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Assins & Assados

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23
Dez22

Um Calendário do Advento e muito Divertimento

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O Natal está quase aí. Houve alturas em que para mim tinha uma magia especial... Agora por vezes apetecia-me senti-la, mas... nem sempre consigo.

Para ajudar a criar alguma expetativa neste período natalício, este ano resolvi comprar um calendário do advento para mim. Não, não é daqueles habituais com uns chocolatinhos. Este permite-me novas experiências e aprender mais.

Não bebia café, mas durante o confinamento descobri o café de especialidade. Desde aí continuei a experimentar novos cafés e a ampliar cada vez mais as experiências. Até fiz um curso para aprender a fazer o café em casa como deve ser. 

 

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Comparei lado a lado o mesmo café feito com uma French Press, uma Aeropress e uma V60. O último método é o meu preferido. Alterno cafés de diferentes marcas, e abrir um novo pacote é sempre uma descoberta. Quando vi este calendário do advento, uma caixa com 25 pacotes com 20 g de café cada, todos diferentes, achei que era mesmo o que eu precisava para adicionar uma camada extra de magia ao Natal.

 

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Cafés de especialidade de 7 países diferentes, 4 edições limitadas, 14 micro-lotes. Os dois últimos serão estes, e dizem que o de 25 é muito especial. 

 

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Cada um tem informação sobre os seus produtores, o método de produção e notas de prova.

 

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Comprei duas caixas, uma para mim, outra para uma das minhas filhas que me tem acompanhado nesta descoberta do mundo do café. Trocamos sempre impressões sobre o café do dia. 

Tem sido um divertimento muito formativo. Experimentar 25 cafés diferentes em 25 dias é fantástico! Uma experiência única, que de outra forma seria impossível.

 

Desejo-vos um Bom Natal!

 

 

19
Dez22

Trindade - muito há a refletir sobre a nova reencarnação desta antiga cervejaria

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Há umas semanas li que, depois de muito tempo fechada para obras de remodelação, a Trindade tinha aberto. Há uns dias estava na Baixa à hora de almoço e decidi ir à Trindade.

Houve um período da minha vida em que ali ia muito frequentemente, fosse para almoçar ou jantar, ou apenas para umas cervejas com umas batatas fritas, uns croquetes ou uns rissóis. Deixei de ir regularmente, mas durante muitos anos continuei a ir ocasionalmente. Há uns anos que não ia e resolvi voltar àquele lindíssimo espaço.

Comecei por notar que o espaço da sala estava organizado de uma forma diferente, mas os azulejos ainda mais bonitos.

 

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Antes de me sentar, até mesmo antes de entrar, sabia o que ia comer. Tinha decidido que ia reviver velhos tempos e hábitos. Nem precisaria do menu, mas dei uma vista de olhos, aos pratos e às bebidas. Nesta altura aconteceu o 1º contratempo, tinha planeado beber uma imperial mista, como habitualmente ali fazia. Não vi na lista cerveja Sagres preta. Olhei para as torneiras das cervejas a copo. Não, não estava lá... Se calhar devia ter pedido uma imperial "normal", mas gosto de cervejas IPA, pedi a Profana. Achei graça ao nome, senti-me profana, por ali estar a beber uma cerveja de garrafa, coisa que nunca tinha feito. A garrafa era bonita, a cerveja agradável. Mas não era o mesmo...

Para entrada pedi um croquete. Ele chegou e quando o ia comer apeteceu-me, como habitualmente fazia, pôr-lhe umas gotas de mostarda. Olhei para a mesa, não havia mostarda - 2º contratempo. Não havia no momento nenhum empregado de mesa por ali e fui comendo o croquete. Cremoso e saboroso, soube-me bem. Mas sem mostarda, não era o mesmo... 

 

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Com o bife chegaram mais contratempos. Costumava temperar as batatas com sal, pimenta e um fio de mostarda. Nada sobre a mesa... não exagero se disser que me senti um pouco peixe fora de água, desconfortável, faltavam ali coisas habituais e importantes. Desta vez pedi sal e mostarda. Veio um moinho de sal de madeira. Tudo bem, não era o que esperava, mas era coerente com as pretensões do novo ambiente. Quando a mostarda chegou... 3º contratempo (dois já relacionados com a mostarda). Em vez de vir num frasco que permitisse dosear, veio uma tacinha com mostarda. Nada para a tirar, tirei com a minha faca. Não gostei, não permitia pôr um fio de mostarda sobre as batatas, de forma a que cada uma não ficasse a saber muito a mostarda, mas quase todas tivessem uma nota de mostarda. Achei um desperdício (coisa que nunca caiu bem, mas nos tempos atuais ainda menos). Não usei nem um quarto da mostarda que trouxeram e o destino do resto foi o lixo. Imagino que os frascos de plástico amarelo não fossem coerentes com a estética atual, mas arranjem outros que desempenhem a função... 

