Os primeiros caracóis deste ano
Estes foram os primeiros caracóis deste ano. Chega a esta altura do ano e começam a aparecer os letreiros a dizer "Há caracóis!". E tenho mesmo que os ir comer. É também a época do ano em que mais vou ao mercado - comprar caracóis para os cozinhar. O amor pelos caracóis começou cedo. A minha Mãe era do Algarve, e portanto na família dela era hábito comer caracóis, já a do meu Pai era da Beira Baixa, onde vivíamos, e lá não se comiam caracóis, nem havia.
No Verão vínhamos para a praia, para Oeiras, tínhamos uma casa em Nova Oeiras e íamos a pé para a praia de Santo Amaro. A minha Mãe e 6 crianças, o meu Pai só vinha ao fim de semana, às vezes íamos também com mais 5 primos e uma tia. Era uma festa. No regresso o ritual era sempre o mesmo, balde na mão e olhos atentos para apanhar caracóis. Chegávamos a casa e iam para uma caixa coberta com uma rede, para jejuarem e esperarem que lhes trouxéssemos mais companheiros. Depois havia um dia em que a minha Mãe os cozinhava e os comíamos. A memória que tenho era de um momento de cumplicidade, algo que era um ritual apenas da minha Mãe e nosso. Mais tarde, as memórias são dos pratos de caracóis, retirados com um pico de piteira, num dos quiosques do jardim em Portimão. E ainda depois em casa da minha irmã Isabel, comidos no quintal com as crianças.
Muitas memórias boas associadas aos caracóis. Talvez por isso os espere sempre com alguma ansiedade. Ainda agora estão a começar a surgir os letreiros, mas há dias ia de carro com a minha filha mais velha e em Campolide passámos em frente à Casa dos Caracóis. Impossível passar despercebida, de facto não é nada discreta.
"Queres ir?" perguntou ela (que não come caracóis). "Não, deixa estar." respondi eu. Não sei se fui pouco convincente, porque ela fez inversão de marcha para me levar lá.
Um espaço recente, moderno, enorme, dedicado aos caracóis e ao que os acompanha. Apenas para take-away, cozinhados ou não.
Panelas enormes a fumegar. Pedi uma dose das mais pequenas. Adorei a pergunta que me fizeram: "Apenas dos pequenos, ou quer que meta umas caracoletas?". Claro que queria! As caracoletas eram sempre em muito menor quantidade, e eram quase um prémio. Aqui podia ter um prémio mais avantajado!
A Casa dos Caracóis está aberta de abril a setembro e, tanto quanto descobri depois, é propriedade de um importador e distribuidor de caracóis.
Pena raramente passar por ali...