Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Assins & Assados

Assins & Assados

15
Nov25

The Sparkling Sake Brewery e a beleza da impermanência

sparkling sake.jpg

 

lilás.jpg

 

Na minha relação com o mundo e com a vida as experiências e os conhecimentos gastronómicos ocupam um lugar de peso. Mais importante do que comer algo muito bom, ou ter uma boa refeição, é expandir os meus conhecimentos e complementar a minha "base de dados" de experiências e memórias gastronómicas. Assim, experimentar uma coisa nova, e sobretudo se desconhecia a sua existência, é sempre uma oportunidade que abraço com grande entusiasmo.

Foi, portanto, com grande satisfação que há umas semanas participei numa prova de espumantes de sake no Blow Water, num pequeno restaurante com cozinha de Hong Kong que frequento muito regularmente. A sessão a que fui incluía o almoço e um copo de um espumante de sake, com a possibilidade de provar um outro.

 

sparkling sake _ blowwater.jpg

 

Os espumantes, da The Sparkling Sake Brewery,  foram apresentados por Naoki Toyota, que os produz em Inglaterra, perto de Cambridge, sendo a sua produtora a única no mundo que se dedica exclusivamente à produção de espumantes de sake. Tudo começou em 2018 quando Naoki, que nasceu em Kyoto, mas vivia em Inglaterra, decidiu experimentar fazer espumantes de sake em casa. O resultado deixou-o de tal forma satisfeito, que pensou começar a produzi-los no Japão e trazê-los depois para o Reino Unido. Contudo, depressa compreendeu que com os custos, os requisitos e a logística envolvidos, não era viável, mas a ideia ficou a amadurecer. Um dia, ao jantar sushi num reconhecido restaurante japonês em Londres, tomou consciência que o que lhe era servido resultava de uma combinação de tradição e inovação. Ou seja, o arroz usado era produzido no Japão e o peixe provinha de águas europeias, sendo os conhecimentos do chef essenciais para os combinar de forma harmoniosa e obter excelentes resultados. Esta reflexão levou-o a considerar fazer algo idêntico, combinando o arroz e os conhecimentos tradicionais japoneses com as características e beleza da natureza no Reino Unido, para produzir o seu espumante de sake.

Após tomar esta decisão foi para o Japão para aprender a forma tradicional de produzir sake com um produtor experiente e reconhecido pela qualidade do que produzia. Voltou para o Reino Unido em 2020 decidido a meter mãos à obra e iniciar a sua produção própria. Em Outubro de 2021 saiu o seu primeiro Classic AWA, produzido usando as competências e conhecimentos adquiridos no Japão e seguindo um processo que envolve desde a lavagem do arroz à produção do koji, à fermentação inicial, à fermentação secundária e ao degorgement manual. Atualmente, produz não só este espumante como um outro, de estilo tradicional japonês, conhecido por Nigori, turvo e com uma textura mais cremosa. Para o Nigori AWA,  o processo de produção é idêntico ao do Classic, até à fermentação secundária na garrafa, mas não é feito o degorgement. Curiosamente, antes de ser servido a garrafa deve ser suavemente invertida algumas vezes para misturar uniformemente os sedimentos do arroz que conferem complexidade e cremosidade.

Foram estes dois espumantes de sake que provei. Comecei pelo Classic, e o primeiro impacto foi descobrir a sua suavidade, as bolhas finas e os aromas frutados, e depois apreciar a sua delicadeza e complexidade. Quanto ao  Nigori, tinha uma textura mais cremosa, um leve amargor e notas de umami. Dois espumantes com características diferentes, mas muito bons. Tão bons e únicos que, como referiu Naoki, os seus clientes são essencialmente restaurantes com estrelas Michelin.

Tanto o Classic AWA como o Nigori AWA são lançados anualmente em quatro lotes sazonais para refletir os ritmos da natureza. De facto, Naoki realça que o seu trabalho é inspirado por um princípio fundamental da estética japonesa, o de captar e expressar a beleza da impermanência. Ou seja, por uma celebração dos momentos transitórios e em constante mudança da natureza.

