ALIMENTO - Relato de uma experiência 5
MOMENTO XI
FAST FRUIT OU DIY
Maracujá, Farinha de Amendoim, Lima Kaffir em Açúcar de Coco, Leite de Coco
Como pré sobremesa chegou-nos este prato. Foram-nos lidas as instruções:
1 – Cortar pelo picotado;
2 – Juntar leite de coco, quanto baste;
3 - Polvilhar com o amendoim pulverizado e comer;
4 – Trincar a folha de lima Kaffir, de quando em vez.
Divertido e fresco. Ao lado uma folha de lima Kaffir caramelizada (tão boa!). E no final ainda comi o chocolate usado para a mensagem no prato.
MOMENTO XII
THE END IS THE BEGINNING AND THE BEGINNING IS THE END
Ovo de Codorniz, Areia de Amêndoa Torrada e Rapadura, Passa de Cereja e de Physalis do Quintal do Meu Pai, Pêra Spicy porque não havia as de Seia, Ginja, Bolo da Madeira, Pétalas de Rosa, Poejo, Ouro
Alambre Roxo
A sobremesa foi mais uma vez inspirada pela infância da Patrícia, as gemadas que o Avô lhe fazia para o lanche, com ovo de galinha, acabado de pôr. Já não se usa, mas muitos de nós comemo-las. Uma gema de ovo de codorniz, no centro de um montinho de rapadura misturado com amêndoa torrada ralada. Cabía-nos fazer a gemada.
A Patrícia chegou à mesa e contou a história que inspirou esta sobremesa e mostrou como o envolver a gema sem agitar e deixar repousar cria uma textura mais próxima de uma gema cozinhada.
Deixámos repousar enquanto a Patrícia defumou, com pés de cereja, os copos que iriam conter o Moscatel. Apenas um ligeiro aroma a fumo quando se bebia, lembrando a casa dos Avós onde sempre havia uma fogueira.
Para acompanhar uma pêra cozinhada numa calda de vinho, hibiscos, água de rosas e jindungo, uma cereja e um physalis secos ao sol, uma folha de rosa, um cubinho de bolo de mel da Madeira, uma ginja de ginjinha. O prato pintado com uma pincelada de ouro, umas folhinhas de poejo.
Simples, original, uma grande riqueza de sabores e texturas. Coerente com o resto do jantar.
Os vinhos servidos:
E tal como o nome deste momento diz "The end is the beginning, the beginning is the end...", o fim foi descrito no início deste relato. O café e o chá, e os petit-fours, Rolling Stones, biscoitos de avelã sem glúten e o Desmendiant – um mendiant ao contrário, onde os frutos secos: figo, ameixa e tâmara ficavam cobertos de chocolate negro 70%, pedaço de fava de cacau e folha de ouro. E ainda o disco de chocolate que tocou Amália Rodrigues e que no final foi partido e distribuído por todos.
O espaço era exíguo para montar os cerca de 200 pratos que foram servidos no jantar a um ritmo adequado e sem longas esperas. Quase um milagre consegui-lo. Sobretudo tendo em conta o detalhe e a diversidade de componentes de cada prato. Colegas e amigos responderam à chamada, colaboraram, ajudaram. Muitos, cerca de 20, já que todos os pratos foram servidos simultaneamente às 15 pessoas, por 15 pessoas que os traziam.
Foi um jantar de afectos - nos conceitos de cada prato, na busca de inspiração, na escolha de ingredientes, nos filmes projectados, nos recipientes em que cada prato foi servido. Foi muito mais do que era cada prato. Uma experiência marcante para quem estivesse aberto a desfrutá-la. Mas os pratos não ficaram atrás, envolveram a aplicação de técnicas diversas, mas sobretudo o desenvolvimento de técnicas e processos de tratar os ingredientes de uma forma diferente, de criar sabores.
Quase que foi a conclusão do Mestrado em Ciências Gastronómicas da Patrícia. Agora falta escrever. Mas tudo o que for escrito, não poderá reflectir o que foi vivido pela Patrícia nos últimos meses. O frenesim e o desassossego da criatividade, a disciplina da organização. Foi um privilégio acompanhar tudo desde o primeiro momento, ainda quando a Patrícia não sabia o que ia fazer.
Parabéns à Patrícia!
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