Caixas de receitas e a sua contribuição para aumentar a qualidade da alimentação e da vida
Durante algum tempo a minha filha mais velha sugeria regularmente que devíamos experimentar pedir uma "Recipe Box", ou seja uma caixa com kits completos para a preparação de vários pratos. Escolhemos quantos e que pratos queremos e o tamanho das doses (número de pessoas). Depois é aguardar que entreguem uma caixa onde vêm todos os ingredientes, na quantidade exata, para cada um dos prato (em geral é suposto apenas termos sal, pimenta, óleo e pouco mais), e as fichas detalhando a forma de os preparar. Finalmente é cozinhar cada prato, leva normalmente entre 15 e 30 minuto, e comê-lo.
Dizia-lhe que sim, que havíamos de experimentar, mas com algum ceticismo, e nem via muito as vantagens. Um dia ela anunciou que tinha mandado vir uma caixa e perguntou se eu não queria ir jantar a casa dela e ajudá-la a cozinhar.
Assim foi! Nesse dia o ceticismo desvaneceu-se, percebi as enormes vantagens, e fiquei impressionada com a qualidade. Ela ficou fã e, cerca de 3 meses e 40 receitas diferentes depois, nem sequer põe a hipótese de voltar atrás.
Pensar todos os dias no jantar, depois de um dia de trabalho e com crianças, era por vezes pesado... Nessas condições, a imaginação frequentemente deixava muito a desejar, até porque na hora em que decidiam, tinham que se basear apenas no que tinham em casa. Os vegetais, sobretudo, por vezes ficavam a aguardar na gaveta do frigorífico e depois... já era tarde demais, e acabavam no lixo.
O que é que a caixa de receitas mudou? Escolhem todas as semanas 4 ou 5 pratos de uma lista de cerca de 250 por mês, em que há coisas para todos os gostos e requisitos alimentares, inspiradas nas cozinhas de todos o canto do mundo. No início da semana chega tudo, arrumam os ingredientes de cada prato, e à hora do jantar têm apenas que pegar no saco dos ingredientes de um dos pratos e, no máximo, meia hora depois está a comida na mesa. Comida com muito mais qualidade do que a maior parte da que se pede para entrega em casa, com vegetais, carne e peixe fresco, e que eles cozinham, uma atividade de que gostam e nesta condições até é relaxante. Frequentemente a minha filha até comenta que tem aprendido muitas técnicas novas, muito simples e que dão ótimos resultados.
A escolha inicial, de entre várias opções possíveis, foi feita com base no tipo de receitas e na sua variedade, e também no preço. A empresa escolhida foi a Gousto, que numa avaliação feita este mês pelo Independent foi considerada a melhor opção de todas as caixas disponíveis.
O preço é bem inferior ao de uma entrega ao domicílio, e bem razoável, se se tiver em conta a qualidade dos ingredientes e pratos, a variedade da alimentação, a quase ausência de desperdício, a forma como a vida é facilitada, e o tempo que se poupa - em média cerca de 4 £ (5 €) por pessoa por cada generosa refeição.
Lembro-me de há uns anos surgir uma coisa semelhante em Portugal, mas era cara e rapidamente desapareceu. Neste momento não tenho conhecimento de nada deste tipo. Aqui é bastante comum e os números impressionam - a Gousto diz que vendem mais de 5 milhões de refeições por mês.
Precisei apenas de cozinhar e comer um prato para o meu ceticismo dar lugar a algum entusiasmo. Penso que este tipo de produtos pode desempenhar um papel importante no aumentar da qualidade da alimentação e da vida de muita gente. E ainda, mas não menos importante, a incentivar as pessoas a cozinharem.
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