O renovado Mercado de Arroios
O mercado de Arroios é bem pertinho de minha casa. Vai fazer este ano 75 anos e frequento-o há 40 anos. Não tantas vezes quanto gostaria... os horários dos mercados não são muito amigos de quem trabalha a semana inteira e, ainda menos, se ao sábado quer preguiçar um pouco. Hoje dei uma saltinho até lá, era o dia da re-abertura depois de um longo período de obras de remodelações. Tinha curiosidade de ver como estava.
Ao entrar fiquei contente e bem aliviada. Um mercado mais animado e frequentado do que o via há muito (dia de re-abertura e curiosidade certamente), mas o que encontrei foi o mercado do costume, com as caras do costume.
Foi bom, o processo de gentrificação a que os mercados têm sido sujeitos não me encanta, nem me atrai. Sempre defendi que se deveria pensar nos mercados como mercados e actualizá-los, seja integrando nas bancas produtos com outras características, seja dando formação aos vendedores para que as coisas possam ser mais atraentes (mais qualidade, melhor apresentação), seja alterando horários e tornando-os mais compatíveis com o nosso modo de vida... mas devem ser mercados. Felizmente o meu mercado continua um mercado!
Ainda há bancas por ocupar, e esperemos que breve o mercado ofereça uma maior diversidade de produtos, e que esses representem a diversidade étnica da freguesia de Arroios. No centro há uma zona para eventos e, segundo compreendi, no último fim de semana de cada mês terá lugar um mercado com artesanato e produtos regionais.
Os mercados também devem ser espaços de educação, e este vai ter essa componente. Estão previstas acções de educação sobre alimentação para crianças e jovens e há um espaço criança.
Lembro-me muitas vezes de um espaço que vi uma vez no mercado de Leeds onde as pessoas se podiam inscrever e eram dadas aulas sobre conhecimentos básicos de cozinha para pessoas que não sabiam cozinhar. Isto como forma de educação alimentar. As aulas começavam com as compras no próprio mercado, para que conhecessem novos produtos e aprendessem a escolher, e continuavam com a sua preparação e finalmente eram cozinhados alguns pratos. Achei uma iniciativa interessante, que se calhar poderia ter lugar nestes mercados que se pretendem re-animar.
Vai ainda ser construída no topo do mercado uma estufa hidropónica, sem recurso a solo, uma iniciativa da start-up Lisbon Farmers, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Arroios. Serão ali produzidos alimentos hortícolas e ervas aromáticas que serão escoados no próprio mercado.
Nos últimos meses já abriram alguns restaurantes nas lojas exteriores do mercado. Embora tenham janelas, e mesmo entradas, do lado do mercado, entra-se principalmente pelo exterior.
Este último é de Paulo Dionísio que tem um talho ao lado. Hoje estava no talho a atender os clientes, mas já fui algumas vezes jantar ao restaurante (que serve boa carne) e vejo-o sempre por lá.
Irão abrir outros espaços, nomeadamente o Mezze dinamizado pela associação Pão a Pão - Projecto de Integração de Refugiados.
Foi hoje, no Mercado de Arroios, também lançada a marca "Mercados de Lisboa" que envolverá os 25 mercados de Lisboa, cuja imagem e qualidade serão melhorados.
Hoje fiquei com vontade de ir mais vezes ao mercado, e tenho muita curiosidade de ver como vai evoluir.