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07
Out19

In Between - Um almoço feito a quatro mãos, mas como grande coerência estética

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Há pouco mais de uma semana estive no almoço / performance In Between integrado na Lisbon Food Week com o Tiago Feio e a Ana Raminhos.

 

Descrito no programa do evento da seguinte forma:

Um almoço/performance onde exploramos a dicotomia Lisboa/natureza. Começamos com uma série de oposições binárias muito simples: natureza versus gastronomia, interior versus exterior, complexidade versus simplicidade. Ao estabelecermos oposições binárias simples como ponto de partida para este projeto, permitimos que o campo de testes seja o espaço intermédio, o lugar de complexidade, um lugar mais rico. Para este projeto reconhecemos o contraste aparente entre a cidade artificial e o natural, mas também entendemos a cidade como viva e orgânica. Como uma floresta, Lisboa é uma estrutura de vida: sólida, mas também nebulosa, bonita em qualquer momento, mas em constante mudança.

 

O almoço decorreu no último andar das Carpintarias de São Lázaro, um espaço cultural multidisciplinar (artes visuais, música, teatro, dança, cinema... e até gastronomia) e contemporâneo. Desta vez  papel central era o da gastronomia. O espaço enorme e completamente nu, ainda a destacava mais. A única distração possível era a vista da cidade através das enormes janelas. Porém, a cidade era um elemento inspirador, e também integrante, do projeto. Haveria melhor zona da cidade para o almoço decorrer do que aquela onde estávamos, com a sua grande complexidade e diversidade e a consequente riqueza? 

 

Chegámos e não havia mesa, nem cadeiras... nada, apenas algumas ripas de madeira em dois montes. Formavam dois paralelepípedos idênticos. Estávamos numa antiga carpintaria... fazia sentido. De copo na mão andávamos por ali, vendo a cidade e trocando algumas palavras com o Tiago Feio e a Ana Raminhos, que ultimavam os preparativos num espaço minimalista ao fundo - quase sem equipamento e sem água. Apenas duas mesas pequenas.

 

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A certa altura a Ana e o Tiago construíram a mesa. E nós íamo-nos interrogando - o que era? como funcionaria?

 

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Surgiram também umas almofadas brancas que puseram à volta. Era a nossa mesa e íamos comer sentados no chão. Assustou-me... acreditem que sim! Estar ali algumas horas sentada no chão... não ia ser fácil.

 

Ocupámos os nossos lugares vieram os talheres...

 

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Logo a seguir começou a refeição, que se desenrolou em 8 momentos.

 

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Cuscos de Trás-os-Montes cozinhados como se fosse um arroz cremoso, Romã

 

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Emulsão de azedas com limão e mel, Uvas, Bolo esponja com matcha e uma variedade de ervas aromáticas

 

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Nas mesas do fundo o trabalho continuava para que a comida chegasse à nossa mesa, trazida pelos chefes e pela Ana Cachaço.

 

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Gema curada, Caldo de cebola caramelizada, Trigo sarraceno, Halófitas e Beldroegas

 

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Puré de shiitake, Espinafre selvagem e Crocantes de sementes

 

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Novilho dos Açores, Iogurte de alho fermentado e Pickles de alga kombu

 

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Toffee de molho de soja, Gelado de sésamo negro, Carvão ativado e pó de sésamo negro

 

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Canudo de massa folhada com Ganache de azeite e sal

 

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Choux à la crème, Creme de vinho Madeira, Noz moscada

 

Um almoço feito a quatro mãos, mas como grande coerência estética. Uma estética própria, não só visual como de sabores.  Sabores bem definidos, fortes, e alguns pouco habituais. E Lisboa sempre ali em frente, a "temperar" cada momento. Muito bom . Aqui e ali discutia-se o preferido. Eu gostei de todos.

 

A sequência dos pratos, a sua diversidade, a expetativa, a curiosidade, e quase me esqueci que estava sentada no chão. Está bem que me fui levantando de vez em quando. A mesa também era muito orgânica, quase viva, reagia a estímulos, permitia mudanças. E do meu lado foi mudando ao longo do tempo... e acabei encostada à parede. Tudo sabia ainda melhora assim.

 

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A comida é muito mais do que o que está no prato, e todas estas componentes adicionais a tornam ainda mais interessante.

 

 

 

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