Curiosamente, ao ver o site da The Sparkling Sake Brewery para escrever este post descobri que apesar de ter sido a primeira vez que provei os espumantes de sake, já tinha muito provavelmente comido cerca de um ano e meio antes borras dos seus espumantes, o sake kasu. Este subproduto da produção de sake, é rico em nutrientes e muito apreciado na cozinha japonesa pelos seus benefícios para a saúde e sabor umami intenso. Tanto que eles para além do espumante também vendem o kasu, e dizem mesmo que é muito apreciado por chefs, tanto para pratos principais como para sobremesas. Ora, como aqui relatei, comi em tempos uma sobremesa no restaurante Land em que um dos componente era precisamente um gelado de kasu. As voltas que o mundo dá!

 

Imagens do Instagram do Blow Water

14
Ago25

Óleo de Sementes de Abóbora - uma descoberta deliciosa!

frasco .jpg

 

lilás.jpg

 

Numa visita ao mercado de Ljubljana, e querendo trazer alguma coisa que não conhecesse, comprei óleo de sementes de abóbora.

 

IMG_20250704_115830.jpg

 

De facto, quando o comprei, não sabia nada sobre este óleo, mas depois de o provar fiquei com interesse em descobrir e aprender mais.

Quando, já em casa, deitei um pouco num prato, fiquei surpreendida por ser bastante espesso e com uma cor escura.

 

IMG_20250808_185007.jpg

 

Provei-o com pão,  senti um sabor forte e complexo, em que as sementes são muito evidentes, com uma presença mais forte até do que se sente ao comê-las, penso que por serem torradas antes da extração. Tenho-o comido com um bom pão e também a temperar saladas, a que junto sempre umas sementes de abóbora. Delicioso! Tenho é que o poupar... só tenho 100 ml.

É um produto usado em países da Europa Central e de Leste e são-lhe até atibuídos vários benefícios par a saúde. O óleo usado na Eslovénia, certificado com Indicação Geográfica Protegida, provém principalmente da região de  Štajerska  (Baixa Estíria). Para extrair o óleo que comprei, as sementes de abóbora são limpas e moídas, adiciona-se-lhes água com sal, e aplica-se um tratamento térmico em que as semente torram, quando se atinge o ponto desejado, aplica-se pressão às sementes moídas e quentes para extrair o óleo. Também há óleo produzido por extração a frio, em que as sementes não são torradas, este é mais leve e com um sabor mais suave.

É um óleo caro, 100 ml custaram 9 euros. Compreende-se, pois para obter 1 litro de óleo são precisos 3 kg de sementes de abóbora. É um óleo que não é usado para cozinhar, apenas para temperar saladas ou outros pratos, comer com pão, ou até deitar sobre gelados, o que penso experimentar em breve. 

Uma boa descoberta, um óleo delicioso!

 

28
Abr25

Um chocolate único! Primeiro estranha-se, depois entranha-se...

Solomons Gold Dark Nibs.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

Quando abri a embalagem do Solomons Gold 75% Dark Nib e o provei, estranhei... tive que pensar se gostava ou não. Um chocolate tão diferente! Intenso e com um forte sabor a fumo, complementado com notas de tabaco e cabedal. Uma textura suave, que contrasta com os nibs de cacau adicionados.

É produzido na Nova Zelândia, com cacau de plantações nas Ilhas Salomão, que têm um solo vulcânico responsável pelo sabor característico deste chocolate. É adoçado com açúcar não refinado de seiva de coco, um açúcar de palma produzido a partir da seiva do caule do botão da flor do coqueiro. Primeiro estranha-se, mas depois entranha-se... E rapidamente percebi que gostava muito. Um chocolate único!

As minhas aventuras com os chocolates bean to bar estão para continuar. Os últimos 8 anos, com os cerca de 400 chocolates diferente que provei, têm sido uma fascinante descoberta do chocolate e da sua imensa variedade! 

 

 

 

19
Dez24

Queijos Cheddar - mais conhecimento permite vê-los com outros olhos

Grace & James 1.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

Ouvi há umas semanas que o Cheddar é o queijo mais popular / consumido a nível mundial. Surpreendeu-me bastante, apesar de ser o queijo mais comum nos supermercados aqui no UK, pois não imaginava que lideraria o consumo a nível mundial. Resolvi ir confirmar, e encontrei algumas referências a isso (por exemplo, esta). 

