ALIMENTO - Relato de uma experiência 3
Sem se adivinhar o triste acontecimento que ocorreria apenas dois dias depois, este momento foi um belíssima homenagem à Maria José Macedo, que já não está entre nós. Começou com a projeção de um filme em que se ouvia a voz da Maria José e se viam as suas mãos a mexer em terra.
MOMENTO V
COMER O CORAÇÃO OU PAISAGEM HABITADA
Beterraba, Melaço de Romã, Endro, Conserva de Limão Sírio e Galego, Camarinhas, Framboesas, Puré de Couve Flor Defumada, Pistachio + Jardim do Poial com Espuma de Queijo de Azeitão
O menu que nos chegou para ser lido vinha no interior de um coração vermelho de origami feito pelo Vasco Oliveira.
Uma beterraba cozinhada e desidratada, de facto uma passa de beterraba, um puré de couve flor flor defumada, o prato salpicado de uma variedade de componentes que lhe conferiam apontamentos de sabor e textura. De destacar os limões confitados.
Ao lado uma pequena bolha de vidro e lá dentro o jardim do Poial. Uma terra de nozes, cogumelos shitake e pó de azeitona galega, flores e ervas do Poial. Uma espuma de Queijo de Azeitão.
MOMENTO VI
1 POR 3 OU A SOMBRA DE UMA SARDINHA
Inspirado numa história que a Avó da Patrícia contava de uma sardinha para três. E de quando ela dizia "E quando não havia sardinha?" e a Patrícia imaginava a sombra de uma sardinha a sobrevoar os pratos dos comensais.
Batata Negra, Salada de Pimentos, Torricado de Broa de Milho
Touriga Francesa, Colecção Privada, JMF
Enquanto o prato foi servido foi projetado um filme que começou com imagens de sardinhas, pregões, com uma sardinha a ser dividida em três e terminou com a sombra de uma sardinha, que pairou no ar algum tempo.
O menu com a sardinha dividida em três, vinha com um anzol, trazido de uma visita de estudo à lota de Sesimbra, e trazia um texto do Pedro Cruz Gomes.
Uma pequena batata servida em cima de uns troncos, que nos chegaram sobre um guardanapo branco. A acompanhar um rendilhado que lembrava a broa de milho.
A batata revestida de negro, decorada com folha de prata, parecia quase uma brasa. Parte do seu interior tinha sido removido e substituído por um puré de pimento. Ao lado um raminho de manjerico. Sobre o conjunto foi salpicado na altura tomate liofilizado. Sabores que lembravam os Santos Populares em Lisboa. Quanto à sardinha... imaginámo-la.
MOMENTO VII
AOS SÁBADOS QUANDO HAVIA COENTROS NA PRAÇA OU 4 ESTAÇÕES
Pastinaca, Aioli, Azeite de Coentros, Fava Crua, Lasca de Bacalhau Salgado, Cebola Melosa, Terrine de Bacalhau com Salsa, Pele de Bacalhau Crocante
Sobre uma cortiça chegou-nos uma pastinaca cozida e passada por um polme e frita, uma nota de aioli e azeite de coentros, uma cebola cozinhada em vácuo com dashi e depois corada na frigideira, uma terrina feita com caras de bacalhau e sobre uma pedra muito, muito quente um pedaço de pele de bacalhau desidratada. Vinham ainda dois rolinhos de bacalhau não demolhado, cortado muito fino, no meio uma fava, à volta uma tira de alga nori.
Três pratos surpreendentes, muitos sabores fortes, muito originais. Três óptimos pratos, mas se tivesse que eleger o meu preferido, seria a beterraba. A textura e sabor da beterraba desidratada muito diferentes e extraordinários. O puré de couve flor era o elemento neutro, que compensava a força da beterraba e dos outros componentes do prato. Todos estes davam vida e irreverência, realçavam o sabor.
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