 

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Antes de começar a comer o bife, e depois de temperar as batatas, peguei numas com a mão para acompanhar uns golos da cerveja. Quando chegaram à boca, nem foi surpresa, pois já o tinha sentido, as batatas estavam murchas - 4º contratempo. Comiam-se, mas eram apenas umas batatas fritas sofríveis.

Iria o bife salvar a situação? Era bom era, mas não salvou. Há tanto tempo que não ia ali, apetecia-me um bife bom, pedi um bife de lombo mal passado. Estava mais para o médio, a tender para bem passado. Quase parecia que tinha sido batido, embora admita que não foi, mas algumas partes tinham um corte horizontal a meio que interferia com a textura. As memórias que temos podem ficar desfocadas com o tempo... mas o molho pareceu-me diferente, e para pior. Era levemente adocicado, felizmente a mostarda e o sal ajudaram a salvar um pouco a situação. Não tinha pão, não molhei pão, e a parte final do bife foi comida já sem molho, pois já tinha acabado. Era preciso pouparem no molho? Ou seja, o bife foi o 5º contratempo, e o molho o 6º contratempo.

Perguntaram se queria sobremesa, claro que tinha pensado num daqueles pudins flan individuais, tão característicos das cervejarias, mas não havia - 7º contratempo. Havia várias sobremesas, mais coerentes com as pretensões do espaço, mas não com as minhas.

Pedi a conta - 8º contratempo. Um bife com batatas fritas sofrível, uma cerveja e um croquete custaram 35,70 euros (já com a gorjeta sugerida na conta - esta não chegou a ser um contratempo, mas hei-de voltar a este assunto noutra altura). Achei caro, muito caro para aquilo que me ofereceram! Sei que o Alexandre Silva é consultor, não sei qual foi o seu papel, talvez na introdução de novos pratos e sobremesas, que não provei.

A Trindade perdeu aquele ambiente boémio, está agora mais séria e com outras pretensões. Talvez agrade a turistas e a quem nunca a conheceu antes, mas acredito que quem a conheceu saia com as expetativas defraudadas, como me aconteceu. Aliás, depois de sair fui ler alguns comentários de clientes e vários se queixam de alguns dos pontos que referi.

Como dizia há tempos, as expetativas por vezes são lixadas. Querer reviver o passado, também pode dar mau resultado, os tempos são outros, e nós somos outros. Mas, apesar disso, acho que muito há para refletir sobre esta nova vida da Trindade. Não voltarei nos tempos mais próximos... E tenho pena!

 

Cervejaria da Trindade  - R. Nova da Trindade 20 C, Lisboa

 

15
Dez22

Um tipo de cogumelo, uma infinidade de sabores e texturas. 

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O post anterior, e sobretudo os cogumelos eryngii (que em português penso que se chamam cogumelos do cardo), lembraram-me outros usos destes cogumelos. Recordei em particular dois elementos da tábua de petiscos portugueses que comi há uns meses no restaurante vegano Ao 26 (de que aqui já falei há alguns anos, e que recentemente mudou de localização).

Entre os vários petiscos disponíveis há um "choco" frito e uma salada de "polvo". Sendo o restaurante vegano, não há ali nem choco, nem polvo, sendo usado em alternativa este cogumelo. A textura, nos dois casos, é muito agradável e reproduz bem a dos pratos originais. Para quem escolheu não comer produtos de origem animal, estes pratos permitem matar saudades destes petiscos.

Gostei tanto da salada de "polvo", que experimentei fazer a minha própria versão. Curiosamente, aqui em Inglaterra, encontro com muita facilidade estes cogumelos nos supermercados orientais. Assim, frequentemente esta salada tem lugar à mesa quando a refeição é vegana. Mas mesmo que não fosse, haveria lugar para ela, pois é muito boa.

 

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Também os uso para imitar carne. Com um garfo desfio-os, tempero-os com óleo, molho de soja e especiarias  e levo ao forno para secarem um pouco. Depois podem ter várias utilizações, salteados com vegetais, para recheio de tacos ou mesmo de sanduíches. Um processo semelhante ao que é descrito aqui (de onde tirei a imagem seguinte).

 

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Um tipo de cogumelo, uma infinidade de sabores e texturas. 

 

11
Dez22

Fomos aos gambuzinos, e valeu a pena

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Sabemos que já nada é o que era quando combinamos um jantar com um amigo, daqueles que há não muito tempo nem sabiam bem o que significava vegano e viam o veganismo como uma ameaça, e ele sugere irmos a um restaurante vegano. Tinha lá estado e tinha gostado, apetecia-lhe voltar e apetecia-lhe mostrar-me o que faziam.

Chegámos ao O Gambuzino e entrámos num espaço simples, mas acolhedor, completamente cheio.  Pusemos a conversa em dia com um copo de Quinta do Pinto 2018 e entretanto chegou-nos a comida.

