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Assins & Assados

Assins & Assados

29
Ago22

Cafés Vietnamitas - outras culturas, outras formas de preparar o café

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Estava a ler um artigo sobre um novo café que abriu em Londres, o Trampoline, a certa altura, relativamente a um dos sócios, dizem:

 

This passion for speciality coffee was cemented in 2013 when he visited Ethiopia. The realisation that there were other countries that had as much passion for coffee as the Italians had was ‘life changing’, in his own words. These cultures had coffee embedded in their lives, they loved coffee, they knew coffee, the only difference was how they prepared it and served it.

 

As diferentes formas como, em diferentes culturas, se preparam os mesmos produtos é fascinante. Ao ler isto, lembrei-me dos cafés vietnamitas, e das formas diferentes de os preparar. Há alguns anos que me despertam a curiosidade. O café produzido no Vietname é essencialmente café Robusta que tende a apresentar sabor terroso, e é normalmente mais amargo e encorpado do que o café Arábica. Além disso, o processo de fermentação e o de torra usado, lento e longo em que se obtêm grãos com uma cor consistente e escura, resultam num café amargo que é equilibrado com leite, açúcar ou, frequentemente, com leite condensado.

Em geral o café é preparado em porções individuais na mesa com o phin, um filtro próprio de metal (1ª foto), colocado sobre um copo ou caneca de vidro. Muitas vezes o copo tem um pouco de leite condensado. Ver o café a gotejar vai abrindo o apetite para o beber.

Uma outra forma vietnamita de preparar café, o Cà Pê Trung, usa ovos. Consta que data de meados dos anos 1940 e o objetivo era ultrapassar as limitações da escassez de laticínios para as bebidas de café habituais. 

Já tinha experimentado fazer o Cà Pê Trung, mas nunca o tinha provado feito por vietnamitas. Aconteceu algumas vezes nos últimos meses. A camada superior de uma espuma densa e doce, com intenso sabor a leite e ovos, quase uma sobremesa, contrasta com o amargo café que está por baixo. 

 

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26
Ago22

Baobá Café - onde um café é sempre muito mais do que o que bebo

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Durante muitos anos não bebi café, foi uma das descobertas que fiz durante o período de confinamento devido à Covid 19. Agora gosto, bebo diariamente, mas sou muito fiel aos cafés de filtro. Compro em geral cafés de especialidade, pela sua elevada de qualidade, origem única (o que os faz ter personalidades próprias) e também devido aos aspetos relacionados com a cadeia de produção e abastecimento

Cada vez são mais as empresas que disponibilizam estes cafés e também os locais onde são servidos. Um dos meus locais de eleição em Lisboa é o Baobá Café na Rua de S. Paulo. Gosto do espaço e do ambiente, mas sobretudo do serviço e da simpatia. Em particular da disponibilidade para nos esclarecerem e satisfazerem os caprichos.

O Baobá Café é um espaço dos produtores de café brasileiros da Fazenda Baobá, em São Sebastião da Grama. Apenas os cafés deste produtor são servidos, chegam verdes e são torrados na loja semanalmente. Servem também alguns bolos e sanduíches, mas nunca provei. Já aos bombons não consigo resistir, porque são bonitos e porque as pequenas redomas de vidro em que são servidos os transformam num pequeno luxo.

Há tempos, éramos três pessoas, e pedimos o mesmo café preparado de três formas diferentes, com Chemex, Clever e Koar. Pareciam três cafés diferentes... Mas, mais do que termos tido a oportunidade de fazer esta comparação, o facto de nos ter chegado à mesa um tabuleiro com os três cafés e 9 chávenas, iguais três a três para não confundirmos, para os podermos provar e comparar, revela bem a atenção ao detalhe. Para além disso, explicaram-nos como tinham sido preparados, as características de cada processo de extração e como isso se reflete no resultado final.

 

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O Baobá passou a ser um local onde vou regularmente em Lisboa, porque gosto dos cafés e porque me permite descobrir cada vez mais e melhor o café. É um local onde um café é sempre muito mais do que o que bebo.

