À mesa no Mesa de Lemos
Um convite para um jantar no Mesa de Lemos, em Passos de Silgueiros-Viseu, sabia o ambiente que me esperava, já tinha estado antes na Quinta de Lemos. Mas nunca tinha tido nenhuma refeição no restaurante e conhecia muito pouco do trabalho do Chefe Diogo Rocha, natural da região, e que lidera o projeto de gastronomia da Quinta de Lemos.
Cheguei, e toda a paisagem envolvente e a arquitectura moderna do edifício do restaurante (e onde iria pernoitar) fizeram-me esquecer a azáfama dos últimos dias. Aquele ambiente calmo e sofisticado soube-me tão bem! Entrei no quarto, lindíssimo e muito bem integrado no espaço envolvente. As horas que faltavam para o jantar serviram de ponte entre o bulício da cidade e do trabalho e o ambiente em que que estava. Serviram para descansar, mas também para conhecer a adega e aprender um pouco mais sobre os vinhos da Quinta de Lemos.
Antes do jantar um Gin no exterior, com a magnífica vista das vinhas da Quinta de Lemos e a adega ao fundo (ou melhor dentro do copo).
Depois passámos à mesa e logo nos trouxeram uma toalha sobre uma pedra. Esperava-a quente, como é habitual, mas estava fria e a pedra também. O dia era de muito calor e assim seria mais agradável. De seguida disseram-nos que a água é um elemento marcante da zona e serviram-nos um copo de água da Serra da Estrela e logo de seguida, para o estímulo também ser visual e sonoro, deitaram água num recipiente que estava no centro da mesa com pedras e plantas da quinta.
Pormenores simpáticos para nos dispor bem e ligar ao espaço e suas características. Mas já que estou nas águas, a que foi usada para acompanhar a refeição foi do Luso. Pedi que me deixassem as duas para poder comparar e de facto são diferentes. Diferenças subtis mas que se detectam.
Começou então o jantar sendo os amuse-bouche acompanhados pelo espumante da Quinta de Lemos - Geraldine, que penso que só é servido no Mesa de Lemos. Muitos dos vinhos da Quinta de Lemos têm o nome de mulheres que marcaram a vida de Celso Lemos, e este espumante tem o nome da sua filha.
Ovo, Beringela & Azeitona
Um ovo de codorniz e um puré de beringelas, a azeitona era verde e cortada muito fina, dando um apontamento levemente crocante e muito agradável. Algumas ervas, entre elas o poejo, adicionavam sabor e textura.
Uma pequena tosta de brioche, pimento vermelho, sardinha marinada e por cima milho e uma pipoca. Muito bonito e saboroso. O facto da tosta ser de brioche suavizava um pouco os sabores fortes do pimento e da sardinha.
Pastéis de Massa Tenra
Pastéis com um recheio de bacalhau e mostarda. Excelentes os três amuse-bouche.
Seguiu-se então o momento do pão. Pão este trazido à mesa pelo próprio chefe pasteleiro Beto Correia, ainda muito jovem, mas de quem certamente há muito a esperar a avaliar pela qualidade do pão.
Um excelente bolo lêvedo, um pão com características mais rústicas feito com uma massa mãe iniciada com uvas da Quinta de Lemos e uma fermentação de 24 horas, e um pão de passas e sementes. Para acompanhar manteiga dos Açores e azeite, este da Quinta de Lemos, feito com azeitonas Galega e Arbequina provenientes das 3000 oliveiras da quinta. Penso que também este azeite, por enquanto, só pode ser provado no Mesa de Lemos.
Foi então servido um vinho verde que acompanharia os pratos seguintes, o Barão de Monção - Alvarinho de 2013. Não sendo um vinho ali produzido, é contudo da responsabilidade de Hugo Chaves, o enólogo da Quinta de Lemos.
Lagosta
Lagosta crua e fria, com um puré de cenoura e outro de feijão, e ovas mornas de salmonete. Muito boa combinação de sabores e texturas.
Da nossa Horta - O Tomate
Tomate, Mangericão e Queijo S. Jorge - sabores que tradicionalmente ligam bem, aqui em várias texturas e temperaturas.
O momento seguinte foi um dos pontos mais altos da refeição. Lindíssimo e excelente!
De Sesimbra - O Carabineiro
Creme de beterraba, carabineiro sobre tosta de cereais com manteiga de carabineiro.
Foi então servido um vinho da Quinta de Lemos, Dona Paulette - 100% Encruzado de 2014, que acompanhou um prato de salmonete com molho de fragateira com uma colorida salada fria de vários legumes.
De Setúbal - O Salmonete
Os vinhos foram todos excelentes, mas o que se seguiu destacou-se porque era muito, muito bom, e porque era um vinho branco do Dão com 32 anos. Não é todos os dias que se bebe um vinho como este Quinta de Cavaleiros 1984!
Com ele foi servido um peixe que é muito raro encontrar em restaurantes - a pescada. Este conjunto foi para mim um outro ponto alto da refeição.
Da Costa Portuguesa - a Pescada
Pescada com alho francês, espargos e paio. O molho, que comemos à colher, era delicioso.
O prato de carne foi acompanhado por Quinta de Lemos Touriga Nacional 2007, que estagiou um ano e meio em carvalho francês.
Da Beira Baixa - O Cabrito
Um delicioso cabrito estonado acompanhado com o seu molho e com pêra em várias texturas - puré, bêbeda, desidratada, crua...
A refeição estava a terminar, era a vez dos doces entrarem em cena, e veio a pré-sobremesa e um Colheita Tardia Pinot Noir 2010 produzido na Quinta de Lemos.
Da Nossa Vinha - A Margaça
A margaça, uma flor que existe na vinha e que é parecida com o malmequer, aromatiza o sorvete que é servido sobre um suspiro de nêspera e decorado com folha de ouro.
De Almeirim - o Melão
Melão, melancia e um parfait de meloa servidos sobre uma gelatina de pimenta rosa. Se me perguntarem do que não gosto, direi poucas coisas... uma delas é o melão. Mas esta fresca sobremesa soube-me muito bem!
Acompanhada de um Porto Taylor's 20 anos veio a última sobremesa.
Frutos vermelhos chocolate belga branco e negro, sorvete de amoras e gelado de iogurte.
Para a terminar esta excelente refeição pedi um chá de erva príncipe que veio acompanhado por uns petit fours servidos sobre um galho de uma videira envernizado.
Marshmallow de mel (da Quinta de Lemos), Trufa de Chocolate e um cone com farturas. Estamos em Viseu e as farturas são bem características da Feira de S. Mateus.
Não é preciso dizer que foi uma excelente refeição? Nem que gostei muito dos sabores e da qualidade desta cozinha, e deste projecto de gastronomia sustentável baseada em ingredientes nacionais e sazonais?
Mas a prova fica aqui - não sobrou mesmo nada!
É de facto um privilégio poder usufruir de uma refeição assim, num espaço sofisticado, mas onde impera a calma e a ligação à natureza. Mas sobretudo é muito bom ver uma jovem equipa muito empenhada e cheia de vontade de fazer cada vez melhor.
Mesa de Lemos
Quinta de Lemos, Passos de Silgueiros, Silgueiros, Viseu
Aberto de Terça a Sábado
1ª Foto DAQUI