ALIMENTO - Relato de uma experiência 4
MOMENTO VIII
ONCE YOU HAVE THE LUXURIANT TASTE OF NOTHING, NOTHING ELSE WILL DO
Pediram-nos que fechássemos os olhos por um minuto. Quando os pudemos abrir tínhamos à frente esta taça com um formato estranho. Dela saía qualquer coisa... aquilo que íamos comer. Deveria ser retirado com uns pauzinhos chineses...
Só que os pauzinhos não retiravam nada. Não havia nada a sair da taça. A taça era um mirascópio, era uma ilusão de óptica.
De facto, tínhamos que ir buscar o que estava no fundo da tigela.
O que lá estava era um limpa palato, um fortune cookie bem especial. A "massa" estaladiça era uma finíssima fatia de maçã, cozinhada em vinho verde e desidratada, que tinha sido recheada com uns pedacinhos de jambu, e a que tinha sido dada a forma do fortune cookie. Ao lado um papelinho dobrado com uma mensagem, diferente para todas as pessoas. A minha dizia: SORTE.
MOMENTO IX
DIAS DE CAÇA
Perdiz de Escabeche, Alho Francês das Azenhas do Mar, Pinheiro, Puri, Mandioquinha, Sálvia, Avelã da Cova da Beira, Ar Puro de Alpedrinha
Vinhas Velhas, Quinta dos Termos
Um pedaço de peito de perdiz, cozinhado em sous-vide e tenríssimo, um molho de escabeche, por cima avelãs da Cova da Beira tostadas. Para acompanhar um puri recheado com puré de mandioquinha (ou batata baroa) e uma folha de sálvia crocante. Um alho francês, das Azenhas do Mar em três texturas, as raízes fritas e crocantes, as folhas verdes escaldadas e desidratadas com azeite a parecer quase um vitral, a parte branca cozinhada em sous-vide, em sumo de alho francês, muito tenra e saborosa. O conjunto salpicado com uma agulhas de pinheiro queimadas. Ao lado um frasco vazio que quando aberto nos permitia sentir o cheiro das ervas selvagens do habitat da perdiz na serra de Alpedrinha, onde a Patrícia acompanhava o pai à caça. Um frasco cheio de ar puro.
MOMENTO X
EM MEADA, VERDE, A COUVE GALEGA
Caldo de Batata e Alho, Couve Galega, Chouriça Vegan de Coco em Vinha de Alhos Defumada
Vinho - Colecção Privada Touriga Francesa, JMF
Para este momento o menu, uma folha de papel vegetal entre dois círculos de acrílico, tinha uma mensagem de Maria de Lourdes Modesto - "... um caldo-verde verdinho a fumegar na panela, é concerteza uma casa portuguesa". Um caldo verde, um prato conforto. Para acentuar a sensação de conforto as tigelas chegaram aquecidas, dadas em mão, ao mesmo tempo que eram projectadas imagens de uma tempestade vista do interior de uma janela. A estas seguiram-se imagens da Avó da Patrícia, particularmente das suas mãos a cortar couve para caldo verde, que caía em meada finíssima. Muito bonito...
Muito bonita também a apresentação, embora o caldo verde seguisse escrupulosamente a receita tradicional, a apresentação era menos comum, já que a tigela trazia apenas o caldo e a couve vinha num novelo enrolado num garfo, que tínhamos que desenrolar para colocar na sopa. Também a rodela de chouriço, só que esta não era o tradicional chouriço, mas um círculo de coco fresco temperado e trabalhado como se de chouriço se tratasse, defumado.
Muito bonitas eram também as taças, o exterior reproduzia as folhas da couve. Foram criadas para o efeito pelo ceramista João Noronha (autor dos bules que aqui e aqui pus há uns dias).
Mais três bons óptimos momentos, uma sequência de surpresas e conforto.
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