 

Baobá Café

Rua de S. Paulo 256, Lisboa

 

 

23
Ago22

Curadoria de experiências gastronómicas - desta vez de chá

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Enquanto escrevo, estou a beber um chá, Four Seasons Red Oolong (四季春紅烏龍), produzido no município de Zhushan no condado de Nantou em Taiwan. Este chá, orgânico e colhido manualmente, da colheita de Abril de 2021, é um chá oolong altamente oxidado (90%), tanto que não é claro classificá-lo como oolong, poderia ser um chá preto ligeiro, está na linha de separação destes dois tipos de chás. A justificação para o classificarem como oolong, é o facto de ter sido produzido a partir da variedade Four Seasons que é normalmente usada para este tipo de chás. Tem uma cor âmbar claro, e um sabor limpo, doce e frutado, em particular sentem-se frutos vermelhos.

Há muito tempo que queria uma subscrição de chás, que me desse a conhecer chás variados, de diferentes tipos e origens. Em tempos tinha tentado uma, mas não gostei, eram praticamente só chás aromatizados, não era o que queria, rapidamente desisti. Este ano descobri a Curious Tea, uma empresa que vende chá de alta qualidade e de várias proveniências. Têm subscrições mensais, em que podemos escolher receber dois chás, 50 g de cada, ou quatro chás, 10 g de cada. Esta última hipótese, chamada Discovery Tea Subscription, foi a que escolhi.

 

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Todos os meses recebo uma caixa com quatro pacotinhos de chá e uma ficha sobre cada um deles com a informação essencial, informação mais completa é colocada num blog. Podem fazer-se várias infusões das folhas de cada chá, dando de cada vez bebidas com características um pouco diferentes. Com os quatro pacotinhos de cada caixa podem fazer-se cerca de 50 chávenas de chá.

Já recebi chás da Índia, da China, da Tailândia, de Taiwan, do Quénia, da Coreia e do Japão, chás brancos, verdes, pretos, oolong e pu-erh. O custo mensal não paga o conhecimento que adquiro e o prazer que tenho a abrir a caixa e ver as embalagens cuidadas e muito bonitas, e sobretudo beber e comparar estes chás de grande qualidade. O chá que estou a beber veio numa destas caixas, é um chá muito diferente do que conhecia, muito peculiar. Toda a informação que me dão ainda o torna mais interessante.

 

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Na caixa de Fevereiro vinha um tipo de chá cuja existência desconhecia, Tokunoshima Sun Rougeum chá verde japonês pouco comum e que tem um alto teor de antocianinas (as moléculas que dão cor a muitos frutos e vegetais, e de que aqui já falei). Se se deitam uma gostas de sumo de limão no chá, ele muda de cor, fica cor de rosa.

As vivências que tenho de curadoria de experiências de gastronomia, esta e a dos chocolate artesanais, foram das coisas mais interessantes que descobri nos últimos anos. Permitiram-me conhecer e aprender coisas que de outra forma seria impensável.

Haver pessoas que pesquisam, selecionam, compram e nos disponibilizam os produtos de modo a podermos comparar, aprender sobre eles e a apreciá-los é fantástico. Às vezes nem é fácil acompanhar, pois exige algum trabalho da nossa parte, nem todos os meses consigo provar os quatro chás ou os quatro chocolates. 

Esta forma de receber os produtos é bem diferente de sermos nós a pesquisar e a comprar. Neste caso somos guiados na descoberta, são especialistas, com conhecimentos aprofundados, que selecionam o que nos dão a provar e a conhecer, que definem o percurso que nos levam a percorrer. Vamos sempre mais longe, somos sempre surpreendidos.

Estou fã desta curadoria de experiências gastronómicas, já nem sei viver sem isto. É um luxo!

 

 

1ª e 2ª fotos DAQUI

3ª foto DAQUI

 

 

19
Ago22

Fogo - o final foi inesperado...

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Vou começar pelo fim... por uma situação que nem sequer é habitual ser referida. Acabámos de jantar, pagámos e antes de sair fui à casa de banho. Entro e oiço um poema a ser declamado. Não me lembro que parte ouvi quando entrei, mas reconheci-o de imediato e passados breves instantes ouvi o início:

 

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

 

Fiquei por ali a ouvir o Cântico Negro do José Régio dito pelo João Villaret. Fui dizendo os versos ao mesmo tempo. Tive uma professora de português fantástica entre os 10 e o 15 anos. Só bem mais tarde percebi muita coisa e a sorte de a ter tido com professora. Foi ela que nos introduziu alguns escritores e poemas, entre eles este. Sei lá... devia ter uns 14 anos, uma idade de uma certa rebeldia, decorei-o, muitas vezes o repetia. Fiquei ali encostada a sorrir, a lembrar-me disso, e de que a rebeldia afinal não era assim tanta...  

