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26
Abr20

As laranjas, a nossa contribuição para a forma como o mundo come e um bolo

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Foi há já muitos anos que na Turquia reparei que o nome das laranjas, Portakal, fazia lembrar o do nosso país. Aliás, isso ainda era mais notório quando os vendedores anunciavam o seu produto nas bancas que vendiam sumos de laranja e de romã. Foi até isso que me chamou a atenção. Na altura procurei saber a origem do nome e descobri que estava de facto relacionado com Portugal, as laranjas doces tinham sido levadas pelos portugueses.

 

Estava há dias  a ler o livro Oranges de John McPhee, que a certa altura dizia (numa tradução/adaptação minha):

Só relativamente recentemente as laranjas, nos países ocidentais, começaram a ser consumidas como comida. Na Europa a sua popularidade anterior parece ter sido baseada nas características ornamentais das suas árvores e no aroma inspirador da casca e flor. À mesa, elas eram usadas como tempero para carne e peixe e raramente consumidas de outra forma. Antes de 1500, os produtores de laranja Europeus produziam principalmente laranja amarga, porque eram mais aromáticas, melhores como tempero, e portanto mais valiosas.

[...]

Por essa altura [século XIV], os navios Portugueses voltaram da Índia com árvores de laranjas doces, e um novo tipo de laranjas disseminou-se pela Europa. Começou a ser conhecida como laranja Portugal, e rapidamente substituiu a laranja amarga em popularidade por todo o continente. A palavra "Portugal" tornou-se sinónimo de laranjas boas e doces em numerosos países e, de facto, as laranjas continuam a ser chamadas Portugal na Grécia, Albânia, Roménia, partes do Médio Oriente, e algumas partes de Itália.

Na maior parte da Europa Ocidental, a estima pelas laranjas Portugal foi menos duradoura. Um século depois das primeiras árvores terem vindo da Índia, os monges missionários portugueses enviaram informações da China de que as laranjas chinesas eram mais doces do que o próprio açúcar. Um jesuíta português escreveu que "as laranjas de Cantão podem muito bem ser uvas moscatel disfarçadas".
 
Em 1635, uma laranjeira Chinesa chegou a Lisboa e, em pouco tempo, a laranja da China - um termo ainda usado em muitos países para designar uma laranja fina e doce - era procurada em toda a Europa. O nome botânico da laranja doce moderna, de facto, é Citrus sinensis.
 
 
Duas coisas me vieram logo à cabeça ao longo desta leitura, a primeira a marmalade inglesa. Nos pequenos almoços nos cafés em Coventry, quando lá estava, frequentemente comia torradas com manteiga e marmalade. A pergunta era sempre "Jam or marmalade?", claro que era marmalade, o seu sabor doce e amargo quase me faziam arrepiar, mas adorava. Era exótico... outra cultura... mas o que é estranho é que a origem do produto e do nome parece ser a nossa marmelada. E agora quando lá irei de novo tomar o meu pequeno almoço de torradas com marmalade? Tinha há meses uma viagem programada para Maio, mas que não vai acontecer.
 
Depois, mais à frente, fez-me pensar no facto de termos espalhado as laranjas pelo mundo, de isso ter sido tão marcante que em muitos países o nome delas é Portugal. Até fui fazer uma busca:
Turco - Portakal;  Romeno - Portocala; Albanês - Portokall; Georgiano - Portokhali; Grego - Portokali; Macedónia - Portokal e Persa - Porteqal.
Possivelmente ainda há mais exemplos. Penso que a maioria das pessoas não tem a noção de tudo isto. Admirável como um país tão pequeno como o nosso contribuíu para a forma como se come por todo o mundo.
 
Também pensei no facto da laranja ter sido pouco introduzida na nossa cozinha e doçaria. A torta de laranja da minha Mãe era maravilhosa, o bolo que regava ainda quente com sumo de laranja com açúcar também. Mas de repente nenhm outro exemplo me veio à ideia. O que veio foi um bolo de laranja cuja receita descobri há uns anos e me deixou muito curiosa, na altura fiz várias vezes, depois nunca mais. Leva uma laranja inteira, com casca e tudo, só se tiram as sementes. A laranja é cozida durante uma hora, aproveitei e cozi logo 3 laranjas e também 3 clementinas (que achei que equivaliam a uma laranja), o puré de cada está no congelador para repetir  o bolo nos próximos tempos. A receita original era com sementes de papoila, mais tarde comecei a fazê-lo com amêndoa moída, com a casca castanha, desta vez misturei algumas sementes de papoila com amêndoa moída, e por cima pus um resto de uma embalagem de amêndoa lascada (estou apostada em limpar a dispensa). Ficou tão bom!  Breve vou experimentar com as clementinas.

 

Bolo de Laranja Inteira

1 laranja

3 ovos

250 g de açúcar

150 g de farinha com fermento

2 colheres de sopa rasas de sementes de papoila (ou 50 g de amêndoa com pele ralada)

 

1 - Ponha a laranja numa panela e cubra com água. Leve ao lume a cozer durante 1 hora, até que a casca fique bem mole. Caso seja necessário vá deitando mais água a ferver para que a laranja fique sempre coberta.

Corte a laranja ao meio, retire os caroços e moa-a (incluindo a casca) com um copo batedor ou a varinha mágica.

2 - Bata os ovos com o açúcar até a mistura ficar esbranquiçada e espessa.

3 - Adicione o puré da laranja e as sementes de papoila (ou a amêndoa ralada) e bata mais um pouco.

4 - Usando uma colher de metal grande envolva a farinha.

5 - Deite em forma de bolo inglês previamente untada e com o fundo forrado. Leve a cozer durante cerca de 45 minutos. Desenforme e deixe arrefecer.

 

 
 

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