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19
Fev22

Foie-gras e faux-gras que me deram muito que pensar...

faux gras.jpg

 

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Li há tempos um artigo do The Guardian que me deixou muito tempo a pensar, e cada dia sentia tudo o que era ali dito como mais absurdo. Pensei escrever aqui sobre ele, mas a motivação não tem sido muita e o tempo ainda menos... Uma vez li que o trabalho é como um gás, que se deixarmos ocupa o tempo todo. Também tem acontecido. Enfim... sei lá... não interessam as razões, a verdade é que tenho tantas saudades de escrever, quanto preguiça de o fazer.

Um dos comentários do Adriano esta semana, espicaçou um pouco a minha vontade de escrever. Lembrou-me o dito artigo, que andou muito tempo em ruído de fundo na minha cabeça.

Pois bem... o artigo é este - UK government asks chefs for vegan recipes to replace foie gras.  Fazendo um brevíssimo resumo, aparentemente a venda de foie-gras será proibida no UK em breve, e é objetivo do governo reunir chefes para os incentivar a criar alternativas veganas que preencham o espaço deixado pelo foie-gras.  Refere ainda que o chefe Alexis Gauthier, um francês que tem um restaurante em Londres, deixou há muito de vender foie-gras, um produto muito presente no restaurante até essa decisão, e passou a servir um faux-gras feito de cogumelos, lentilhas e nozes - cujas receitas está no artigo. Segundo o artigo, o governo do UK pediu-lhe a receita e convidou-o para conversas com conselheiros políticos, para ver se o produto que desenvolveu poderia preencher a lacuna no mercado causada pela proibição do foie-gras. Foram também chamados outros chefes de restaurantes veganos para discutir os desafios e oportunidades associados a alternativas éticas ao foie-gras.

Depois de ler o artigo ainda parei uns segundos para pensar se era dia das mentiras. Não, não era...

Acho uma hipocrisia um país, uma cidade... proibir o comércio de foie-gras. A razão apresentada para isso, é a crueldade animal, o sofrimento dos patos e gansos. Há quem diga que nalgumas produções sofrem, noutras não, não sei, nem para aqui interessa, consideremos que sofrem. As galinhas criadas em gaiolas, sem se poderem mexer para produzir uma carne barata também sofrem. As vacas que são mortas para produzir carne, também sofrem. As vacas a quem retiram os filhos para produzirem leite, também sofrem. Ora, o número de animais nestes três casos, e alguns outros que não referi, é muito maior do que o de gansos e patos para a produção de foie-gras. Então, porque não há legislação equivalente para todos os casos, mas apenas para um deles? Para aquele que é mais fácil. Não seria melhor deixar a decisão a cada chefe e a cada consumidor?

O foie-gras é um produto de luxo, acredito que mais de 90% pessoas nunca tenham comido foie-gras, e quem o come, não o come todos os dias. É fácil proibir e passar uma imagem de preocupação com os animais. Mas o resto? Não se pensa nisso? É que o problema seria bem maior... 

Sendo o foie-gras um produto de luxo e não essencial, parece-me absurda a preocupação do governo do UK em arranjar um substituto, um faux-gras, considerado mais ético. Porquê para um produto de luxo? É função do governo? Do meu ponto de vista é absurdo e um pouco ridículo até. Tanto mais que há já variadíssimas alternativas veganas a foie-gras, e se se googlar um pouco encontram-se várias receitas.

Por outro lado, um chefe de um restaurante que vende foie-gras, que é na maioria dos casos um restaurante de topo, não precisa que lhe vão ensinar a fazer uma alternativa parecida com o foie-gras. Ou vende outros produtos e pratos, ou, se quiser, é papel dele fazer a sua versão, não vai certamente fazer a do Alexis Gauthier.

Eu gosto de foie-gras, como (raramente) foie-gras, e sinceramente não me pesa mais na consciência do que quando como um frango assado numa churrascaria ou uma lagosta que foi metida viva na água a ferver. Há assim tanta diferença?

 

Foto de Faux-gras DAQUI

 

 

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