Chá - é importante aprender mais sobre ele e tratá-lo com mais respeito
Dona Catarina Henriqueta de Portugal nasceu no seio de uma família real culta e foi educada nos costumes e hábitos tradicionais portugueses. Ao casar com o Rei Carlos II de Inglaterra teve alguma influência nos hábitos da corte inglesa que acabaram por ter um alcance maior. Entre estes pode referir-se a introdução dos hábitos relacionados com o consumo do chá em Inglaterra. De facto, o chá já era conhecido, e o hábito de beber chá já existia, apresentando-o mesmo a Companhia das Índias Orientais como remédio para todos os males, o que mudou foi o estatuto desta bebida e a forma de a consumir.
Em Portugal também se bebia chá. Proveniente da China, o chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI. Era sobretudo consumido pelas camadas mais altas da sociedade portuguesa, onde era hábito organizar reuniões de senhoras a meio da tarde nas quais se bebia chá. Foi este hábito que Dona Catarina introduziu em Inglaterra, transformando o “five o’clock tea“ num dos hábitos tipicamente britânicos.
Trouxemos o chá para a Europa, uma portuguesa introduziu o hábito de beber chá em Inglaterra, mas também o produzimos. Em 1874 chegaram à Ilha de São Miguel, nos Açores as primeiras sementes de Camellia sinensis. Alguns anos mais tarde, em 1878, foram chamados dois especialistas chineses, trazidos pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense para ensinarem aos produtores locais as técnicas de preparação das folhas. Muitas plantações funcionaram na Ilha de São Miguel e, entre elas, as da Gorreana e Porto Formoso que continuam a produzir até aos dias de hoje. Fomos assim os primeiros produtores de chá na Europa, e somos quase os únicos (há uma pequena produção na Escócia, iniciada em 2011).
Curiosamente não sabemos nada sobre chá, chamamos chá a tudo, e nem sabemos distinguir o que é verdadeiramente o chá. E, nos restaurantes, o chá é muitíssimo mal tratado. Estranhamente em restaurantes cujos chefes falam constantemente de produtos portugueses, de promover os pequenos produtores... não me lembro de ver ser servido chá dos Açores (e eu bebo sempre chá) e em muitos casos a qualidade do chá e o serviço de chá é muito fraco.
Que chá quer? (sem qualquer menu)
Que chá tem?
Cidreira, tília, lúcia lima, preto e verde.
Este é normalmente o diálogo, e isto não é nada. Depois chega um bule com uma saqueta de chá, frequentemente de má qualidade. Isto até em restaurantes com responsabilidades. É importante sabermos mais sobre chá, mas sobretudo é importante que nos restaurantes se saiba mais sobre chá. A partir de certo nível não é de todo aceitável que o chá usado seja de saqueta, por melhor que ele seja. Tem que haver um serviço de chás com qualidade, usar chá em folhas, água com qualidade, respeitar com rigor temperaturas e tempos. Inclusivamente, para determinados chás, propor ao cliente mais do que uma infusão das folhas. E saber explicar tudo isto.
Oportunidades para aprender existem, e há algumas semanas frequentei um pequeno curso sobre chá no Museu do Oriente, ministrado por Luís Mendonça de Carvalho. Neste falou-se da história do chá, da produção de Camellia sinensis a nível mundial, assim como do consumo desta bebida. Falou-se das principais regiões produtoras de chá e das características deste que dependem sobretudo da variedade do arbusto, localização geográfica, altitude, clima, solo e colheita. Mas que são sobretudo determinadas pela forma de processamento das folhas de chá. Tudo isto permite obter mais de 10000 tipos de chá - um mundo a descobrir!
Todas estas variedades podem ser agrupadas essencialmente em quatro grandes grupos chá Branco, Verde, Amarelo, Oolong (ou Azul), Preto e Pu-erh. Falámos de uma variedade de chás de cada um destes grupos e inclusivamente trouxemos para casa cerca de uma dúzia de amostras de alguns deles. Falámos um pouco de chás aromatizados, sobretudo dos mais famosos e consumidos. E ainda das várias formas em que o chá pode ser comercializado.
Finalmente falou-se da forma de preparar a bebida, a segunda bebida mais consumida do mundo - logo a seguir à água, a partir das folhas de chá, dos equipamentos usados, mas sobretudo da influência da qualidade e temperatura da água e do tempo de infusão.
Um curso interessante e importante como uma primeira aproximação. É importante aprendermos mais sobre chá, e também sobre os chás produzidos em Portugal. É importante introduzi-los nas cartas de chás dos restaurantes, já que estas têm que começar a existir.
Uma área em que há muito, direi mesmo tudo, a fazer.