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Assins & Assados

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12
Jun18

The Fat Duck - À chegada

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No dia do almoço, assim que saímos do táxi que nos levou até este discreto edifício em Bray, fomos imediatamente abordados por um jovem que nos deu as boas vindas e nos encaminhou para o interior do restaurante.

 

O The Fat Duck reabriu em 2016 depois de algum tempo fechado para obras, e em que esteve na Austrália. A primeira surpresa que tive foi logo à entrada, o espaço estava bem diferente do que me lembrava da minha anterior visita 11 anos antes.

 

No átrio de entrada deram-nos um mapa que deveríamos usar para seguir o itinerário da refeição. Sentámo-nos e sobre a mesa estava uma grande lupa.  

 

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É possível ver um itinerário com as várias etapas, mas sem a lupa não é possível ler a informação sobre os pratos. Assim, podemo-la ir descobrindo à medida que a refeição decorre, ou não, depende do que cada um escolher.

 

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E nós escolhemos usar a lupa ao longo da refeição para descobrir informações sobre o nosso itinerário inspirado pelas memórias favoritas de férias do Heston.

 

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A pessoa que ia comigo ia festejar um acontecimento,  logo que nos sentámos à mesa deram-lhe os parabéns e trouxeram-lhe um cartão assinado por todos os membros da equipa do The Fat Duck.

 

Olhámos à volta:

 

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Tomámos a nossa primeira decisão - o que íamos beber... E optámos por uma das propostas de wine pairing.

 

Não, não estava tudo decidido ainda, trouxeram-nos uns lápis e uns pequenos cartões, como os dos hotéis para pedir o pequeno almoço, e pediram-nos para preencher com tudo o que desejássemos para o nosso pequeno almoço.

 

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Não queríamos perder nada, queríamos maximizar a experiência, e combinámos pedir coisas diferentes... 

 

Tudo escolhido, estávamos prontos para começar a aventura! E a aventura, que correspondia a um dia de férias, começava na véspera, com a antecipação da viagem e do que estava para vir. E nós já tínhamos entrado no jogo...

 

 

1ª Foto DAQUI

6ª Foto DAQUI

 

 

11
Jun18

The Fat Duck - Ainda antes de lá chegar...

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Conheci o Heston Blumenthal em Maio de 2004, por acaso, na Sicília no 6th International Workshop of Molecular Gastronomy. O seu restaurante The Fat Duck tinha ganho poucos meses antes a 3ª estrela Michelin, mas eu não o conhecia e nunca tinha ouvido falar dele. Contudo, as suas intervenções e a forma como abordava os problemas despertaram a minha atenção.

 

 

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Quis conhecer mais... e no ano seguinte fui ao The Fat Duck, que nesse ano tinha alcançado o 1º lugar nos The World's 50 Best Restaurants. Nunca tinha estado num restaurante daquele nível e foi uma refeição marcante. Dois anos depois voltei lá, não teve o mesmo impacto, mas foi uma excelente refeição. Mas há 14 anos, desde que "descobri" o Heston Blumental, que é o chefe cujo trabalho mais admiro, a aproximação à cozinha que mais me fascina e interessa. Tenho-o acompanhado sempre, até porque há uma cadeira que dou em que algumas horas são dedicadas a estudar o seu trabalho.

 

Há uns anos vi o episódio Heston's Victorian Feast do programa de televisão Heston's Feasts. Fiquei fascinada com a Mock Turtle Soup, que descobri ter sido integrada no menu do The Fat Duck, e nesse dia disse: Tenho que voltar ao The Fat Duck para comer isto! Encontrei depois a receita, primeiro num jornal, depois num livro e há 8 anos que é leitura obrigatória para os meus alunos, e depois passamos 4 horas a discuti-la e analisá-la.

 

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Há umas semanas tornei o sonho realidade e voltei ao The Fat Duck. Uma visita a um restaurante destes não termina quando saio, era um desperdício. Há que reflectir sobre ela, analisá-la, registá-la. São esses registos, que vou partilhar aqui nos próximos dias. Vai ser longo, mas tem mesmo que ser, e só lê quem quer.

 

Vou começar pelo que se passou ainda antes do dia do almoço. Tentei marcar e descobri, como já referi aqui, que não era possível marcar para uma pessoa só, teria que pagar 2 refeições. Portanto primeiro houve que encontrar companhia. Não podia ser qualquer pessoa. Tinha que ser uma pessoa com quem eu gostasse de partilhar uma refeição, que conhecesse a cozinha do Heston Blumenthal e a apreciasse tanto quanto eu. Não parece tarefa simples, mas não foi impossível, de facto até foi muito fácil. Depois foi necessário encontrar uma data que desse para os dois, também se resolveu facilmente. Era depois necessário marcar. As marcações para o The Fat Duck são feitas online, e na primeira quarta feira de cada mês para todo o quarto mês a seguir, e começam ao meio-dia em ponto. Estive sentada em frente do computador para ao meio dia em ponto reservar. Consegui uma mesa para duas pessoas, mas 10 minutos depois já não havia nenhuma. Não importava, tinha a minha marcação.