Soube isto numa prova de queijos Cheddar, acompanhados de vários vinhos, cidra e cervejas, no Grace & James em Birmingham. Aprendi também que, apesar da sua origem ter sido na zona da aldeia de Cheddar, em Somerset, e das primeiras referências a este queijo datarem do início do século XII, é um queijo que não tem uma denominação de origem protegida (excepto os designados por West Country Farmhouse Cheddar), e é fabricado em todo o mundo (Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Uruguai, Canadá, EUA, África do Sul e vários países europeus como Alemanha, Irlanda, Holanda, Suécia e  Finlândia). 

Fiquei a saber que por questões de economia de guerra e de racionamento, durante a II Guerra Mundial, a maior parte do leite no UK ficava sob a alçada do Governo e era utilizado para fazer um único tipo de queijo, conhecido como "Cheddar do Governo", que não tinha propriamente um elevado nível de qualidade, e que acabou por  influenciar a imagem deste queijo. Esta política teve mesmo consequências dramáticas na produção de queijo neste país. Há dados que indicam que antes da I Guerra Mundial existiam em atividade mais de 3500 produtores de queijo e depois da II Guerra não chegariam aos 100.

Por todas estas razões não é de estranhar que as características e qualidade do queijo Cheddar variem muito. Uma outra consequência é que a produção industrial de Cheddar passou a ser a norma mesmo depois da II Guerra (e, eventualmente, em geral com uma qualidade reduzida) e só recentemente começaram a surgir produtores artesanais de Cheddar de qualidade. Curiosamente, os queijos artesanais têm o formato de rodas que pesam cerca de 25 Kg, e os queijos industriais são blocos (mais fáceis de cortar em porções regulares).

Já me tinha apercebido da diversidade de características e até reparado que nas embalagens de Cheddar há um número que indica a sua intensidade. Quando tentei encontrar informação sobre o significado dos números vi que de 1 a 5 correspondiam a mild - medium - mature - extra mature - vintage. Mas já os tenho visto com números superiores, os que compro normalmente têm intensidades entre 6 e 8.

 

 

Do seis queijo que provámos, um era fumado e portanto com características diferentes, um era de produção industrial (não disseram a marca, mas tinha alguma qualidade, embora menor complexidade que os restantes) e os outros quatro eram queijos artesanais. Estes: 1. Isle of Mull, 2. Hafod, 3. Westcombe e 4. Lincolnshire Poacher, produzidos respetivamente em Escócia, País de Gales, Somerset e Lincolnshire, tinham características visuais, de textura e sabor próprias, mas eram todos muito bons. O meus preferidos, em pé de igualdade, o Haford, com uma textura mais suave e cremosa e notas vegetais, e o Isle of Mull com uma textura mais dura e seca e um sabor complexo e forte.

 

Grace & James 3.jpg

 

A qualidade e o valor destes queijos artesanais é bem atestada por uma fraude recente que resultou no roubo de 22 toneladas queijos Cheddar no valor de 300.000 £ da Neal's Yard Dairy. Queijos de três produtores artesanais, entre eles o Westcombe e o Haford.

Foram umas horas bem passadas a provar o queijos, compará-los, e ver como emparelhavam com as diversas bebidas. Mas todos os factos relacionados com a história deste queijo permitiram compreender melhor a sua diversidade e apreciar com mais respeito queijos artesanais com a qualidade destes.

Os efeito das guerras são assustadores... a todos os níveis, e até na diversidade do que comemos, neste caso do queijo.

 

 

20
Abr24

Caixas de receitas e a sua contribuição para aumentar a qualidade da alimentação e da vida

caixa receitas.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

Durante algum tempo a minha filha mais velha sugeria regularmente que devíamos experimentar pedir uma "Recipe Box", ou seja uma caixa com kits completos para a preparação de vários pratos. Escolhemos quantos e que pratos queremos e o tamanho das doses (número de pessoas). Depois é aguardar que entreguem uma caixa onde vêm todos os ingredientes, na quantidade exata, para cada um dos prato (em geral é suposto apenas termos sal, pimenta, óleo e pouco mais), e as fichas detalhando a forma de os preparar. Finalmente é cozinhar cada prato, leva normalmente entre 15 e 30 minuto, e comê-lo.

Dizia-lhe que sim, que havíamos de experimentar, mas com algum ceticismo, e nem via muito as vantagens. Um dia ela anunciou que tinha mandado vir uma caixa e perguntou se eu não queria ir jantar a casa dela e ajudá-la a cozinhar.

