Boxties... e não só...
Os primeiros dois pratos principais do menu eram Boxty. Tive que recorrer ao telemóvel para descobrir que era uma paqueca de batata tradicional na Irlanda, cuja massa também podia ser cozida para se obterem dumplings.
No Holohan's Pantry o ambiente era calmo e acolhedor, como dizia um artigo que li, é um local onde nos sentimos quase em casa e parece apropriado estar sozinho com um jornal, assim como se faria com amigos e familiares.
Um restaurante com uma cozinha contemporânea, mas tendo como base a cultura e cozinha irlandesas. E a seguir às entradas:
não podíamos deixar de escolher os pratos de boxty:
Fermanagh Boxty Dumplings - wilted spinach, wild mushrooms, truffle cream, parmesan & crispy leaks
Boxty of the Day (recheado com um creme com peixe)
Um bom almoço, adorei os dumplings, e descobrir novos pratos é sempre interessante. Um almoço com um preço mais do que razoável (30 £ para duas pessoas). Uma boa forma de terminar uma estadia de alguns dias de férias em Belfast.
Mas começando pelo princípio... Nunca me tinha lembrado da Irlanda do Norte como um possível destino de férias, mas este verão uma das minhas filhas sugeriu irmos lá passar uns dias.
Belfast é uma cidade simpática, passeios à beira rio num ambiente calmo e sereno.
Visitas a mercados e boas refeições:
Visitas guiadas e comentadas para descobrir street art em Belfast.
Mas rapidamente descobrimos que a aparente normalidade, não era aquela a que estávamos habituados. Esta última obra, do artista MTO, reflecte-o. A pomba morta por duas setas, uma representando católicos e outra protestantes, as duas religiões associadas aos grupos de unionistas e nacionalistas irlandeses, que por cerca de três décadas, e até ao final do século XX, estiveram envolvidos em conflitos violentos. Conflitos que deixaram marcas, que se sentem, quando em várias ocasiões nos agradeceram visitarmos a Irlanda do Norte e assim contribuirmos para a desejável situação de normalidade. Isto porque a memória das situações de tensão e violência ali vividas fazem com que ainda não seja um destino muito comum, apesar da cultura, do interesse das cidades e da belezas naturais.
Monumentos como o Beacon of Hope (1ª foto) pretendem refletir uma atitude positiva, de uma cidade inclusiva e politicamente neutra. Também as situações vividas são recordadas, por exemplo pelo gradeamento à entrada deste bar, construído na sequência de um tiroteio no interior na década de 1980, e comum há alguns anos em muitos outros, para que os clientes pudessem estar em segurança, mas agora eliminados, mantendo-se aqui para contar a história social recente da cidade.
Contudo, apesar de já terem passado duas décadas desde o final formal dos conflitos, nem tudo está ultrapassado e as feridas resultantes ainda estão muito vivas, e estão refletidas em vários pontos da cidade em coisas que sendo atrações turísticas, vão muito para além disso, pois traduzem clima de tensão existente. São exemplos os muitos murais de unionistas e nacionalistas existentes em vários bairros.
E, sobretudo, a manutenção das Peace Walls, muros que foram construídos entre bairros de unionistas e nacionalistas irlandeses para evitar confrontos, que era suposto serem temporários, mas quase meio século depois da sua construção se considera ainda não haver condições para serem removidos. Pelo contrário, mais foram construídos, dado o clima de desconfiança e tensão ainda existente. Em 2018 há portões fechados, desde o fim da tarde até ao amanhecer, em algumas das ruas que ligam os bairros de unionistas e nacionalistas, não permitindo a circulação de veículos e pessoas, para evitar conflitos.
A intolerância e o ódio deixam marcas profundas e são terríveis...