira Interior:  o branco Alpedrinha Reserva de 2015 da Adega Cooperativa do Fundão, e o Colheita Seleccionada tinto de 2014 da Quinta dos Currais.

 

Excelente o trabalho realizado pelo Câmara Municipal do Fundão na promoção da Cereja apresentando-a como um produto de qualidade e desenvolvendo todo um conjunto de actividades em torno dela.

 

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