Assim foi! Nesse dia o ceticismo desvaneceu-se, percebi as enormes vantagens, e fiquei impressionada com a qualidade. Ela ficou fã e, cerca de 3 meses e 40 receitas diferentes depois, nem sequer põe a hipótese de voltar atrás.

Pensar todos os dias no jantar, depois de um dia de trabalho e com crianças, era por vezes pesado... Nessas condições, a imaginação frequentemente deixava muito a desejar, até porque na hora em que decidiam, tinham que se basear apenas no que tinham em casa. Os vegetais, sobretudo, por vezes ficavam a aguardar na gaveta do frigorífico e depois... já era tarde demais, e acabavam no lixo.

O que é que a caixa de receitas mudou?  Escolhem todas as semanas 4 ou 5 pratos de uma lista de cerca de 250 por mês, em que há coisas para todos os gostos e requisitos alimentares, inspiradas nas cozinhas de todos o canto do mundo. No início da semana chega tudo, arrumam os ingredientes de cada prato, e à hora do jantar têm apenas que pegar no saco dos ingredientes de um dos pratos e, no máximo, meia hora depois está a comida na mesa. Comida com muito mais qualidade do que a maior parte da que se pede para entrega em casa, com vegetais, carne e peixe fresco, e que eles cozinham, uma atividade de que gostam e nesta condições até é relaxante. Frequentemente a minha filha até comenta que tem aprendido muitas técnicas novas, muito simples e que dão ótimos resultados.

A escolha inicial, de entre várias opções possíveis, foi feita com base no tipo de receitas e na sua variedade, e também no preço. A empresa escolhida foi a Gousto, que numa avaliação feita este mês pelo Independent foi considerada a melhor opção de todas as caixas disponíveis.

O preço é bem inferior ao de uma entrega ao domicílio, e bem razoável, se se tiver em conta a qualidade dos ingredientes e pratos, a variedade da alimentação, a quase ausência de desperdício, a forma como a vida é facilitada, e o tempo que se poupa - em média cerca de 4 £ (5 €) por pessoa por cada generosa refeição. 

Lembro-me de há uns anos surgir uma coisa semelhante em Portugal, mas era cara e rapidamente desapareceu. Neste momento não tenho conhecimento de nada deste tipo. Aqui é bastante comum e os números impressionam - a Gousto diz que vendem mais de 5 milhões de refeições por mês.

Precisei apenas de cozinhar e comer um prato para o meu ceticismo dar lugar a algum entusiasmo. Penso que este tipo de produtos pode desempenhar um papel importante no aumentar da qualidade da alimentação e da vida de muita gente. E ainda, mas não menos importante, a incentivar as pessoas a cozinharem.

 

Foto DAQUI

18
Fev24

Queijo e vinhos ingleses e ainda a crise climática

grace james.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

Vou ao Grace & James frequentemente. Por vezes ao fim da tarde para beber um copo de vinho, outras vezes para algumas provas de chocolates ou queijos e vinhos, muitas vezes para beber dos melhores cafés que conheço no Flock (um espaço independente dentro da loja) ou, de vez em quando, para comer um excelente ramen no Koba-Ko (um restaurante independente que agora ocupa o 1º andar). Vi o Grace & James abrir em 2018, um projeto interessante, que foi variando ao longo do tempo para se adaptar, e cedendo alguns espaços a outros negócios independentes.

 

queijos e vinhos ing 2.png

 

Recentemente estive lá numa interessante prova de queijos e vinhos ingleses.

 

queijos ingleses.jpg

Extra Mature Red Leicester, Warwickshire / Sinodun Hill, Herefordshire / Edmund Tew, Kent / Stichelton, Nottinghamshire / Baron Bigod, Suffolk / Ashcombe, Gloucestershire (começando no laranja e no sentido dos ponteiros do relógio)

 

Queijos muito bons, uns originalmente ingleses, outros produzidos em Inglaterra, mas inspirados em queijos franceses (por exemplo o Baron Bigod é inspirado no Brie, ou o Ashcombe inspirado no Morbier). Com os queijos foram servidos seis vinhos, o espumante Sov'ran Imperial Cuvée produzido em Sussex com uvas Pinot Noir de Kent e Chardonnay de Sussex,  três vinhos da Astley Vineyard (Saint Vincent (que de facto não é um vinho, é produzido juntando água às cascas das uvas  e fermentando - um piquette) e os brancos Severn (um vinho seco de um blend de Bacchus, Madeleine Angevine e Siegerrebe) e Brigid (um vinho doce de Late Harvest Kerner)), um tinto, o Diamond Fields Pinot Noir da Davenport Vineyards em Sussex, e um rosé, o The Field Blend de Matt Gregory.

