Bangladesh - outra cultura bem no centro de Lisboa
Era dia de jogo de futebol, Portugal-Croácia. Um jogo de futebol não é coisa que me entusiasme. Não entendo e não vibro minimamente com o que se passa no relvado. Combinámos ir jantar a um restaurante do Bangladesh. Há algum tempo que queria lá ir. Vínhamos do Chiado e fomos a pé até ao Largo do Intendente para passear um pouco antes do jantar. Umas crianças jogavam futebol na rua, dois meninos e uma menina com um lenço na cabeça e um vestido até aos pés que não lhe conseguia atrapalhar os movimentos.
Passámos à porta do Bangla, o restaurante de que tinha lido boas referências. Cheio. Pelo caminho até ao Largo do Intendente muitos restaurantes ofereciam cozinha do Bangladesh e Indiana. Pareceu-me que se tinham multiplicado bastante desde a minha última ida ali - e não foi há muito tempo. Alguns cheios também, outros com pouca gente. Alguns com pessoas a ver o jogo, quase todos. No Largo do Intendente também se assistia ao jogo nas esplanadas, ecrãs na rua, virados para a esplanada. Demos uma espreitadela ao resultado do jogo, e voltámos para trás.
Chegámos ao Bangla, olhámos para dentro. Perguntaram-nos se queríamos mesa, dissemos que sim. Alguma troca de palavras com dois homens, eventualmente do Bangladesh, que bebiam café e imediatamente se levantaram e a mesa ficou para nós. Olhámos em volta, numa mesa vários jovens croatas, a avaliar pelas bandeirinhas pintadas na cara, assistiam ao jogo. Noutra portugueses. Pelo meio pessoas que podiam ser do Bangladesh.
Olhámos para a carta. Pratos bem característicos da cozinha do Bangladesh era o que queríamos. Pedimos conselhos. A ajuda foi sempre solicita e simpática, assim como posteriormente o interesse sobre se tínhamos gostado. Um biriani era inevitável. Depois a escolha era variada - sugeriram-nos um prato de vaca. "No Bangladesh somos muçulmanos, comemos muita vaca, os Hindus na India é que não comem" informaram-nos. E assim foi, ficou decidido que seria um Biriani de Frango e um Caril de Vaca (Beef Patia) para pratos principais. Para entrada um Puri de Camarão. E ainda um Chapati para ajudar a comer o molho da vaca.
Chegou o Puri de Camarão.
Sem grande apresentação, abrimos para ver o que estava dentro.
Cheirava bem. Dividimo-lo e comemos. Era tão saboroso! Tão aromático! E a cada garfada dizíamos "Tão bom!".
Já estive na rua do Benformoso várias vezes à horas de saída da mesquita. Já vi várias vezes a rua ser subitamente "invadida" por dezenas, mesmo centenas, de homens muçulmanos que vão depois beber ou comer qualquer coisa a um dos muitos estabelecimentos da rua. Por isso, quando de repente vi entrar muitos homens, percebi que deviam vir da mesquita. Bebiam e comiam qualquer coisa em pé, por entre as mesas. Esperavam por comida que levavam depois em sacos. Uns paravam a ver o jogo.
Chegou o caril de vaca e o biriani.
Saborosos, aromáticos, a vaca picante, mas nós gostamos. Comíamos e, de vez em quando, dizíamos "Tão boa a comida.". O ambiente era diferente, único. Quem diria que estávamos no centro de Lisboa...!!!
Acabou o jogo, os croatas já tinham saído antes do prolongamento. A alegria foi comum aos portugueses que assistiam ao jogo e aos homens muçulmanos que por ali estavam. A nossa mesa era a um canto, devemos ter sido dos poucos que não nos manifestámos. apenas olhávamos aquela festa comum. E olhávamos também para a montra dos doces.
Tantos... Difícil escolher! Decidimo-nos por dois de farinha de grão, que nos disseram serem um pouco menos doces. Pedimos dois chá e ali ficamos com aqueles sabores e texturas bem exóticos.
Quem diria que estávamos em Lisboa! Num espaço onde convivem diferentes culturas. Esta viagem tinha-nos levado tão longe! E lembrei-me de uma parede, logo à entrada da rua, no largo onde os meninos e a menina jogavam à bola.
PS
Só depois deste post publicado soube do atentado que no mesmo dia ocorreu num restaurante do Bangladesh. É tão triste esta época em que o convívio de culturas é cada vez mais dificultado.
1ª e 6ª Fotos DAQUI
Bangla - Rua do Benformoso, 147, Lisboa