É preciso, e urgente, ir mais vezes a restaurantes de cozinhas étnicas! Precisamos de um mundo melhor!

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Foram publicados recentemente os resultados de um estudo feito no Reino Unido, por investigadores das Universidades de Birmingham e de Munique, sobre o relação entre a frequência de restaurantes de cozinhas étnicas por nacionais do país e a sua aceitação relativamente aos imigrantes. O artigo Breaking Bread: Investigating the Role of Ethnic Food in Potentiating Outgroup Tolerance, de que um do autores é português, relata conclusões interessantes e refere que o envolvimento com comidas étnicas pode atuar como um meio culturalmente acessível através do qual os membros dos grupos maioritários e minoritários constroem familiaridade, apreciação mútua e espaços sociais partilhados. Chegam mesmo a dizer que a incorporação da degustação de comida étnica em currículos educativos multiculturais, a concessão de subsídios ou incentivos fiscais para empresas alimentares geridas por migrantes ou a promoção de festivais de comida étnica são iniciativas que podem promover a coesão comunitária e fazer parte de políticas e estratégias de integração.
O aumento da imigração para países ocidentais nos últimos anos, em geral de pessoas provenientes de culturas diferentes e com as quais os nacionais desses países não estão familiarizados, tem levado a que quem chega seja visto como uma ameaça económica e cultural, e contribuído para aumentar o voto em quem defende políticas anti- imigrantes. Investigação que tem sido feita sobre este assunto tem mostrado que um maior interação entre os dois grupos resulta numa diminuição dos sentimentos anti-imigrantes. Contudo, nem sempre é fácil ou há condições para estabelecer esta interação.
Os autores do estudo que refiro colocaram como hipótese que a frequência de restaurantes de cozinhas étnicas (definidas como cozinhas tradicionais não nativas introduzidas num país de acolhimento por comunidades migrantes), seria uma forma de estabelecer esta interação. Mais do que isso, a escolha ativa de frequentar os restaurantes, e consequentemente estabelecer essa interação partiria do grupo natural do país e, portanto, seria feita de forma voluntária e com o objetivo de viver momentos de qualidade e prazerosos. Ir comer a estes restaurantes funcionaria assim como uma ponte cultural, ligando pessoas de diferentes etnias e culturas.
Frequentar restaurantes étnicos é uma atividade comum a pessoas de diferentes meios sociais, educacionais e económicos, já que alguns deles são relativamente acessíveis. Por esta razão, o efeito da interação que ocorre, em geral amigável e positiva, pode atingir uma parte significativa da população e resultaria na redução dos sentimentos de ameaça e insegurança relativamente aos imigrantes.
A recolha de informação ocorreu através de uma questionário online, em que o estudo era apresentado como visando obter um panorama geral sobre atividades de lazer, gostos culturais, dinâmicas de grupo e opinião pública no Reino Unido. Os resultados demonstraram que tanto o prazer, como o consumo frequente de cozinhas étnicas, estão significativamente associados a um menor sentimento anti-imigrante e a um menor apoio a políticas restritivas de imigração.
É preciso, e urgente, ir mais vezes a restaurantes de cozinhas de outras culturas! Precisamos de um mundo melhor!
Leyva, R., Ramos, M. D. S., & Sakshaug, J. (2025). Breaking Bread: Investigating the Role of Ethnic Food in Potentiating Outgroup Tolerance. Sage Open, 15(3).
https://doi.org/10.1177/21582440251378940