Uma experiência muito interessante, em que falámos dos produtos e produtores, métodos de produção de queijos e vinhos, da evolução dos vinhos ingleses que, em particular devido às alterações climáticas, vão sendo cada vez melhores, mas sendo ainda mais caros que vinhos do mesmo nível de outras proveniências. Os espumantes já atingiram um elevado nível de qualidade, li depois que nalgumas provas cegas já foram melhor avaliados dos que alguns champanhes, e os tintos são os que ainda têm níveis mais baixos de qualidade.

Foi referido o facto de alguns dos grande produtores de Champagne estarem a comprar terrenos em Inglaterra, pois com o aquecimento global o clima em França está a começar a ficar demasiado quente para cultivar as uvas para o champanhe e os franceses tiveram de começar a procurar locais alternativos com clima mais frio. Tanto o solo quanto o clima no sudeste da Inglaterra são bastante adequados para o cultivo das uvas que começam a ter mais dificuldade em produzir em França. Confirmei depois estas informações num artigo publicado o ano passado, em que se refere nomeadamente que o clima no sudeste de Inglaterra é idêntico ao de Champagne há 30 anos, tendo ainda essa região um solo calcário de boa drenagem que permite a produção de uvas para espumante. Diz-se ainda que a Pommery foi a primeira empresa a comprar terrenos em Inglaterra (40 hectares em 2016) para produzir uvas das castas mais usadas no champanhe, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Esta empresa, inclusivamente, já  lançou um espumante inglês, considerando que usar a experiência secular de Champagne em Inglaterra lhes permitirá obter bons resultados.

Uns dias depois li um artigo (No more chocolate, coffee or wine? "Last supper" shows stakes of climate crisis) no The Guardian sobre jantares que têm sido feitos, em particular nos EUA, para sensibilizar para o efeito das alterações climática na nossa alimentação e na agricultura, mas também como os sistemas alimentares, um dos principais impulsionadores das alterações climáticas, podem ser adaptados para evitar os resultados mais extremos. Os pratos são confecionados com produtos comuns que em breve podem mudar drasticamente, tornar-se muito mais caros, ou mesmo desaparecer. Por exemplo, nos casos do vinho, café e chocolate, podem ocorrer grandes perdas nas colheitas apenas com um ligeiro aquecimento, tornando estes produtos raros e caros, e afectando assim não só a nossa qualidade de vida e identidade, como também os meios de subsistência e os modos de vida de muita gente. Pequenos declínios em produtos básicos podem originar choques económicos, maior insegurança alimentar, mudanças migratórias e conflitos.

Isto acontecerá num futuro bem próximo, por exemplo o café precisa de um clima estável, com noites frescas e dias quentes, e com um aquecimento de  2ºC até 2050, metade das regiões que cultivam café deixariam de ser adequadas. É também referido que se nada mudar, a produção de cacaueiro será eliminada até 2050.

Assuntos que dão que pensar, sobretudo porque a forma de nos alimentarmos é um aspeto profundamente enraizado e fundamental da nossa identidade e bem estar. Vai ser preciso libertarmo-nos de muitos preconceitos, e também muita abertura e criatividade para lidar com tudo isto, e para tal é essencial investir na investigação científica para produzir conhecimento e alternativas, e ainda na formação para transmitir conhecimento essencial para novas práticas alimentares.

 

2ª Foto DAQUI

 

 

29
Ago22

Cafés Vietnamitas - outras culturas, outras formas de preparar o café

IMG-20220409-WA0006.jpg

 

beige.jpg

 

Estava a ler um artigo sobre um novo café que abriu em Londres, o Trampoline, a certa altura, relativamente a um dos sócios, dizem:

 

This passion for speciality coffee was cemented in 2013 when he visited Ethiopia. The realisation that there were other countries that had as much passion for coffee as the Italians had was ‘life changing’, in his own words. These cultures had coffee embedded in their lives, they loved coffee, they knew coffee, the only difference was how they prepared it and served it.

