Comida Livre - comida, e não só, e muita generosidade
Desafiaram-me para ir ao evento Devoro-te do projecto Comida Livre, um projeto de Jessica Torres e Leandro Mesquita, dois cozinheiros brasileiros a trabalhar em Lisboa. Os objetivos do projeto são compartilhar alimentos, explorando sabores e texturas e valorizando o que cada lugar tem de melhor, mas sem ficarem presos a fronteiras. Neste evento - Devoro-te - a escolha foram ingredientes portugueses mas com uma abordagem contemporânea.
Contudo, o objetivo é mais vasto, pretendem que o momento da refeição, e a partilha de alimentos, seja um meio de gerar trocas de ideias e experiências e de envolver artistas atuais de diferentes áreas, dando-lhes visibilidade e espaço para projetarem a sua arte.
O jantar foi no espaço da Cozinha Popular da Mouraria e à chegada, logo ali na zona da entrada, Gabriel Dutra desenhava umas linhas onduladas, enquanto íamos bebendo uma Bagaceira Sour, e tentando adivinhar o que era...
Até que alguém que estava ao meu lado disse "é um polvo". Aí consegui visualizar o polvo, apesar de estar no início, mas cada vez foi ficando mais claro e mais bonito!
Será que íamos comer polvo? Afinal, a comida era o que nos tinha atraído ali... Não foi o primeiro prato, mas o polvo chegou!
Polvo e Folhas
O polvo, com várias folhas verdes. Saboroso e bom, mas uma coisa que me chamou a atenção foi o tamanho das doses que tínhamos para partilhar. Muito generosas!
Mas voltando atrás, com o primeiro prato aconteceu-me uma coisa engraçada. Uma daquelas situações em que o cérebro nos prega partidas... Li no menu que estava sobre a mesa o que ia comer:
Morango, Queijo de Ovelha e Orégãos
Meti a primeira colher na boca e a sensação foi de que estava a comer algo completamente inesperado, que não correspondia à minha expectativa. De facto, esta tinha sido gerada não pelo que li, mas pelo que via. E o que via remetia-me para uma sopa de tomate, o queijo de ovelha e os orégãos também... A sopa era boa, mas o mais divertido foi este momento de confusão e surpresa que me proporcionou.
Os vinhos servidos foram da Quinta do Vallado, com a apresentação das suas características e da razão da escolha para acompanhar cada prato por Cláudio Santos. E com a sopa foi servido um Rosé Vallado Touriga Nacional 2017, que também acompanhou o polvo e o prato seguinte que foi para mim o melhor prato da noite:
Mexilhão, Pimentos e Carvão
Eu não sou particular adepta do sabor fumado, não o associaria aos mexilhões, mas aqui estava na conta certa e levava os mexilhões para outro nível. Adorei! E como todas as doses, estas também eram generosas, comi mais e mais, era impossível resistir. Foram os melhores mexilhões que comi na minha vida!
Com o Carapau e Laranja chegou o vinho seguinte, o Branco Vallado Douro 2017, que também acompanhou o prato de migas:
Migas, Grelos e Ovo
Já tinha referido que as doses eram generosas? Pois continuaram a ser na generalidade dos pratos ... Muito boas as migas, deliciosas!
Veio de seguida Queijo Serra da Estrela e Hortelã, e ainda Porco, Lula e Poejo.
O 3º vinho da noite, o Tinto Vallado Douro 2016, chegou para acompanhar o último prato salgado:
Bochecha, Maçã e Nabo
A sala cheia, um ambiente muito animado, boa comida em doses generosas... estaria alguém a pensar ir embora? Não fosse isso acontecer, o que surgia no menu no espaço da sobremesa aconselhava-nos a esperar - Fica, Vai Ter Bolo...
E o bolo chegou! Em doses muito generosas... nada de fatias, vários bolos inteiros por mesa - bolos de chocolate - e jarros de creme inglês. E com eles chegaram também as garrafas de Quinta do Vallado Porto LBV 2013.
E como se isso não bastasse, Fabíola Emendabili presenteou-nos com suas canções, que nos fizeram terminar o jantar em beleza.
Já era tarde quando saímos, se me perguntassem uma palavra para descrever o jantar seria Generosidade, não só na comida, mas na dedicação e empenho de todos os que contribuíram para tornar a noite especial.