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Assins & Assados

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04
Nov18

Inaceitável!  Como se justificam este tipo de reações relativamente a quem apenas não quer comer produtos de origem animal?

waitrose editor.jpg

 

verde escuro.jpg

 

A resposta que William Sitwell, editor do Waitrose Magazine, deu a uma jornalista freelancer, Selene Nelson, que o contactou a propor uma serie de artigos sobre comida vegana, tem sido a causa de uma grande polémica na última semana no Reino Unido. Não só através das redes sociais, mas também em toda a imprensa. Situação que culminou com a demissão de Sitwell, escritor, editor há cerca de 20 anos do Waitrose Magazine, e elemento do júri do MasterChef.

 

Segundo a própria jornalista os motivos que levaram a propor esse trabalho e o que de facto propôs foram:

 

Last week, I pitched an article to my favourite food magazine. Inspired by Waitrose’s announcement that plant-based sales had soared 85 per cent, I emailed Waitrose Food‘s editor, William Sitwell, about a new series on vegan food: plant-based recipes, tips from vegan chefs, new ways of cooking with new ingredients. This series wouldn’t just appeal to vegans, I wrote, but anyone looking to eat more healthily and sustainably. The email was sent in a professional capacity, to the email address Sitwell publicises on his website – not, as claimed, a “private email”.

 

A resposta de Sitwell foi a seguinte:

 

sitwell.jpg

 

É incompreensível num país em que há mais de 3,5 milhões de consumidores veganos, e trabalhando Sitwell para a uma cadeia de supermercados que pretende ter um posicionamento a um nível de topo, não só em termos de qualidade, mas também em termos de sustentabilidade e comportamento ético. E neste caso isso não se refere apenas à forma de produção do que vendem, mas também respeito e condições de trabalho oferecidos aos colaboradores (que são referidos como partners) e em relação ao bem estar dos clientes.  A Waitrose foi ainda a primeira cadeia de supermercados no Reino Unido a ter uma linha própria de produtos veganos. Considerando tudo isto a resposta é ainda mais chocante, revelando também uma grande falta de profissionalismo e de responsabilidade. Atualmente este tipo de coisas chega em poucas horas ao conhecimento de milhões de pessoas e envolve não só quem escreve mas, em situações como estas, a imagem das empresas.

 

Quando li pela primeira vez, fiquei curiosa com o desenrolar do processo. Na minha opinião ele não podia continuar nem mais um dia, sob pena de ferir gravemente a reputação da Waitrose. A empresa imediatamente disse que o que tinha sido dito por Sitwell não refletia de todo a sua posição. As opiniões dividiram-se entre aqueles que enquanto não fosse tomada uma posição mais forte pela empresa deixariam de consumir produtos desta cadeia de supermercados, e aqueles que desvalorizavam o teor do email, considerando-o um email privado, ou vendo nele algum sentido de humor. Aliás, desculpa dada pelo próprio Sitwell.

 

He said he had enjoyed working on Waitrose Food for the last two decades and reiterated his “apology to any food and life-loving vegan who was genuinely offended by remarks written by me as an ill-judged joke in a private email and now widely reported”.

 

Um email enviado pelo editor de uma revista, em resposta a uma proposta profissional de trabalho pode ser considerado um email privado?  Parece-me que não.

 

Um email que revela uma atitude hostil e até ódio relativamente a um grupo de consumidores que apenas decidiu não comer produtos de origem animal é aceitável? Parece-me que não. 

 

É inacreditável o que se ouve quando se fala de veganos, desde chefes a dizer que se querem comer assim, que comam em casa e não saiam à rua, até coisas como estas. Mas não só, é muito desgastante ter que justificar constantemente uma opção alimentar que não obriga ninguém e ouvir constantemente "piadas" desagradáveis, ou questões que são sempre as mesmas.

 

Na generalidade o objetivo de quem segue esta dieta não é fazer ninguém sentir-se mal, mas preocupações com o bem estar animal, e portanto consumir excluindo, tanto quanto possível, tudo o que resulte de exploração de animais e crueldade relativamente a estes. Mas também preocupações com o ambiente, a sustentabilidade e a saúde. Aliás estas últimas razões têm feito com que muitas pessoas mudem a sua dieta, e mesmo quando não se tornam 100% veganos, tenham tendência a consumir cada vez mais pratos baseados em plantas.

 

Coisas que dão que pensar...

 

 

 

8 comentários

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    Anónimo 06.11.2018

    Violeta, obrigada por não ser uma vegana fundamentalista. Como já disse, nada tenho contra o veganismo por razões éticas, só não consigo ultrapassar o facto dos movimentos veganos utilizarem argumentos falsos, como a digestibilidade de certos alimentos ou a falta de benefícios do consumo de leite para o ser humano. São impróprios na discussão e criam muito do ruído que aqui se fala. Já agora, se ninguém comer carne, abatemos os animais? É que continuam a produzir gases, e é uma das novas trends para os defensores do não consumo de carne, e penso que não será uma preocupação vegana.
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    Paulina Mata 06.11.2018

    Eu não sou vegana. Mas tenho que reconhecer que grande parte dos animais são criados exclusivamente para a alimentação humana, não resultam de um processo de reprodução "natural". E nunca seremos todos veganos.