 

As diferentes formas como, em diferentes culturas, se preparam os mesmos produtos é fascinante. Ao ler isto, lembrei-me dos cafés vietnamitas, e das formas diferentes de os preparar. Há alguns anos que me despertam a curiosidade. O café produzido no Vietname é essencialmente café Robusta que tende a apresentar sabor terroso, e é normalmente mais amargo e encorpado do que o café Arábica. Além disso, o processo de fermentação e o de torra usado, lento e longo em que se obtêm grãos com uma cor consistente e escura, resultam num café amargo que é equilibrado com leite, açúcar ou, frequentemente, com leite condensado.

Em geral o café é preparado em porções individuais na mesa com o phin, um filtro próprio de metal (1ª foto), colocado sobre um copo ou caneca de vidro. Muitas vezes o copo tem um pouco de leite condensado. Ver o café a gotejar vai abrindo o apetite para o beber.

Uma outra forma vietnamita de preparar café, o Cà Pê Trung, usa ovos. Consta que data de meados dos anos 1940 e o objetivo era ultrapassar as limitações da escassez de laticínios para as bebidas de café habituais. 

Já tinha experimentado fazer o Cà Pê Trung, mas nunca o tinha provado feito por vietnamitas. Aconteceu algumas vezes nos últimos meses. A camada superior de uma espuma densa e doce, com intenso sabor a leite e ovos, quase uma sobremesa, contrasta com o amargo café que está por baixo. 

 

IMG_20220330_142412.jpg

 

 

08
Ago21

Na Lata

Muitos doces sabores a descobrir dentro de uma lata!

Na Lata 1.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

O que para uns é comida conforto, para outros pode ser descoberta, quase uma aventura de sabores. Foi o que pensei há dias quando provei um Bolo de Milho e Goiabada, uma Edição Especial de Na Lata. Uma combinação de produtos algo exótica para mim. Uma descoberta maravilhosa!  O Bolo de Coco, bem cremoso, era também irresistível! 

 

Na Lata 4.jpg

 

O projeto Na Lata, da Jessica Torres, começou durante a pandemia, primeiro como forma de mimar amigos, que depois decidiu fazer chegar a quem sente falta dos sabores de infância, mas de igual fora a quem quer fazer novas descobertas, ou simplesmente mimar-se e adoçar os dias.

 

A originalidade dos bolos da Na Lata é que associam as características e os sabores dos bolos caseiros, a uma imagem e forma de os disponibilizar inovadora. O tamanho é pequeno - cerca de 250 g, o que permite variar e não nos cansarmos de uma dado sabor. Porquê só um se três, ou quatro, ou cinco... nos permitem experienciar uma variedade de sabores? E há sempre bolos novos...  

 

A dualidade entre comida conforto e sabores mais exóticos voltei a senti-la com outros dois bolos, o Bolo de Laranja e o Bolo de Creme de Leite e Flor de Sal.

 

Na Lata 2.jpg

 

O Bolo de Laranja lembrou-me um bolo muito habitual em minha casa quando era criança. Lembro-me de ver  a minha Mãe regar o bolo, quando saía do forno, com sumo de laranja açúcarado. Depois era a longa espera até arrefecer e chegar a hora do lanche para o comermos. Já o Bolo de Doce de Leite remetia a experiências mais recentes, incrementadas com um toque de flor de sal. Mas a surpresa, quando abri a lata, tornou-o ainda mais especial. Era tão bonito, tanto detalhe e cuidado dentro daquela lata!

 

Na Lata 3.jpg

 

Como prometido na embalagem, o bolos Na Lata trazem felicidade a cada mordida!

 

 

12
Mai19

Ingera - uma espera de 20 anos para o provar. Será que valeu a pena?

