Estória que vale a pena conhecer
É preciso muita coragem para, na época em que vivemos, um chefe abrir um restaurante seu fora de Lisboa, neste caso na Cruz Quebrada. O Vitor Areias fê-lo, e é mesmo o único proprietário do Estória, restaurante localizado num antigo palácio do Marquês de Pombal.
Já tinha ido ao Estória, pouco depois de ter aberto, mas durante a semana da Restaurant Week, com o restaurante cheio, cerca de 50 pessoas. Tive uma refeição muito boa, mas não era o melhor contexto para me aperceber da cozinha do Vitor Areias no seu novo espaço. Agora voltei, para um menu de degustação, que penso ser a melhor maneira de conhecer o trabalho de um chefe.
No Estória há a possibilidade de comer à carta ou de escolher um menu de degustação (5 pratos – 37 €) que poderá incluir alguns pratos da carta e outos diferentes, em que por exemplo são usados produtos que chegam menos regularmente. Foi o que aconteceu.
Receberam-nos com um vinho quente com especiarias e citrinos. Uma bebida que até há pouco não era habitual em Portugal, mas que começa a aparecer e que acho muito agradável.
Ao sentarmo-nos chegou o couvert, bom pão feito no restaurante com uma manteiga com flor de sal, um paté de grão e um outro de tremoço. Cores idênticas, mas sabores e texturas diferentes. É bom ver usar o tremoço, tão nosso e tão pouco usado.
Seguiu-se
Caldo de carne, carne selada, guacamole e conserva de uvas de Colares acompanhados de batatas chips
Uma combinação de sabores e texturas que resultou muito bem.
Creme de santola com pescadinha
Delicioso o creme de santola, e a pescadinha tão pouco usada combinava muito bem, a suavidade do peixe, o crocante exterior.
Coxa de pato , pepino com amendoim e um molho de citrino, malagueta e alho
O pato cozinhado e desfiado, envolto numa fina capa de massa, é frito. Acompanha uma deliciosa e original salada de pepino e amendoim e um molho muito fresco. Um sabor a lembrar as cozinhas orientais.
Veio então o prato de peixe
Pampo com couve flor e avelâs caramelizadas
O peixe no ponto certo de cozedura, muito suculento, a cebola caramelizada e as avelãs, com texturas contrastantes acompanhavam muito bem, complementadas pela couve flor bem corada, mas ainda crocante.
Para terminar os pratos salgados veio
Entrecosto de javali com ervas aromáticas e aipo
Não é habitual servir o aipo bola desta forma, a acompanhar, o molho que também levava arandos era levemente ácido, a carne tenra.
Para terminar uma das sobremesas do menu
Pão de ló de azeite com creme de limão, merengue de água de flor de laranjeira e poejos
Muito bom! Tão aromático!
Um espaço bonito e agradável, onde a lindíssima porta e os painéis de azulejos são uma mais valia, 3 espaços, interligados, mas desnivelados, com características diferentes. Uma equipa muito jovem, ainda a adquirir experiência (abriram há apenas 4 meses), mas muito empenhada. Um óptimo trabalho!
O Vitor Areias explica que o Estória não pretende ser um restaurante de fine-dining. Mas, da minha experiência, é um restaurante com propostas muito originais e interessantes. Não é, de todo, mais um restaurante. É um restaurante onde vale a pena ir, e é importante que vamos, para conhecer a cozinha do Vitor Areias e para que ela possa evoluir ainda mais. E a Cruz Quebrada é já ali…
Estória - R. Sacadura Cabral 54, Cruz Quebrada
1ª e última fotos DAQUI