Ada / Ava e Haggis
Há Assins & Assados que mudam os dias. E quando algo supera muito as nossas expectativas é fantástico. Aconteceu há dias. Estava na Escócia, não muito longe de Edimburgo. O Edinburgh Festival Fringe, o maior festival de artes do mundo, estava a começar e decidimos (a minha filha mais velha e eu) ir lá passar um dia.
Na véspera à noite escolhemos dois espectáculos. Considerando o que ainda não tinha lotação esgotada e os nossos horários, havia meia dúzia de hipóteses e decidimos-nos pelo The Inevitable Heartbreak of Gavin Plimsole, em que tínhamos que usar um aparelho que media o ritmo cardíaco e era o ritmo cardíaco global da sala, ou de algumas pessoas em particular, que definiam o curso do espectáculo, e o ADA / AVA um teatro de sombras. Pouco mais sabia dos espectáculos. Original e interessante o primeiro, mas o melhor estava para vir...
Entrámos na sala e à frente cerca de uma dezena de pessoas. Entre elas alguns músicos e duas mulheres que ali, frente a nós, se preparavam para actuar colocando umas estranhas máscaras e cabeleiras. E ainda 4 retroprojectores (daqueles que muito usei para dar aulas quando se usavam acetatos). Depois começou o espectáculo mais extraordinário que vi nos últimos tempos. AVA e ADA eram duas irmãs gémeas septuagenárias (daí as máscaras, o perfil tinha que ser idêntico) que sempre viveram juntas, até que AVA morreu e ADA teve que adaptar a sua vida a esta nova situação. Uma visita a uma feira de diversões, e em particular a um labirinto de espelhos, leva-a a fazer uma viagem através dos limiares de vida e morte. Neste percurso o fantástico e sobrenatural são usados para expressar o luto e melancolia. Um espectáculo de um grupo de Chicago o Manual Cinema, que pela primeira vez actuava na Europa.
Usam centenas de pequenas figuras de cartão ou acetato, os quatro retroprojectores e as mãos, combinados com a actuação ao vivo, uma banda sonora, mas também música ao vivo. Tudo é feito ali à nossa frente, de forma que podemos testemunhar o resultado final, mas também a sua execução. Com isto criam um espectáculo extremamente original, um espectáculo fantástico que nos deixa presos durante uma hora. É um espanto o que produzem com aqueles meios tão simples. É um espanto poder assistir à forma como o fazem, simultaneamente com o resultado final.
No final convidam-nos ainda a ir ao palco, ver tudo, esclarecer dúvidas, mexer nos pequenas figuras... Brilhante! Uma pequena amostra aqui:
Antes dos espectáculos tomámos um pequeno almoço tardio. Um pequeno almoço escocês no Arcade - Haggis & Whisky House, queríamos comer haggis, uma espécie de enchido escocês contendo miúdos de ovelha (coração, figado e pulmões) picados e misturados com cebola, farinha de aveia, gordura e um caldo, e temperados com especiarias e sal. Tradicionalmente este recheio é colocado dentro de um estômago inteiro de ovelha, mas agora muitas vezes num invólucro artificial (como acontece com os nossos maranhos). Já conhecia, já sabia que gostava, é que é mesmo muito bom! É isto que me fascina na cozinha, como se transformam ingredientes simples, e muitas vezes sem grande interesse por si só, em produtos excelentes. Comemos os haggis como parte de um pequeno almoço escocês, servido na própria frigideira, e ainda nos Eggs Ben Nevis - ovos escalfados e haggis sobre uma torrada com molho holandês.
Depois dos espectáculos um passeio pelas lindíssimas ruas de Edimburgo.
Antes de regressar uns scones com doce de morango e clotted cream, enquanto víamos o intenso movimento na rua através desta janela.
De facto um dia repleto de óptimos Assins & Assados!
1ª Foto DAQUI
4ª Foto DAQUI
5ª Foto DAQUI