 

Exatamente um mês antes do dia do almoço recebi um email do The Fat Duck com um link para responder a um questionário. Foi numa época atribulada, precisava de discutir as respostas com o meu companheiro de aventura, e fui adiando. Duas semanas antes da visita insistiram e rapidamente enviámos as nossas respostas ao seguinte questionário: 

 

In preparation for your visit to The Fat Duck

 

Have you ever noticed a child totally lost in their own world of imagination? 
As adults such moments are rare and often it takes a trigger – like a smell or food – to summon them. 
For me, a couple of those moments are getting a coffee and vanilla ice cream as a reward after trudging round the market with my grandma; and eating my first 3-star meal in the lavender-scented air of the south of France.
Such things have inspired me and my dishes here at The Fat Duck – dishes that I hope will evoke emotion and nostalgia and shared memories around the table. And so, in that spirit – and only if you wish to – I’d like you to share a couple of memories with us.

 

What makes you most feel ‘like a kid in a sweetshop’?

 

What nostalgic memory transports you totally ‘into the moment’ – a childhood holiday perhaps, or an adventure, or simply the perfect day…? And are there special sights, sounds, smells, flavours or objects that you associate with it?

 

Please list the full names of each of your guests below and any dietary requirements:

 

We would love to learn something special about each one of your guests. Please let us know if you would have information you would like to share:

 

Is this visit a special occasion?

 

Have you been to The Fat Duck before?

Yes

No

 

Is the meal a secret for one or more of your guests?

Yes - shhh!

No

 

Please let us know if anyone in your party is affected by any of the allergies listed below:

Celery and celeriac

Gluten

Crustaceans

Eggs

Fish

Shellfish

Lupin

Dairy

Molluscs

Mustard

Tree nuts

Peanuts

Soya

Sulphites

Sesame Seeds

Other

 

Let us know if anyone in your party has any of the dietary requirements listed below:

Vegan

Vegetarian

Pescatarian

Other

 

Please let us know how you'd prefer to be contacted:

Phone

Email

 

If you would rather talk on the phone (and why not? We like the personal touch), please tell us what would be the best time to call you:

Morning (between 9am-12pm UK Time)

Afternoon (between 12pm-5pm UK Time)

Other

 

Submit your answers

Your responses help us better prepare for your arrival. If you have questions or need to make an edit, please contact us. 

 

 

Questionário respondido, e respostas enviadas, só faltava esperar pelo grande dia!

 

 

Foto da Mock Turtle Soup DAQUI (não, a receita não é a que está neste site, esta é uma versão muito simplificada para fazer em casa)

 

08
Jun18

O que me diverti a ler o A Cooks's Tour do Anthony Bourdain... e as memórias que me trouxe agora...

 

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I learned, for the first time, that I could indeed look my food in the eyes before eating it - and I came away from the experience, I hope, with considerably more respect for what we call "the ingredient". I am more confirmed than ever in my love for pork, pork fat, and cured pork. And I am less likely to waste it. That's something I owe to the pork. I know now what a pork chop costs in terms of the living, breathing thing that was killed to supply it.

 

I'll always remember, as one does in moments of extremis, the tiny, innocuous details - the blanck expressions on the children's faces, the total lack of affect. They were farm kids who'd seen this before many times. They were used to the ebb and flow of life, its at-times-bloody passing. The look in their faces could barely be describes as interest. A passing bus or an ice-cream truck would probably have evoked more reaction.

 

And I'd seen an animal die. It changed me. I didn´t feel good about it. It was, in fact, unpleasant in the extreme. I felt guilty, a little bit ashamed. I felt bad for that pig, imagining his panic, pain, and fear. But he'd tasted delicious. We'd wasted maybe eight ounces of his total weight. 

It would be easier next time.

 

Anthony Bourdain em "A Cook's Tour" sobre uma experiência de uma matança do porco na quinta da família de José Meirelles

 

 

Também nunca mais me esqueci desta citação do mesmo livro:

 

For the first few months working with the guy (José Meirelles), it used to irritate me. What was I going to do with all that quince jelly and weird sheep's milk cheese? What the hell is Superbock beer? José would go into these fugue states, and the next thing you knew, I'd have buckets of salted codfish tongues soaking in my walk-in. You know how hard it is to sell codfish tongues on Park avenue?