O restaurante era o Fogo, do Alexandre Silva. Posteriormente também pensei na razão da escolha do Cântico Negro para a casa de banho. De certa forma esta moda de cozinhar com fogo pode ser associada a alguma rebeldia, tem algo de aventura, heróico, teatral...  quem sabe esteja aí alguma relação.  

Falando da moda de cozinhar com fogo, tenho que reconhecer que não me suscita grande simpatia. Às imagens de regresso às origens, natural e romantismo associadas, e que intuitivamente passam, sobreponho imagens de poluição ambiental, pouca eficiência energética, elevado risco e falta de sustentabilidade. Tudo isto é muito complexo e, curiosamente, tenho procurado informação, e ainda não encontrei nada de sério. Gostava mesmo de um dia ver uma análise aprofundada dos efeitos em cozinhas de restaurantes de fine dining, com os equipamentos de cozinha e extração que usam, que penso que devem ter alguma sofisticação e otimização para reduzir riscos, melhorar o processo de combustão e a transferência de calor. Estudos há muitos, mas sobre cozinha familiar de quem não tem acesso a outras formas mais saudáveis de preparar os alimentos. Tanto se falou de cozinha molecular e dos efeitos nefastos, e tenho sempre a sensação de que é uma brincadeira ao lado do que é cozinhar com fogo de lenha. 

Apesar de tudo isto, na vida não podemos fazer só o que é isento de riscos, e consigo compreender que possa ser um estímulo interessante para alguns chefes e que, com um grande investimento, se consigam minimizar os efeitos negativos. Cozinhar com fogo permite introduzir sabores e aromas próprios agradáveis. Além disso, conseguir uma certa delicadeza de sabores em várias preparações é um desafio que compreendo que cause entusiasmo. 

Há muito tempo que queria ir ao Fogo, pois tinha curiosidade de ver o que era possível fazer. Não tinha dúvidas de que gostaria. E gostei do que comi...

 

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Já foi há muitas semanas, mas lembro-me muitas vezes deste arroz de forno. Verdadeira comida conforto! Digamos que o arroz e a o Cântico Negro na casa de banho foi o que mais emoções me despertaram em todo um jantar que me soube muito bem e em boa companhia.

Foi bom depois procurar a gravação do João Villaret a recitar o Cântico Negro, mas estas buscas são como as cerejas... vem sempre mais alguma coisa. Encontrei também a gravação da Procissão de António Lopes Ribeiro recitada pelo João Villaret. Não sei porque razão, associo-a ao verão, janelas abertas e muita luz, na casa dos meus Pais, que tinham o LP.

 

 

17
Ago22

The sexiest cabbage I have ever eaten

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Há pratos inesquecíveis. Por vezes não é muito clara a razão. Uma refeição pode ser excelente, por vezes até há pratos que se destacam, mas passado um tempo fica uma imagem geral, difusa, de que nada se recorda em particular. Outras vezes podem até nem ser tão bons, mas por qualquer razão nunca mais se esquecem.

Há muito que queria ir ao Eat Vietnam em Stirchely, em Birmingham, as referências eram ótimas. Num almoço de fim de semana escolhemos vários pratos do menu, e uma das pessoas na mesa sugeriu pedir a Hispi cabbage with black pepper sauce, que estava nos pratos do dia num quadro negro. Não fiquei muito entusiasmada. Talvez isso até tenha contribuído para tornar o prato inesquecível e o único de que me lembro da refeição. Quando provei foi como se tivesse levado um murro. O sabor forte, mas sobretudo a  sua complexidade, elegância, sofisticação... deixaram-me deslumbrada, mais que isso, emocionada. Foi mesmo uma surpresa!

 

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Hispi Cabbage with Black Pepper Sauce

 

Há mais quem achasse o prato bom. Acho mesmo que " The sexiest cabbage I have ever eaten" é uma descrição que lhe assenta como uma luva. Tanto que a "roubei" para o título do post.

 

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E não estava tão bonita como a minha. Então se estivesse...

 

 

14
Ago22

Folium - uma refeição que me permitiu dar atenção a todos os detalhes e a mim, que foi como que um presente. 

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Não é que os Jogos da Commonwealth me dissessem alguma coisa, só sabia mesmo que existiam pois há muito que via Birmingham a ser preparada e alindada para o efeito. Num sábado, sem programa nem companhia, pouco antes de começarem os jogos, decidi ir até Birmingham. Ainda não havia tanto movimento como durante os jogos, mas já se via muita gente, e também os resultados de tantos meses de obras.

