As Azeitonas na minha Vida
As azeitonas e o azeite sempre estiveram presentes na minha vida. Na de todos os portugueses, poderão dizer... Mas na minha um pouco mais do que na da maioria.
O meu Avô ficou órfão aos 8 anos, sendo ele o filho mais velho cedo teve que arranjar forma de sustentar a Mãe e a irmã. Aprendeu com um tio e em 1908, aos 15 anos, começou a produzir salsicharia para vender. Começou com uma matança de 5 porcos e, cuidadosamente e lentamente, o negócio foi crescendo e no final dos anos 1920 já exportava para África. A atividade principal foi sempre a salsicharia, mas como tudo isto se passou no início do século XX, não havia eletricidade na terra onde vivia e tinha a sua pequena fábrica. Para a conservação era preciso frio, e esse frio era apenas o que o clima permitia. Assim, a actividade de salsicharia era sazonal e apenas trabalhavam de Dezembro a Abril.
Havia que viver no resto do ano e portanto teve que se lançar em outras atividades. Inicialmente negociava lenha e carvão, uma atividade que o Pai tinha tido. Durante a I Guerra como era difícil arranjar vagons para o transporte, comprou dois, apenas para transportar as suas coisas. No início dos anos 1930 o agente em Moçambique sugeriu que seria interessante exportarem não só os enchidos, mas também azeite e azeitonas. Ele gostou da ideia e começou também a produzir azeite e azeitonas. Começou a exportar para África e rapidamente o passou a exportar também para o Brasil e Venezuela (a imagem inicial é a das primeiras latas).
Morreu ainda eu não tinha um ano, mas dois dos filhos continuaram com a empresa. O meu Pai estava mais ligado à produção, das carnes, mas também do azeite e azeitonas.
Faz parte das minhas memórias de infância irmos até Elvas ou Freixo de Espada à Cinta, aproveitando para passear, enquanto o meu Pai comprava as azeitonas. Era criança, mas se as minhas memórias não falham, o meu Pai ia a um café, aquilo a que chamava mercado. Nas várias mesas, em determinados dias e horas, sentavam-se produtores de azeitonas e ali se fazia o negócio. Uns tempos depois chegavam grandes camionetas carregadas de azeitonas. E seguia-se a azáfama do lagar, das provas do azeite, de escolher o que não tinha tanta qualidade e ia para refinar... a tarefa de provar o azeite era essencialmente do meu Pai. Lembro-me dos enormes tanques de azeitonas. Os meus primeiros trabalhos de férias foram a rechear azeitonas com pimentos para ganhar um dinheirito.
No quintal da casa que era a dos meus Pais há uma oliveira, e a minha irmã mais nova apanha sempre as azeitonas e deixa-as a fermentar em salmoura. Este ano fê-lo com uma das minhas sobrinhas. Foi assim que há dias comi as melhores azeitonas do ano que me fizeram lembrar tudo isto.