100% Chocolate e uma Raposa
Tenho passado a noite às voltas com dois chocolates 100%. Lembro-me da primeira vez que meti na boca um quadrado de um chocolate 100%, achei intragável. Hoje provo-os com grande prazer (um mais do que outro, pena ser tão pequeno), e sobretudo fascinada com as grandes diferenças entre eles.
Um, com cacau da Venezuela, muito cremoso na boca, com notas de frutos secos, mas mais amargo. O outro, com cacau de Madagáscar, muito frutado, por vezes dá a sensação de ser levemente doce, mas também intenso.
Acho que com algum treino deixava de sentir a falta do açúcar no chocolate, desde que ele fosse muito bom. Enquanto os vou provando e alternando, tenho estado a pensar como as minhas referências, no que respeita a chocolate mudaram nos últimos três meses. Lembrei-me de uma vez ter ouvido o Ferran Adrià dizer que tinha ido a Moscovo e lá tinha comido um caviar de grande qualidade, e que com esta referência, todas as experiências anteriores com caviar tiveram que ser re-contextualizadas. Também foi isto que me aconteceu com o chocolate.
Claro que já tinha comido bons chocolates, mas o facto de ter a subscrição mensal dos Cocoa Runners, e a possibilidade de lhes comprar outros chocolates, tem sido excelente e têm-me dado oportunidade de provar e comparar chocolates espantosos e alguns muito originais. Quando subscrevi, imaginei que seria por uns meses. Agora, não me imagino sem esperar ansiosamente pela caixa com quatro tabletes de chocolate que chega pelo correio uma vez por mês.
Enquanto estava às voltas com os chocolates fui à janela, do outro lado da rua, passeava uma raposa. De vez em quando à noite vejo-as por aqui. Também uma nova descoberta. Nunca tinha visto raposas na rua num espaço urbano.