 

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O programa, para ser completo, envolvia um bom almoço. Gosto de ir a restaurantes sozinha, gosto muito de ir a restaurantes de fine dining sozinha, é uma relação diferente com a refeição e com o que como. Não partilhar aqueles momentos com ninguém permite dar mais atenção a todos os detalhes da refeição e a mim, é como que um presente. 

A escolha recaiu sobre o Folium, um restaurante de que nunca tinha ouvido falar, mas do qual li boas referências. Ainda bem que assim foi. No site prometiam uma cozinha simples, com sabores limpos e usando ingredientes de alta qualidade. Foi isso que encontrei, num espaço também simples e com um serviço simpático e acolhedor.

Dois menus à escolha, um longo (14 pratos) e outro curto (9 pratos), escolhi o curto e fiquei com vontade de voltar para o longo.

 

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Lamb Tartare with English Wasabi

 

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Biodynamic Grains with Cultured Butter

 

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Amela Tomato with Bonito Vinegar and Shiso

 

O tártaro sobre uma pequena bolacha crocante de massa azeda. O pão, feito no restaurante, era excelente.  Quando trouxeram o tomate disseram-me que era um tomate japonês, com um maior grau de doçura e um sabor mais intenso. Posteriormente vi que os tomates Amela foram de desenvolvidos no Japão em 1996, são considerados tomates de alta qualidade e o método de produção define as suas características únicas. São produzidos em Espanha, e no site referem que associam a sofisticação e singularidade da cultura japonesa, com a vitalidade e força da cultura mediterrânica. Aqui eram servidos com um gel de dashi. Um prato muito fresco e delicado.

 

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Cornish Turbot cooked in Beef Fat with Baked Potato Butter

 

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Sirloin of Wagyu Beef with Yeast Béarnaise

 

O rodovalho servido de forma muito simples, apenas o peixe, mas com sabores fortes. A textura firme e o ponto de cozedura perfeitos. Na altura de servir regaram com um caldo rico em umami e com um sabor forte a batata assada. A combinação de sabores do peixe, gordura de vaca e batata assada, e a simplicidade e delicadeza do prato, resultavam em algo muito além do que a foto pode deixar adivinhar. Entretanto, enquanto comia, na mesa ao lado, onde serviam o menu longo com os vinhos sugeridos, apresentavam um vinho português, Pequenos Rebentos.

A carne, cozinhada a baixa temperatura 24 horas, era tenríssima, acho que a teria conseguido cortar só com o garfo. Acompanhava-a uma terrina de batata coberta com um molho Béarnaise, trufa negra de verão e um molho de carne. Mais uma vez sabores limpos, bem definidos e fortes.

 

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Iced Horseradish with Sorrel and Cucumber

 

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Sunflower and Birch Syrup

 

Primeiro um gelado de rábano com um molho de pepino e azedas, tudo muito pouco doce, por cima umas placas crocantes de leite, muito doces, que conferiam um contraste de textura e de doçura também. De seguida, um gelado de sementes de abóbora com um xarope de de bétula e crocantes de sementes de abóbora. Duas sobremesas leves, com sabores bem definidos, produtos e combinações pouco habituais. 

 

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Chocolate Tart with Cep Caramel

 

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Whiskey and Peat Butterfly Bun

 

O dois últimos pratos, muito pequenos, de facto podiam ser vistos como petit-fours, tinham a riqueza, complexidade e intensidade que associamos às sobremesas, assim como o detalhe da decoração, em apenas uma ou duas dentadas. O que acabava por os tornar leves, tal como o resto da refeição. Primeiro uma pequeníssima e intensa tarte de chocolate negro com um creme de caramelo de Boletus edulis, por cima um fragmento de uma espuma sólida de chocolate. Delicioso!

O seguinte, tinha sabores menos comuns para mim, um pequeno bolo com um creme com uma textura densa, sabores fortes de whiskey. Não sei como o peat é introduzido, talvez em fumo, talvez tenha sido usado um peaty whiskey. Também aqui os sabores fortes e o cuidado da decoração o tornavam delicioso.

Mas... há sempre um mas... no final pedi um chá. Não havia carta, a pergunta foi se queria preto ou verde, ou uma qualquer infusão de que não me lembro. Verde... mas a cor era estranha, e o sabor também. Não é que fosse desagradável, apenas não era o que esperaria de um chá verde. Perguntei que chá era e trouxeram-me um boião grande com o chá, sim eram folhas de chá verde, mas misturadas com flores e frutos secos. Mais uma vez, a confirmação de que, mesmo nos restaurantes exigentes na qualidade e forma de apresentação dos produtos que servem, o chá continua a não ser tratado com a atenção que merece.