IMG_20190406_142033.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

 

Passaram 20 anos desde que ouvi falar deste pão até o provar!  Mas a história é longa... Em 1995 foi lançado o site Epicurious da Condé Nast, que também tinha as revistas Bon Appétit e Gourmet. Talvez tenha descoberto o site porque por vezes comprava as revistas, não me lembro. Mas o que de facto despertou o meu interesse, e de que me lembro muito bem, foi o Forum de discussão e troca de receitas, o Gail's Recipe Swap.  Isto muito antes de sequer se pensar nas redes sociais atuais. Não havia dia que não acompanhasse (geralmente  várias vezes por dia) o que se passava no forum. Não participava muito, mas lia muito. Acho que foi lá que descobri que havia muita gente como eu, com uma grande paixão por cozinha e comida. Mas o que me fascinava era todo o conhecimento que tinham. Sabiam tudo! Foi com receitas de lá que no final da década de 1990 comecei a fazer fumados em casa e a cozinhar carne a baixa temperatura, e muitas outras coisas. Lá aprendi muitíssimo! Um dia fizeram mudanças no site, eu sei que tem que se evoluir, mas aconteceu-me ali o que já me aconteceu noutros locais, deixa de ser familiar, passo a ir menos, e um dia... nada dura para sempre.  Felizmente imprimi muitas das coisas que me despertaram a atenção e tenho vários dossiers com essas impressões. Hoje fui buscar um, fiquei com vontade de perder umas horas com eles.

 

Mas voltando ao assunto do post... Um dia alguém perguntou lá o que era Injera. Rapidamente apareceu quem soubesse tudo sobre Injera e o explicasse. Era um pão da Etiópia feito com farinha de Teff e fermentado. Uns crepes enormes (cerca de 50 cm de diâmetro), finos, mas esponjosos e macios. Esqueci-me de milhares de outras perguntas que fizeram, mas nunca da do Injera. Farinha de Teff era inacessível, nem sequer podia fazer para experimentar. Imaginei-o, mas apenas isso. 

 

Pouco tempo depois comprei o livro Flatbreads & Flavors de Jeffrey Alford e Naomi Duguid, um livro que me marcou muito. O Ingera era um dos flatbreads de que falavam e davam a receita. No meio de tantos pães se calhar nem teria reparado no Ingera, mas dado que antes as conversas no Gail's Recipe Swap me tinham chamado a atenção, reparei nele. Mas o livro tinha poucas ilustrações e nem uma foto tinha... Dizia contudo que o Injera era usada como uma superfície para comer, e que em pedaços era usado para recolher e embrulhar a comida que se ia metendo na boca. Interessante!

 

Há tempos a minha filha mais nova disse-me que tinha ido com uns amigos a um restaurante da Etiópia.Traziam um prato grande que punham no meio da mesa e toda a gente comia do mesmo prato com as mãos. Disse-me que achava que eu gostaria de lá ir. E gostava... a experiência parecia-me interessante, mas havia uma coisa que ela não tinha referido que me fazia ter muita vontade de lá ir. Certamente teriam Injera!

 

Foi assim que 20 anos depois entrei no Blue Nile em Birmingham com a grande expetativa de provar Injera.

 

IMG_20190406_135631.jpg

 

Pedimos, e pouco depois trouxeram um tabuleiro redondo grande coberto por um Injera e sobre ele a nossa refeição. Vinha também um cesto com metades de Ingera enrolados. 

 

IMG_20190406_141955.jpg

 

Começou a aventura!  Que acompanhei com uma cerveja da Etiópia.

 

IMG_20190406_140436.jpg

 

Primeiro fiz, para os meus acompanhantes, uma revisão das regras de boa educação para comer com as mãos:

- Tudo aquilo em que se pega é retirado e deve ser comido;

- Comer lentamente para não parecer que se está a querer ficar com a comida do vizinho;

- Comer só da zona do prato mais perto de nós;

- Só se usa mão direita e os dedos não tocam na boca;

- A porções que se levam à boca devem ser pequenas;

- Nunca se prepara novo pedaço, enquanto não se engolir o anterior.

 

Não digo que tenhamos cumprido rigorosamente todas as regras de boa educação. Mas não foi terrível também. No final não ficou nada para amostra, nem da comida, nem do Ingera sobre o qual ela estava,  nem dos Injera que nos trouxeram à parte.

 

Provar o Ingera foi uma experiência marcante! Valeu a pena, é um pão especial. Um sabor agradável, levemente ácido, mas sobretudo a textura extremamente macia e esponjosa, apesar de fino. Adorei!  

 

 

04
Mai19

La Fauxmagerie - e os seus falsos queijos

IMG_20190427_142038.jpg

 

castanho escuro.jpg

 

 

Andava eu há dias a Flâner no Mercado de Brixton...