 

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Pani-Puri . Gaspacho

Gaspacho fermentado em bolinhas de trigo crocantes

 

Uma versão ibérica do Pani Puri, que nada ficou a dever à original.

 

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"Vieiras"

Cogumelos Eryngii com puré de ervilha, espuma de limão & cominho, salicórnia e kumquat

 

Uma entrada leve, mas rica em sabores. As falsas vieiras, com uma personalidade própria, desempenhavam bem o seu papel. O cogumelos eryngii, também conhecidos por king oyster, são muito versáteis e permitem um conjunto de pratos bem interessantes.

 

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 Gado Gado

Tempeh de feijão preto e amendoim, ovo de gambuzino, ananás dos Açores grelhado, batata doce, kale salteada, salada de rebentos, pickles de cebola e molho satay

 

Um prato com influências asiáticas muito rico de texturas e sabores. Gostei muito deste tempeh caseiro.

 

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Panna Colada

Panna cota de leite de coco, ananás dos Açores, coulis de rum da  Madeira e açafroa

 

Uma sobremesa leve e agradável para terminar uma boa refeição.

Lisboa tem bons restaurantes veganos, com uma oferta imaginativa e rica de sabores. O Gambuzino merece o entusiasmo do meu amigo. Hei-de voltar.

 

O Gambuzino - Rua dos Anjos 5A - Lisboa

 

1ª imagem do menu de O Gambuzino, porque gostei muito deste gambuzino.

 

07
Dez22

Lessons in Chemistry - ou lições de vida, porque na vida há muita química...

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O Lessons in Chemistry talvez tenha sido o livro cuja leitura mais me empolgou nos últimos tempos. Elizabeth Zott era química e investigadora mas a vida dá muitas voltas inesperadas, e acabou por, de certa forma contra sua vontade, ter um programa de cozinha num canal local de televisão. A forma como abordava a cozinha era pouco comum, sobretudo tendo em conta que tudo se passava no final dos anos 1950 - início dos 1960.

"Exciting news," she said. "Today we're going to study three different types of chemical bonds: ionic, covalent, and hydrogen. Why learn about bonds? Because when you do you will grasp the very foundation of life. Plus, your cakes will rise."

ou

"Now ," Elizabeth said to her at-home viewers, "I'm confident you used our short break to chop your carrots, celery, and onions into small disparate units, thereby creating the necessary surface area to facilitate the uptake of seasoning, as well as to shorten cooking time. So now things look like this," she said tipping a pan at the camera. "Next, apply a liberal amount of sodium chloride. "

Eram exemplos de frases que dizia no seu programa de televisão Supper at Six, frases que desesperavam a equipa de produção e os diretores da estação que, do outro lado das câmaras, faziam comentários como:

"Would it kill her to say salt?"

ou 

"Please be normal."

Mas, ao contrário de todas as expetativas que tinham, o público que assistia ficava completamente suspenso das palavras dela e tomava notas. As donas de casa não perdiam um programa. Dizia uma das mulheres que seguia o programa:

"I like how she uses science-y words" [...] "It makes me feel  - I don´t know - capable."

Foi tal o sucesso que algum tempo depois o programa começou a ser transmitido num canal nacional. 

O livro foi-me oferecido por uma das minhas filhas, disse que tinha lido sobre ele, e achou que teríamos algo em comum. Foi bom ler e ver descrito um ambiente de investigação que conheço, com algumas descrições de espaços e situações bastante familiares. Foi bom ver uma abordagem dos processos culinários que é um pouco a minha. Foi bom ver a descrição de como algumas mulheres se sentiam empoderadas com isso, pois algumas vezes em ações de divulgação de ciência também o senti. Depois das explicações que dávamos, algumas mulheres constatavam que o conhecimento científico permitia justificar os procedimentos que seguiam, e assim sentiam valorizados os seus conhecimentos como nunca tinha acontecido antes. À parte isto, nós e as nossas vida tinham pouco em comum. 

Elizabeth Zott vive num mundo bem próprio, segundo as suas regras, e recusa qualquer cedência. Ao longo das páginas fui ficando cada vez mais cativada pela sua determinação, e pelos momentos de fraqueza, por momentos duros e outros mais doces, pela força desta mulher.

Lessons in Chemistry é a primeira novela de Bonnie Garmus, é divertida e envolvente, aborda temas sérios de uma forma leve e dá que pensar... Achei espantosa a qualidade da pesquisa feita, e eventualmente dos consultores usados, em que não há um erro nos conceitos químicos ocasionalmente transmitidos, de forma simplificada, ao longo do livro e na sua aplicação à cozinha.

Adorei! Vale mesmo a pena ler.

 

PS

Verifiquei depois de ter escrito o post que o livro está traduzido para português - Lições de Química.

 

 

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