Lucky Peach - um projecto que chegou ao fim
Houve alturas em que comprava muitas revistas relacionadas com comida. Agora compro menos, muito menos. Muitas vezes acabava por mal passar as páginas. Dantes também comprava quase tudo. Depois fui reduzindo o leque de opções. Dificilmente comprarei uma revista que tem só receitas. Mas compro algumas que têm predominantemente receitas, como a Good Food ou a Olive. Gosto delas e proporcionam-me agradáveis momentos de descanso. Um descanso simples, em que leio receitas, e vou mentalmente saboreando os pratos. Intercalados com as receitas há por vezes artigos bem interessantes. Aliás, assino as duas e a ligação a elas é de longa data. A Good Food foi lançada em 1989, comecei a comprá-la em 1990, quando estive um ano a trabalhar na Universidade de Leeds. Tenho por casa centenas de exemplares, nunca deitei nenhum fora. Já nem me lembro como é a vida sem ela. A Olive foi lançada bem depois, em 2003. Por acaso numa visita a Londres comprei o primeiro número e quase de seguida acabei por assiná-la também e devo ter quase todos os números. São revistas muito bem feitas, com temas interessantes, mas para um público vasto.
Quando saiu a Lucky Peach em 2011, comprei-a, de facto só dei por ela no segundo número. Uma revista bem diferente, de que gostei muito. Uma revista irreverente, em que escreviam pessoas muito conceituadas na escrita gastronómica. Uma revista para um nicho de mercado, e que na altura percebi ter meios e uma equipa reduzida. Quase sem publicidade (ultimamente mais). Quase uma revista de culto. De tal forma assim é que o primeiro número, quando o quis comprar, estava esgotado e os preços que pediam por ele eram bem elevados, e está à venda actualmente por cerca de 250 euros. Fui comprando a Lucky Peach regularmente (todos os números) durante alguns anos, e depois menos regularmente. Os excelentes e interessantes artigos proporcionaram-me imenso prazer. Não o prazer simples e confortante das que referi antes, mas o que advém do estímulo intelectual e de uma leitura que requer mais concentração.
Foi assim com muita tristeza que ontem li no New York Times que a Lucky Peach vai acabar. O que já tinha sido anunciado antes no site da revista de uma forma muito original - We Need to Talk, Grab a Chair. Crises de crescimento, diferenças de objectivos e de visão entre os vários sócios. O facto destes virem de áreas diferentes, o David Chang, chefe e os outros sócios ligados à escrita e edição gastronómica, que era um dos pontos fortes da revista, tornou-se também um dos factores que levou ao fim do projecto.
Fiquei triste... vou sentir a falta da Lucky Peach. Para já vou comprar os números que não tenho. Vão-me proporcionar uma leitura de qualidade ainda durante algum tempo.