    Eu bebo leite, e gosto muito. Acho que pode fazer bem, é uma fonte de nutrientes. Mas esses nutrientes podem encontrar-se noutros alimentos. Mais do que isso, uma enormíssima percentagem de pessoas no mundo não pode consumir leite, porque não produz a enzima lactase, sendo intolerantes à lactose.

    https://www.reddit.com/r/MapPorn/comments/76qlo2/lactose_intolerance_map_of_the_world_2535x1263/

    Concordo consigo que há muitos argumentos falsos, distorcidos, fora de contexto, alguns usados por veganos, mas não exclusivamente, são usados por toda a gente. Basta pegar em qualquer revista de life style ou ler muitos dos blogs mais populares...
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    Paulina Mata 06.11.2018

    E tal como o uso de argumentos falsos ou distorcidos é um problema geral. Também a superioridade moral, já aqui referida, e que pode existir nalguns vegetarianos e veganos, não é exclusiva deles. Uns sentirão isso, outro não, mas existe também noutro tipo de opções (alimentares e não só), como é o caso dos alimentos orgânicos, de uma comida saudável (não necessariamente vegetariana), de um comida pura, de uma comida local… já referi isso aqui algumas vezes.
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    Adriano 07.11.2018

    Isto anda animadíssimo. E animados são os animais.

    “Philip Wollen há vários veganos que se tornaram veganos precisamente porque se preocupam com humanos.”

    Numa nota humorística, seria de aconselhar o Philip que o mundo beneficiaria muito mais se ele deixa-se de ser banqueiro do que começasse a ser vegano.
    Um banqueiro preocupado com as criancinhas.... ummm cheira a fake news. Se isto foce verdade já tinha aberto o telejornal.
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    Violeta (uma dessas veganas chatas) 07.11.2018

    Adriano, se voltar a ler o meu comentário verá que eu disse "antigo vice-presidente do Citibank". Ele deixou a presidência do banco precisamente porque deixou de concordar com essa indústria, ou uma pessoa não pode mudar os seus valores?

    Não vou continuar está conversa porque ficaríamos aqui horas mas no fundo resume-se a um tweet que eu acabei de ver hoje em inglês que aqui traduzo:

    "Porque ê que tantas pessoas tentam encontrar falhas e problemas no veganismo? Porque é que estão sempre a tentar dissecar e argumentar contra uma coisa cujo o único objectivo é reduzir sofrimento e ser mais gentil para com os outros e o planeta?"

    Como última observação só quero chamar a atenção para isto: fala
    -se muito de os veganos serem militistas, fundamentalistas e de quererem impor os seus valores, mas raros são os posts na internet que só de falar de veganismo e sem ser contra omnívoros não suscitem logo um monte de comentarios de omnívoros a argumentar contra o veganismo ou a insultar veganos (como se viu com o exemplo deste post.) Posto isto, quem são na verdade os militistas que tentam impor os seus ideais? Quem são os fundamentalistas? Pois... Pessoalmente eu acho mais fundamentalista pessoas que ficam tão ofendidas por outras terem uma alimentação que difere da norma, pessoas que claramente se preocupam tanto com mudanças e algo diferente que têm de criticar os outros que têm práticas que não os afectam. Certamente acho isso muito mais fundamentalista do que não se comer animais porque não se quer causar morte e sofrimento desnecessário.
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    Adriano 07.11.2018

    Cara violeta,

    Ninguém aqui neste blog insultou seja quem for. Já reparei que a Violeta se assenta sempre num sólido argumento: que têm os outros a ver com o que como e com a ética que quero incorporar na minha alimentação? Tudo correcto, vou deixar um exemplo que não é um contra argumento, simplesmente um acrescento sobre ética:

    Será igualmente ético perguntar num restaurante “normal” se têm uma opção vegana a perguntar a restaurante vegano se há uma excepção para quem quer um bife? Se sim, se todos os restaurante veganos estão preocupados com os outros e se sim se têm bifes, então minha amiga, ganhou esta conversa toda e de pronto me calo.

    Se não, resta ver onde está a compreensão e o respeito pelo outro, pelas suas opções e pelas suas éticas decisões omnívoras. No fundo a reciprocidade da boa e ética convivência.

    ABC
    Ps: Quem tem mãe tem tudo. Abc
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    Paulina Mata 07.11.2018

    Aqui fica a minha opinião relativamente às suas questões.

    Um restaurante é um projeto pessoal de alguém, mas também um negócio. Sendo um projeto pessoal, esse alguém pode fazer o que muito bem entende. Isso não pode de todo ser visto como falta de ética. É uma opção, cada um está no direito de fazer o que quer. Sendo um negócio, há que se adaptar à realidade para sobreviver. Estamos numa época bastante disruptiva, em que muita coisa está a mudar. Cada um pode ter as opções que quiser, mas corre o risco de ficar "fora de moda", com as respetivas consequências para o negócio.

    Num restaurante vegano toda a gente pode comer, desde que queira. Um restaurante que não tem nada de vegano, excluí pessoas. E note que pode excluir muitas pessoas. Se num grupo de 10 houver 1 pessoa vegana. Perde os 10 clientes.

    Eu perfiro restaurantes que oferecem coisas para todos. Gosto dessa diversidade. E os pratos veganos não são só para veganos, são para todos.
    Entendo veganos que prefiram restaurantes veganos apenas, têm mais garantias de não haver enganos (porque às vezes há). São negócios mais coerentes com os seus valores.

    Mas, temos que concordar que é um grande desafio para cozinheiros. É uma nova forma de pensar num menu, de pensar num prato. Como dizia há dias num outro comentário, com a necessidade de adaptação, em Inglaterra, começa a haver grande procura de chefes com competências em cozinha baseada em vegetais. De facto começa a haver muita falta. Tanta que começam a surgir cursos sobre isso (pus um link para um artigo sobre isto).

    E convenhamos, uns pratos só de vegetais não fazem mal a ninguém, e podem ser muito bons. Mas como disse, é opção de cada um na sua casa fazer o que quer.

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