 

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No final lembrei-me de um comentário que li. Dizia alguém que gostou muito, mas a quantidade da comida era pouca, que para não ficar com fome tinha pedido o prato de queijos que é oferecido opcionalmente (com um custo acrescido) com os menus. Compreendi... pensei que o pão me tinha salvo de terminar ainda com vontade de comer mais. Um pão daqueles era o que serviam numa mesa de duas pessoas. Eu tive a sorte de ter um só para mim, mas o que importava era que tinha tido uma refeição excelente, com combinações de produtos e sabores originais e de que tinha gostado muito. Uma refeição que me permitiu dar atenção a todos os detalhes do que comi e a mim, que foi como que um presente. 

Saí dali e fui dar um passeio nos canais. Dizem que Birmingham tem mais milhas de canais do que Veneza...

 

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10
Ago22

Ao tentar não ir a nenhum restaurante de cadeia, o menu veio com brinde!

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Estava um dia quente, estava a terminar um passeio de barco, era hora de almoço. Apetecia-me sentar a ver a baía, a beber uma cerveja e almoçar de seguida. Uma tarefa que não era tão fácil como parecia... apesar de haver imensos restaurante, com esplanadas e com cerveja...

O número de cadeias de restaurantes, cafés e coisas do tipo no UK é uma coisa quase inimaginável. Vi uma lista dos mais populares, onde estão mais de 100, e até era capaz de adicionar bem mais de uma dezena de nomes que lá não estão, talvez por terem menos restaurantes. Há de todos os tipos, para todos os gostos, e de preços variados. Estão por todo o lado, em qualquer cidade, sobretudo nas zonas mais frequentadas por visitantes, e nas zonas comerciais... os nomes são os mesmos, os menus também. Em Portugal também as há, algumas até são as mesmas, outras não, mas a escala é bem diferente.

Compreendo as vantagens - economia de escala nas compras e na produção da comida, acredito que são usadas cozinhas centrais e as refeições só são finalizadas nos restaurantes. Também permitem alguma consistência, os clientes sabem o que os espera, não só o que está disponível, como a qualidade, são consistentes em todas as lojas.

Reconheço até que algumas até têm propostas interessantes e ambientes engraçados, que por vezes dá jeito saber o que nos espera, que a relação preço qualidade também é boa em certos casos. Mas é tão bom experimentar coisas novas! Dou por mim muitas vezes a procurar restaurantes num dado local e a fazer a busca por "independent restaurants".

Uma semana de férias e uma decisão, tentar não ir a nenhum restaurante de cadeia, apenas independentes (ou pelo menos que os considerasse como tal, pois por vezes pertencem aos mesmos grupos).

No Mermaid Quay, na Baía de Cardiff, a tarefa não parecia fácil. Algumas dezenas de restaurantes e eu conhecia praticamente todos os nomes. Finalmente vi a Bayside Brasserie, uma esplanada num terraço, uma bonita vista, e  não conhecia o nome, não associava a nenhuma cadeia. A juntar a isto, um menu de almoço com um preço razoável. Estava decidido!

O menu até tinha coisas interessantes e adaptadas ao local. Olhei para a lista das bebidas, não tinha cervejas de pressão, e nem sequer artesanais. Mas... vinha com brinde! Uma das poucas cervejas de garrafa disponíveis  dizia-me muito!

 

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07
Ago22

De novo as memórias... as minhas... mas há mais mundo para além delas!

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Quando li o título da notícia no Guardian, sabia exatamente do que estavam a falar... Conheço bem o Whitelock's, o pub mais antigo de Leeds, com mais de 300 anos, descrito pelo poeta John Betjeman como very heart of Leeds . No final do século 19, quando foi adquirido pela família Whitelock foi relançado como um sofisticado bar de almoços, pensa-se que foi o primeiro edifício em Leeds a ter iluminação elétrica. Foi decorado com vitrais, espelhos e um balcão de bar com azulejos de cerâmica e tampo de cobre. Foi esta decoração, muito bem conservada, que sempre conheci. Fiquei contente. Mas perguntei-me "Então e a comida?".

