Queijos Cheddar - mais conhecimento permite vê-los com outros olhos
Ouvi há umas semanas que o Cheddar é o queijo mais popular / consumido a nível mundial. Surpreendeu-me bastante, apesar de ser o queijo mais comum nos supermercados aqui no UK, pois não imaginava que lideraria o consumo a nível mundial. Resolvi ir confirmar, e encontrei algumas referências a isso (por exemplo, esta).
Soube isto numa prova de queijos Cheddar, acompanhados de vários vinhos, cidra e cervejas, no Grace & James em Birmingham. Aprendi também que, apesar da sua origem ter sido na zona da aldeia de Cheddar, em Somerset, e das primeiras referências a este queijo datarem do início do século XII, é um queijo que não tem uma denominação de origem protegida (excepto os designados por West Country Farmhouse Cheddar), e é fabricado em todo o mundo (Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Uruguai, Canadá, EUA, África do Sul e vários países europeus como Alemanha, Irlanda, Holanda, Suécia e Finlândia).
Fiquei a saber que por questões de economia de guerra e de racionamento, durante a II Guerra Mundial, a maior parte do leite no UK ficava sob a alçada do Governo e era utilizado para fazer um único tipo de queijo, conhecido como "Cheddar do Governo", que não tinha propriamente um elevado nível de qualidade, e que acabou por influenciar a imagem deste queijo. Esta política teve mesmo consequências dramáticas na produção de queijo neste país. Há dados que indicam que antes da I Guerra Mundial existiam em atividade mais de 3500 produtores de queijo e depois da II Guerra não chegariam aos 100.
Por todas estas razões não é de estranhar que as características e qualidade do queijo Cheddar variem muito. Uma outra consequência é que a produção industrial de Cheddar passou a ser a norma mesmo depois da II Guerra (e, eventualmente, em geral com uma qualidade reduzida) e só recentemente começaram a surgir produtores artesanais de Cheddar de qualidade. Curiosamente, os queijos artesanais têm o formato de rodas que pesam cerca de 25 Kg, e os queijos industriais são blocos (mais fáceis de cortar em porções regulares).
Já me tinha apercebido da diversidade de características e até reparado que nas embalagens de Cheddar há um número que indica a sua intensidade. Quando tentei encontrar informação sobre o significado dos números vi que de 1 a 5 correspondiam a mild - medium - mature - extra mature - vintage. Mas já os tenho visto com números superiores, os que compro normalmente têm intensidades entre 6 e 8.


Do seis queijo que provámos, um era fumado e portanto com características diferentes, um era de produção industrial (não disseram a marca, mas tinha alguma qualidade, embora menor complexidade que os restantes) e os outros quatro eram queijos artesanais. Estes: 1. Isle of Mull, 2. Hafod, 3. Westcombe e 4. Lincolnshire Poacher, produzidos respetivamente em Escócia, País de Gales, Somerset e Lincolnshire, tinham características visuais, de textura e sabor próprias, mas eram todos muito bons. O meus preferidos, em pé de igualdade, o Haford, com uma textura mais suave e cremosa e notas vegetais, e o Isle of Mull com uma textura mais dura e seca e um sabor complexo e forte.
A qualidade e o valor destes queijos artesanais é bem atestada por uma fraude recente que resultou no roubo de 22 toneladas queijos Cheddar no valor de 300.000 £ da Neal's Yard Dairy. Queijos de três produtores artesanais, entre eles o Westcombe e o Haford.
Foram umas horas bem passadas a provar o queijos, compará-los, e ver como emparelhavam com as diversas bebidas. Mas todos os factos relacionados com a história deste queijo permitiram compreender melhor a sua diversidade e apreciar com mais respeito queijos artesanais com a qualidade destes.
Os efeito das guerras são assustadores... a todos os níveis, e até na diversidade do que comemos, neste caso do queijo.