 

O que me diverti a ler aquele livro, e sobretudo o capítulo sobre Portugal! Passaram bem uns 10 anos, mas ainda me lembro de numa tarde de Verão me rir imenso sozinha a ler o livro. E agora, ler as discussões no Forum da Nova Crítica, onde fui buscar estas citações, também me fez rir e sentir alguma nostalgia... não sou de ter saudades do tempo que passou, mas daquele tenho! Muitas...!!!

 

 

 

08
Jun18

Comida Livre - comida, e não só, e muita generosidade

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Desafiaram-me para ir ao evento Devoro-te do projecto Comida Livre, um projeto de Jessica Torres e Leandro Mesquita, dois cozinheiros brasileiros a trabalhar em Lisboa. Os objetivos do projeto são compartilhar alimentos, explorando sabores e texturas e valorizando o que cada lugar tem de melhor, mas sem ficarem presos a fronteiras. Neste evento - Devoro-te - a escolha foram ingredientes portugueses mas com uma abordagem contemporânea.

 

Contudo, o objetivo é mais vasto, pretendem que o momento da refeição, e a partilha de alimentos, seja um meio de gerar trocas de ideias e experiências e de envolver artistas atuais de diferentes áreas, dando-lhes visibilidade e espaço para projetarem a sua arte. 

 

O jantar foi no espaço da Cozinha Popular da Mouraria e à chegada, logo ali na zona da entrada, Gabriel Dutra desenhava umas linhas onduladas, enquanto íamos bebendo uma Bagaceira Sour, e tentando adivinhar o que era...

 

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Até que alguém que estava ao meu lado disse "é um polvo". Aí consegui visualizar o polvo, apesar de estar no início, mas cada vez foi ficando mais claro e mais bonito!

 

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Será que íamos comer polvo? Afinal, a comida era o que nos tinha atraído ali... Não foi o primeiro prato, mas o polvo chegou! 

 

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Polvo e Folhas

 

O polvo, com várias folhas verdes. Saboroso e bom, mas uma coisa que me chamou a atenção foi o tamanho das doses que tínhamos para partilhar. Muito generosas!

 

Mas voltando atrás, com o primeiro prato aconteceu-me uma coisa engraçada. Uma daquelas situações em que o cérebro nos prega partidas... Li no menu que estava sobre a mesa o que ia comer:

 

Morango, Queijo de Ovelha e Orégãos

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Meti a primeira colher na boca e a sensação foi de que estava a comer algo completamente inesperado, que não correspondia à minha expectativa. De facto, esta tinha sido gerada não pelo que li, mas pelo que via. E o que via remetia-me para uma sopa de tomate, o queijo de ovelha e os orégãos também... A sopa era boa, mas o mais divertido foi este momento de confusão e surpresa que me proporcionou.

 

Os vinhos servidos foram da Quinta do Vallado, com a apresentação das suas características e da razão da escolha para acompanhar cada prato por Cláudio Santos.  E com a sopa foi servido um Rosé Vallado Touriga Nacional 2017, que também acompanhou o polvo e o prato seguinte que foi para mim o melhor prato da noite:

 

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Mexilhão, Pimentos e Carvão

 

Eu não sou particular adepta do sabor fumado, não o associaria aos mexilhões, mas aqui estava na conta certa e levava os mexilhões para outro nível. Adorei! E como todas as doses, estas também eram generosas, comi mais  e mais, era impossível resistir. Foram os melhores mexilhões que comi na minha vida!

 

Com o Carapau e Laranja chegou o vinho seguinte, o Branco Vallado Douro 2017,  que também acompanhou o prato de migas:

 

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Migas, Grelos e Ovo

 

Já tinha referido que as doses eram generosas? Pois continuaram a ser na generalidade dos pratos ... Muito boas as migas, deliciosas!

Veio de seguida  Queijo Serra da Estrela e Hortelã, e ainda Porco, Lula e Poejo.

 

O 3º vinho da noite,  o Tinto Vallado Douro 2016, chegou para acompanhar o último prato salgado:

 

Bochecha, Maçã e Nabo 

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A sala cheia, um ambiente muito animado, boa comida em doses generosas... estaria alguém a pensar ir embora? Não fosse isso acontecer, o que surgia no menu no espaço da sobremesa aconselhava-nos a esperar - Fica, Vai Ter Bolo...

 

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E o bolo chegou! Em doses muito generosas... nada de fatias, vários bolos inteiros por mesa - bolos de chocolate - e jarros de creme inglês. E com eles chegaram também as garrafas de Quinta do Vallado Porto LBV 2013. 

 

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E como se isso não bastasse, Fabíola Emendabili presenteou-nos com suas canções, que nos fizeram terminar o jantar em beleza.

 

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Já era tarde quando saímos, se me perguntassem uma palavra para descrever o jantar seria Generosidade, não só na comida, mas na dedicação e empenho de todos os que contribuíram para tornar a noite especial. 

 

 

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