 

IMG_20190427_143850.jpg

IMG_20190427_141613.jpg

IMG_20190427_141646.jpg

IMG_20190427_143241.jpg

IMG_20190427_143247.jpg

IMG_20190427_143927.jpg

 

Quando de repente, inesperadamente, dou de caras com a La Fauxmagerie.

 

IMG_20190427_142028.jpg

 

A estória até podia ser assim, mas não foi. 

 

A La Fauxmagerie abriu em Londres no início de Fevereiro, surgiram de repente na imprensa imensos artigos sobre esta loja que vende "queijos" à base de plantas. Falavam do sucesso que fazia, das filas`porta... Fiquei curiosa e decidi que quando voltasse a Inglaterra lá iria com a minha filha. Aconteceu agora pela altura da Páscoa. Foi essa  razão que me levou ao mercado de Brixton. Já agora, depois de visitar a loja foi um prazer Flâner pelo mercado.

 

Voltando à loja, ela pertence a duas jovens irmãs uma delas intolerante à lactose e outra vegana. As duas gostavam de queijo e decidiram abrir um loja com produtos de qualidade, à base de plantas, desenvolvidos para substituir o queijo. O objetivo é oferecerem produtos para pessoas que por razões éticas ou de saúde não consomem queijo, e assim não tenham que ser privadas de um sabor e um hábito de consumo que tinham antes. Mas, para além disso, consideram que os produtos que vendem valem por si e que a sua qualidade os torna atraentes até para aqueles que comem queijo. Para além do falso queijo vendem também bom pão, compotas e um produto que imita o mel (dizem que muito bem).

 

Logo após a abertura a associação dos produtores de queijos ingleses (Dairy UK) contactou-as a pedir para removerem a palavra "cheese" e tudo o que estava relacionado com a loja. Dizem que é enganador. Elas responderam-lhes convidando-os a visitar a loja, pois teriam muito gosto em lhes mostrar e dar a provar os produtos que vendem. Disseram-lhes que havia espaço no mercado para todos.  Disseram ainda que a palavra "cheese" vem da palavras "kwat" do Proto-Indo-Europeu, que significa fermentado ou ácido, e que os queijos que vendem obtidos com base em cajus, ou outros frutos secos, e em soja, são também fermentados. Dá que pensar... E também dá que pensar porque é que os produtores de queijo se preocupam tanto com uma pequena loja no mercado de Brixton que vende produtos produzidos artesanalmente e em pequena escala, também por um conjunto de jovens.

 

Quando entrei na loja quase fiquei desiludida... era tão, tão pequena! Apenas um balcão com queijos que tinha menos de 1m2. Ainda tinha uma grande variedade, mas era meio da tarde de sábado e muitos já existiam em pequena quantidade. 

 

IMG_20190427_142226.jpg

IMG_20190427_142153.jpg

 

Provámos vários e fui ficando mais entusiasmada, valiam por si, eu comeria qualquer um deles com prazer. Saímos com um conjunto de queijos:

 

IMG_20190427_231447.jpg

 

Um tipo cammembert da Mouse's Favourite,  o Nerominded - Black Trufle da I Am Nut OK (uma base de caju fermentada, com carvão ativado e óleo de trufa negra). No interior uns veios dourados de curcuma e por cima também polvilhado com curcuma. Lindíssmo e bastante bom. Já que a minha foto não lhe faz justiça, aqui fica a foto do site.

 

NeroMinded_side.jpg

 

Trouxemos ainda outro queijo lindíssimo com espirulina da Kinda Co. 

 

Os quatro muito bons, com um aspeto atraente e que eu comeria por aquilo que valem.

 

Já tenho saudades...

 

IMG_20190427_143603.jpg

 

Hei-de voltar para Flâner mais um pouco no Mercado de Brixton e comprar mais uns queijos veganos.

 

 

Mais sobre mim

Seguir

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Comentários recentes

  • Anónimo

    Terrível é errar na vida e não reconhecer, ou vice...

  • Tatyana Comper

    Errar é humano, já diz o ditado, mas acredito que ...

  • Paulina Mata

    Se por acaso conseguirem arranjar, fica excelente ...

  • Paulina Mata

    Só posso dar razão ao seu amigo.

  • Anónimo

    Ao concordar com esse imigrante , amigo de muitos ...