O trabalho que fiz para o doutoramento foi em colaboração com um grupo de investigação da Universidade de Leeds. A primeira vez que lá fui, há mais de 30 anos, convidaram-me para jantar no Whitelock's. Penso que foi nesse jantar que comi pela primeira vez um Yorkshire Pudding, um prato que adoptei. Depois voltei lá algumas vezes, sobretudo quando estive a viver um ano em Leeds durante o pós-doutoramento. 

Há poucos meses fui passar um fim de semana a Leeds com as minhas filhas. Fomos ver a nossa casa e tirámos fotos à porta, fomos ver a escola delas e tirámos muitas fotos, e quis voltar ao Whitelock's. Marquei mesa para um dos jantares. Entrar no Whitelock's foi um choque... Depois de dois anos de muitos períodos de isolamento e muito cuidado, passar no pequeno beco que dá acesso à entrada foi um desafio. Parecia o metro em hora de ponta, ninguém tinha máscara e todos tinham um copo na mão. Lá dentro, até chegar à zona das mesas, a situação não era diferente. Só tive mesmo coragem pois tinha acabado de recupera do Covid e achei que teria alguma imunidade. 

Gostei de voltar, o interior muito bem mantido é lindíssimo. A atmosfera característica de um pub, o ruído (imenso) e  o (grande) movimento, apesar do que disse, souberam bem. Um regresso à normalidade. 

 

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Antes de decidirmos ir, comentei com a minha filha que gostava muito de ir, mas se calhar não havia opções veganas. Uma consulta ao menu no site, mostrou havia várias e isso não seria problema. Mas, e mais uma vez um choque, não havia era Yorkshire Pudding, o que eu tencionava comer. Apenas era servido com o Sunday Roast. Comi um prato vegano, que estava bastante bom. Reconheço até que era coerente com o espaço. Mas senti a falta do Yorkshire Pudding que habitualmente comia.

 

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Spiced Cauliflower Steak
red pepper sauce, tenderstem broccoli, Hasselback new potatoes

 

Por isso, quando li o artigo perguntei-me "Então e a comida, será que não devia ser também protegida?". Mais um vez consultei o menu no site, e fiquei na dúvida se tinha razão. Se calhar não tinha. Há que evoluir, passaram 140 anos desde que o Whitelock's funciona como restaurante, tudo mudou... o menu necessariamente também. O de há 30 anos, devia ser já bem diferente do inicial. Conseguiram adaptar a oferta a um mundo que exige opções mais sustentáveis e uma adaptação a um novo público. O menu é interessante,  e consegue conjugar novos pratos, uma nova forma de comer, com pratos mais tradicionais. Tudo o que comemos era bem coerente com o espaço, bom e bem confecionado. O Yorkshire Pudding continua a ser servido no Sunday Roast. Podemos pedir mais do que isso? Acho que não.  A questão que me pus nem sequer é coerente com o que penso em geral.

De novo as memórias... as minhas... mas há mais mundo para além delas!

 

 

03
Ago22

As coisas que nos ficam na memória...

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Há tempos fui jantar ao Zindiya Streatery & Bar, um restaurante de street food indiana em Birmingham. O ambiente é descontraído e simpático, da comida podia dizer o mesmo. Já lá fui várias vezes, e o que comi não diferiu muito das vezes anteriores. 

Neste jantar mais recente, sentámo-nos, peguei na lista, olhei para a sala e vi passar um saco de plástico com uma palhinha e um líquido dentro. Veio-me imediatamente à memória o percurso para o cais em Singapura onde fui apanhar um barco para um passeio turístico. Lembro-me muito pouco do passeio, diria mesmo que nada me ficou na memória, aquilo de que claramente me lembro eram as dezenas de pessoas que iam apanhar outros barcos e que levavam na mão um saco de plástico com um líquido dentro e uma palhinha.

No Zindiya ao ver passar aquilo, disse de imediato "tenho mesmo que pedir esta bebida", também pensei "não é a forma mais sustentável de servir uma bebida". Mas o primeiro pensamento teve mais força. Chamei a empregada e pedi que me indicasse no menu o que era. Não era certamente o que vi nos sacos em Singapura, mas não importava, já era mais do que uma bebida, pois tinha associada uma camada de memórias e emoções.

Passado uns minutos tinha o meu cocktail de lima e limão, e uma série de pequenos pratos para o acompanhar, porque naquele dia a estrela foi mesmo a bebida, no saco de plástico.

 

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As coisas que nos ficam na memória... E como mais de uma década depois nos levam a tomar decisões....

 

 

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